Siemens: Uma boa estratégia de bem-estar faz a diferença na “guerra pelos talentos”
A Siemens ouve as necessidades dos colaboradores e a preocupação recai sobre a pessoa e não apenas sobre o profissional.
Com mais de 3000 colaboradores e cerca de 300 contratações por ano, a Siemens Portugal aposta numa forte estratégia de Gestão de Pessoas assente no bem-estar físico e psicológico. Para Pedro Henriques, director de Recursos Humanos da Siemens Portugal, tal contribui não só para a resiliência e relevância dos colaboradores, mas também para fazer da Siemens um empregador atractivo num mercado cada vez mais competitivo.
Qual a abordagem da Siemens ao tema do well-being dos seus colaboradores?
O bem-estar físico e psicológico dos nossos colaboradores é uma das principais prioridades do Grupo Siemens em Portugal. Já o era antes da pandemia, mas esta preocupação ficou sem dúvida reforçada pelas consequências deste período desafiante. É uma das áreas que estamos constantemente a reforçar, com o intuito de contribuir para a resiliência e relevância das pessoas, reter os nossos talentos, ser um empregador atractivo e reforçar a competitividade e o valor acrescentado da empresa. As áreas a intervir são identificadas através de uma escuta activa das nossas pessoas, que é feita, por exemplo, através de inquéritos regulares ou de town hall meetings e incluem temas como saúde mental e física, equilíbrio entre vida pessoal-profissional, estilos de vida saudáveis, etc.
As iniciativas mais recentes contribuíram para a melhoria da classificação no Randstad Employer Brand Research 2022, em que a Siemens foi eleita a sexta empresa mais atractiva para trabalhar em Portugal, acima da 15.ª posição alcançada em 2021. Foi também uma das empresas vencedoras do prémio Healthy Workplaces 2022, da Ordem dos Psicólogos Portugueses, na dimensão grandes empresas, o que mostra que temos o foco certo.
Que objectivos se pretendem atingir com uma estratégia de well-being?
Os objectivos são sempre os mesmos: ajudar as nossas pessoas a encontrar a motivação, o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, a flexibilidade e a autonomia que precisam para dar o melhor de si. A estratégia de well-being é importante para a retenção de talento, mas também para a contratação de novos colaboradores. As medidas implementadas nesta área fazem a diferença na “guerra pelos talentos” que se vive actualmente em Portugal, especialmente na área das Tecnologias de Informação, dando-nos uma vantagem competitiva enquanto empregadores. No final do dia, o objectivo é alcançar um ambiente de trabalho diverso, equitativo e inclusivo, onde cada colaborador se sinta bem-vindo, respeitado, valorizado e capaz de contribuir com o máximo das suas potencialidades, independentemente das hierarquias.
Quais são os princípios orientadores desta estratégia na Siemens Portugal?
A nível global, a empresa tem quatro prioridades estratégicas definidas (Customer Impact; Technology with Purpose; Growth Mindset; e Empowered People); e um framework de sustentabilidade, chamado DEGREE, totalmente em linha com os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, nomeadamente com o ODS3: promoção da saúde e do bem-estar.
Entre os princípios orientadores do novo enquadramento DEGREE (Descarbonização, Ética, Governação, Eficiência de Recursos, Equidade e Empregabilidade) está a promoção da diversidade, a inclusão e o desenvolvimento comunitário para criar um sentido de pertença e contribuir para a resiliência e relevância dos colaboradores numa economia em permanente mudança.
Neste âmbito, temos também implementado um programa abrangente de Segurança e Saúde no Trabalho que visa contribuir para que a organização seja cada vez mais resiliente. Ou seja, através da promoção do bem-estar das nossas pessoas, este programa contribui para que a empresa tenha uma melhor capacidade para lidar com mudanças repentinas. Com a resiliência organizacional como marco orientador, a intervenção nesta área foi alargada, promovendo não apenas a saúde física, mas também a mental e não apenas a segurança física, mas também a psicológica dos nossos colaboradores. E isso faz toda a diferença.
Um dos principais pilares deste programa é o Healthy and Safe @ Siemens, que visa capacitar os colaboradores a liderar melhor, a aprender uns com os outros, a promover o bem-estar e inovar na saúde e na segurança no trabalho. Acreditamos que cada pessoa, com seus próprios talentos, individualidade, habilidades e experiência, pode fazer a diferença na criação de um local de trabalho saudável e seguro.
Que programas ou iniciativas existem na Siemens com o objectivo de promover o bem-estar dos colaboradores?
