José Ramos, presidente e CEO da Toyota Caetano Portugal: «Sou o exemplo do ditado “trabalhar dá saúde”»

Aos 22 anos, entrou para o Grupo Salvador Caetano e nunca mais de lá saiu. Hoje, mais de cinco décadas volvidas, está à frente da Toyota Caetano Portugal e considera-se o exemplo vivo do ditado “trabalhar dá saúde”. A caminho dos 77 anos, não pensa abrandar o ritmo e revela o segredo do seu sucesso: «a ligação e partilha com as pessoas».

 

Por Tânia Reis

 

José Ramos lidera uma organização preparada para um futuro em que, acredita, «quem vai mandar são os clientes e o mercado». Na Toyota, o modelo de teletrabalho está implementado e é valorizado pelos colaboradores mais jovens, mas o responsável defende que «as ligações interpessoais só florescem de forma presencial». Numa conversa franca e sem rodeios, recorda do passado as duas pessoas que mais o marcaram, tanto a nível pessoal como profissional: o seu avô materno e Salvador Caetano, o líder visionário a quem chamava de pai e com quem aprendeu a construir um grupo onde “Ser Caetano”, inspirado na cultura “Toyota Way”, tem como pilar mais importante o respeito pelas pessoas. Se pudesse voltar atrás no tempo, fazia exactamente tudo de novo. E daqui a cinco anos imagina-se no local onde se sente feliz… na empresa, claro.

 

O Grupo Salvador Caetano faz parte da identidade da região Norte. Como se constroem 75 anos de sucesso, nacional e internacional, a partir de uma simples fábrica de autocarros criada em 1946?
O principal impulsionador desse sucesso foi o senhor Salvador Caetano, um visionário que estava sempre à procura de novos projectos e de novas oportunidades. Tudo se deve a ele e à forma como começou, vai fazer agora 77 anos. Não esqueçamos que foi também um visionário no desenvolvimento da indústria dos autocarros, já que as estruturas eram inicialmente em madeira e passaram a ser metálicas. A empresa foi crescendo, e foi em 1968 que entrámos no sector automóvel propriamente dito, com a representação da Toyota.

 

E foi precisamente nesse ano que entrou para a Salvador Caetano, tinha na altura 22 anos, como um trabalhador normal na fábrica de autocarros, hoje a Caetano Bus. Que percepção teve sobre a cultura da empresa?
Na altura, o que me chamou a atenção foi a preocupação constante com as pessoas. E esse tem sido o principal pilar da empresa. E repare que, quando falo das pessoas, refiro-me aos trabalhadores em si, aos clientes e aos fornecedores. Um outro aspecto importante, e que está directamente relacionado com o sucesso do grupo, foi a política de partilha. Procuramos e incentivamos que haja partilha entre os trabalhadores, que se crie uma amizade, independentemente das hierarquias. Fazemos o mesmo com os clientes, para que as nossas políticas vão ao encontro das suas expectativas, e também com os nossos fornecedores, para que sintam as nossas necessidades. Ao partilharmos o nosso know-how, aprendemos com eles, promovendo um conhecimento circular. Creio que essa é a principal razão do sucesso do grupo.

 

Sentiu de imediato essa ligação e esse envolvimento com as pessoas…
Sim, mas comparando com os dias de hoje há uma grande diferença. Na altura, fui eu que fiz o meu plano de carreira. Procurei sempre passar por todos os sectores, como trabalhador, aprendi muito com a chefia, e mais tarde, aqueles que foram meus chefes, passaram a ser meus subordinados. Isso deu-me, permita-me o termo, “bastante gozo”, porque quando era subordinado sentia que ficavam um bocado acanhados, porque já aí eu os avaliava enquanto líderes. Esse percurso foi muito útil, aprendi imenso e ainda hoje dou valor a isso. Numa óptica de atracção e fidelização de talento, procuramos que todos – trabalhadores, clientes e fornecedores – se transformem em nossos embaixadores.

 

Sete anos, depois integrava a administração da empresa e, em 1986, assumia o cargo de vice-presidente da Salvador Caetano – IMVT. Como era a sua forma de liderar na altura?
Procurei pôr em prática toda a aprendizagem que tive com as chefias anteriores, seleccionando o que considerei importante e melhorando sempre. Liderar não é algo que se leia e aprenda num livro. É um processo que se vai construindo ao longo da vida, tal como acontece quando somos crianças, a vida é um conjunto de experiências e conhecimento.

Na empresa, temos o cuidado de incutir nas pessoas não terem medo de errar, queremos que tenham iniciativa, sem receios, e partilhem com as chefias, que devem estar preparadas para acolher “a arte de falhar”. Só assim as empresas podem crescer.

 

Que principais marcos destaca nos primeiros 18 anos na empresa?
Continuo a dizer que foi a amizade que criei com as pessoas. Uma das coisas que sempre procurei foi criar uma ligação com os trabalhadores, porque é natural que me vissem como um polícia, que depois ia fazer “queixa ao patrão”, mas nunca o fiz, e esse clima de confiança perdura até hoje.

Um chefe deve estar disponível para acolher e fomentar um ambiente familiar, em que podemos conversar e dizer o que pensamos, e só assim se cria um ambiente saudável nas empresas. Elas crescem com isso.

Seguindo as directrizes e o exemplo do senhor Salvador Caetano, outro factor que me foi muito útil foi a ligação com a Toyota. Duas culturas muito diferentes – a japonesa e a portuguesa –, mas muito próximas. O “Ser Caetano”, por exemplo, revê-se muito na cultura da Toyota, a chamada “Toyota Way”, que tem como pilar mais importante o respeito pelas pessoas.

 

E o “Ser Caetano” assenta precisamente nesse respeito pelas pessoas…
Exactamente, procurar que a ligação com os trabalhadores não seja apenas dentro da empresa. Se um colaborador está doente ou sentimos que necessita de algum apoio, não relacionado com as suas funções, devemos ser o “ombro” onde podem apoiar-se. Mostramos-lhes que não devem ter receios de transmitir as dificuldades que estão a viver.

 

Desse contacto regular e laços quase familiares que mantém, o que mais valoriza nas pessoas que trabalham consigo?
A competência, logicamente, mas, acima de tudo, a abertura e a vontade de crescer. Para mim, um trabalhador está realizado quando trabalha com paixão. Ou seja, gosta de vir trabalhar, não vem apenas pelo ordenado e quase que é necessário lembrar-lhe que já são horas de ir para casa.

 

É esse espírito que contribui para a reputação e a atractividade da Toyota Caetano Portugal?
Não tenho dúvida nenhuma. É um dos principais factores que faz que as pessoas gostem de trabalhar aqui e fiquem cá. Para muitas delas, este é o seu primeiro e único emprego, como é o meu caso, e tantos outros saem porque são obrigados a ir para a reforma.

O que também contribui para o nosso sucesso são os sete centros de formação espalhados pelo País, que contam com uma taxa de empregabilidade de 98% – se a memória não me falha –, em que capacitamos as pessoas de acordo com as nossas necessidades. A relação próxima com as universidades e estabelecimentos de ensino também é um factor importante a nível de recrutamento.

 

Leia a entrevista na íntegra na edição de Abril (nº. 148) da Human Resources, nas bancas. 

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