Experiência do colaborador Z: três aspetos críticos para proporcionar uma boa experiência
Por Isabel Moço, coordenadora e professora da Universidade Europeia
A coabitação de três gerações no espaço de trabalho traz grandes desafios à gestão das pessoas, e disso já todos estamos muito conscientes – capacitados para o gerir, talvez ainda não, mas o realismo exige que o percebamos e tentemos enquadrar. Cada vez com menos Baby Boomers, os contingentes cada vez se compõem mais de X’s, Y’s ou millenials e cada vez mais de Z’s ou pós-millenial, iGeneration, plurais ou centenials (só pela quantidade de denominações que tentam agregar estilos de vida, se vê já a complexidade). E é nestes últimos que estão grande parte das nossas preocupações, sobretudo porque são os mais recentes, mas também porque trazem posturas, atitudes e exigências diferentes. Então como lhes proporcionar uma boa experiência? O que nos exigem e procuram com o trabalho?
A internet, as tecnologias, os devices e os gadgets fazem parte do seu ADN, vincando atitudes e determinando comportamentos, educação, redes e socialização. Cidadãos do mundo global, são caracterizados por um misto de redes interpessoais digitais e socialização “descomprometida e intensa”, os Z’s mobilizam-se por causas e valores, são multitask, recetivos às vozes que o próprio mundo digital promove (influencers), pragmáticos e focados nas suas prioridades e sobretudo imediatistas – se é para ser, “pois que seja agora” quer nas apostas que fazem, quer mesmo nas recompensas que procuram. Autodidatas, mas exigentes no que consideram os seus direitos e vontades, são pouco de insistir, recomeçar, tentar e persistir, e vivem com a noção de que tudo o que precisam se acede com dois dedos e três cliques, sendo-lhes difícil imaginar uma sociedade, um mundo, sem conexões e informação global. Para esta geração, o percurso profissional é o conjunto de experiências que consigam colecionar, sendo muito sensíveis à inovação, acomodando facilmente a obsolescência e procurando sempre o enriquecimento pessoal. Valorizam a frontalidade e a transparência e expõem-se mais em fragilidades, princípios, valores e espontaneidade. Por todas estas razões, e sobretudo por elas, nem todos os empregadores lhes servem e, em conjuntura de escassez de recursos, é determinante que os compreendamos, acolhamos e saibamos corresponder às suas necessidade e expectativas, não sejam eles a grande “massa” do futuro próximo – dar-lhe, portanto, uma extraordinária experiência se temos o privilégio de os ter na nossa organização – sim, porque uma das suas principais características é “questionar o status quo” e “perguntar”, e essa atitude de desinstalar é hoje crítica para qualquer organização que dependa de criatividade, inovação ou novas soluções.
Há três aspetos críticos para proporcionar uma boa experiência aos Z’s:
- Conhecer muito bem os aspetos essenciais a que os Z’s dão importância quando escolhem um empregador, um projeto, um emprego. Naturalmente que estas expectativas têm de ser cruzadas com o setor de atividade, o negócio e o posto de trabalho em si, mas dessa análise haverá de resultar uma matriz que servirá não só para atrair, mas também para captar e acolher. Atenção, não defraudar as expectativas que se criam, pois os Z’s são implacáveis a denunciá-las;
- O uso da tecnologia e a tipologia dos dispositivos e redes colocados à sua disposição, é importante, pois caracterizam e permitem tangibilizar a experiência digital. Tantos, por exemplo, na necessidade de ter um portátil para o estagiário, desenrascam o “velho portátil” que já ninguém usa, e por vezes, assentes na antiguidade, atribuem a um outro colaborador o “último modelo”, quando este nem consegue perceber metade das potencialidades;
- A entrada dos Z’s numa organização tem necessariamente de impactar nas práticas, por exemplo ao nível da diversidade e da inclusão – por vezes, como toda a comunidade hoje refere que estes são domínios importantes da vida das empresas, adotam no discurso, mas na prática nem percebem bem porque o fazem e a cultura da empresa pode matar todas estas “boas vontades”, porque os Z’s exigem – de facto – que se pratique. Ou não ficarão;
Muito se poderia explorar se queremos de facto os Z’s, porque precisar, precisamos, não há dúvida, a bem do desenvolvimento e crescimento das organizações. Pergunte-se: a minha organização está realmente consciente dos desafios trazidos por esta geração e capacitada para os enfrentar?