Entre as mais recentes estão as hortas biológicas das nossas instalações em Alfragide, mantidas por colaboradores voluntários e cuja produção se destina a instituições de solidariedade. Têm um papel interessante na promoção de um estilo de vida saudável, da sustentabilidade e da biodiversidade.
Com o progressivo controlo da pandemia, retomámos várias práticas desportivas, nomeadamente as aulas no ginásio nas instalações em Alfragide. Além disso, a Siemens Portugal tem uma parceria com uma cadeia de ginásios e suporta parte da mensalidade dos colaboradores que queiram usufruir deste serviço. Alguns edifícios contam com espaços para diversão e pausas para convívio e, no exterior, existem espaços para refeições ou reuniões, promotores da colaboração em ambientes informais e mais descontraídos.
Muitos colaboradores são também sócios do Centro de Cultura e Desporto (CCD) da Siemens, o qual participou em diversas competições distritais e nacionais. Estas iniciativas, além de promoverem o bem-estar, promovem a interacção entre colegas de diferentes áreas da empresa.
Temos também uma newsletter mensal dedicada ao well-being, com rubricas sobre meditação & mindfulness, actividade física, nutrição, entre outras.
Por fim, apesar de ainda numa fase piloto, foi retomado o shuttle bus, um serviço gratuito de transporte para as instalações em Alfragide, a partir de três zonas em Lisboa.
Qual o feedback dos colaboradores e como é medido o sucesso destas iniciativas?
Na Siemens procuramos ouvir realmente os nossos colaboradores para perceber quais as suas necessidades e preocupamo-nos com a pessoa e não só com o profissional. Perante esse feedback, damos respostas sustentadas através de pacotes de benefícios mais abrangentes, flexibilidade horária, bem como um maior foco no bem-estar e no equilíbrio pessoal e profissional. Fazemo-lo através de inquéritos regulares e da realização de town halls, workshops, webinars e Growth Talks (conversas individuais entre colaborador e chefia), em que todos são convidados a colocar questões e a partilhar a opinião sobre os mais diversos temas. Em Junho, por exemplo, lançámos o Healthy & Safe Quick Scan, cujos resultados serão essenciais para entender as necessidades actuais das nossas equipas, definir novas áreas de intervenção e avaliar a pertinência e adesão das medidas em curso. Muitas das iniciativas já implementadas são fruto de sugestões feitas pelos próprios colaboradores.
Das iniciativas e benefícios existentes, quais aqueles a que os colaboradores atribuem maior valor e porquê?
Variam consoante os seus interesses e as suas necessidades. Um colaborador jovem, recém-chegado, tem prioridades muito distintas de um colaborador que já está connosco há alguns anos e que tem, por exemplo, uma família constituída. Mas existem alguns benefícios mais “consensuais” e apreciados por todos.
É o caso dos postos médicos nas instalações da Siemens – onde se podem agendar consultas, pedir análises e exames –, o seguro de saúde (extensível ao agregado familiar a um preço reduzido, e cujo primeiro ano é oferecido aos bebés dos colaboradores), as três consultas de psicologia gratuitas, e a campanha de vacinação gratuita contra a gripe sazonal. Os benefícios financeiros de longo prazo também são bastante utilizados: a possibilidade de receber uma acção da Siemens após a compra de três (Share Matching Program) e um plano de pensões com descontos mensais que geram uma contribuição da Siemens no mesmo valor.
Numa altura em que existe uma lógica de modelos de trabalho híbridos, como é abordado o tema do well-being quando os colaboradores não estão a trabalhar nos espaços da empresa?
Há seis anos que o teletrabalho é uma realidade na Siemens Portugal, em que já era dada a possibilidade às nossas pessoas de trabalharem até dois dias por semana em casa. Neste momento, é possível estar em teletrabalho sem limite pré-definido de dias na semana, acordado previamente entre o colaborador e a chefia. Contudo, a nossa recomendação é que estejam no máximo dois a três dias por semana em teletrabalho. A excepção são aqueles cujas funções requerem presença física permanente ou parcial nas instalações ou nos projectos dos seus clientes. A palavra-chave é flexibilidade, com responsabilidade.
A Siemens Portugal também já começou a dar um apoio monetário mensal ao teletrabalho aos colaboradores, em linha com a lei em vigor, para ajudar a fazer face aos custos adicionais. É de recordar ainda que a Siemens deu (e continuará a dar aos novos colaboradores) um apoio de 250 euros a todos os colaboradores para aquisição de material de escritório e equipamentos informáticos, melhorando o conforto do teletrabalho.
A forma como lideramos, gerimos e colaboramos mudou significativamente nos últimos anos. E os principais factores que tornaram isso possível foram a confiança, a empatia e o respeito. A título de exemplo, na Siemens procuramos também respeitar os horários dos colaboradores, evitando marcar reuniões em horas críticas da vida familiar.
O well-being tem uma estratégia global na Siemens? Como é implementado de forma transversal às diversas geografias onde a empresa está presente?
Sim, a estratégia é global, embora as medidas específicas tenham em consideração as necessidades e as características dos colaboradores de cada país. Em Portugal temos 61 nacionalidades e 26 línguas faladas. Temos pessoas a trabalhar em casa, nos escritórios ou em ambiente fabril; nas áreas mais tradicionais de engenharia em projectos de energia, infra-estruturas ou industriais e outras em centros de serviços partilhados e de tecnologias de informação que colaboram com todo o mundo Siemens. Tudo isto é tido em consideração quando as medidas são definidas e implementadas.
Com o mundo em constante evolução, a empresa avalia e revê regularmente o seu pacote de iniciativas e benefícios, garantindo assim que continua a contribuir adequadamente para o bem-estar social, físico, mental e financeiro dos seus colaboradores.
Que desafios a área do well-being apresenta aos Recursos Humanos?
Na Siemens, o well-being não é exclusivo dos Recursos Humanos. Existem outras áreas que se dedicam a este tema, como é o caso do departamento de Environment, Health and Safety (EHS). O impacto da pandemia e do teletrabalho mais frequente tornou a saúde mental num dos principais focos de qualquer equipa que se dedique a esta temática do bem-estar e as respostas têm de vir de toda a organização. Na Siemens, a atenção especial a esse tema é constante e reflecte-se em diversas iniciativas, como é o caso de três consultas de psicologia gratuitas e workshops regulares sobre temas como o sono, gestão do stress e ansiedade, nutrição, etc. Muitos dos workshops e webinars são direccionados para as chefias – para as apoiar na gestão das equipas e sensibilizá-las a estarem atentas a sinais que indiquem que alguma das suas pessoas possa estar menos bem. Pessoas saudáveis e felizes são mais produtivas e motivadas a crescer connosco!
Qual é o impacto deste tema na área de negócio?
O bem-estar dos trabalhadores tem impacto na sua motivação e na sua produtividade, logo poderá influenciar os resultados e o desempenho de uma determinada equipa. Sendo bem implementadas, estas iniciativas podem reforçar a competitividade da empresa e diferenciar-nos face a alguns concorrentes. Tudo o que é feito nesta área contribui para que a organização seja mais resiliente e não haja disrupções no negócio. Daí ser tão importante ouvir os colaboradores e trabalhar em conjunto com eles.
O Healthy and Safe @ Siemens tem cinco princípios fundamentais: garantimos o nosso bem-estar e o bem-estar dos outros; damos a nossa opinião e contribuímos para tornar o local de trabalho mais saudável e seguro; somos inclusivos e procuramos ter diversos pontos de vista sobre saúde e segurança; queremos aprender e partilhar informações sobre como podemos trabalhar melhor, de forma mais segura e saudável; estamos preparados e adaptamo-nos às diferentes circunstâncias.
De que forma considera que esta área de well-being poderá ser desenvolvida, no futuro próximo, na Siemens?
O programa corporativo Healthy and Safe @ Siemens incide essencialmente em quatro pilares: envolver a liderança nos temas de saúde e segurança, promover um ambiente de trabalho positivo, aprimorar a formação em saúde e segurança e adaptar processos e recursos. Estes pilares estão integrados com o New Working Model, com o objectivo de promover o bem-estar dos colaboradores e um desempenho sustentável. No futuro, o foco manter-se-á aí: assegurar o bem-estar das pessoas nesta nova forma híbrida e dinâmica de trabalhar, procurando sempre o balanço óptimo entre o bem-estar físico e o bem-estar psicológico e emocional, entre a vida pessoal, familiar e profissional e criando as condições para que as pessoas o consigam alcançar.
E quais são as grandes tendências em termos globais?
No que respeita ao well-being, os desafios continuarão em crescendo nos próximos tempos, daí a importância de capacitarmos as pessoas para promoverem o seu bem-estar físico e mental e o dos outros, contribuindo, assim, para se manterem resilientes e relevantes.
Este artigo faz parte do Caderno Especial “Well-Being” publicado na edição de Julho (n.º 140) da Human Resources.
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