Se não desenvolvermos estas quatro características humanas, o ChatGPT pode mesmo substituir-nos

Dois psicólogos e professores universitários alertam que a mais recente ferramenta de IA é um alerta para a humanidade aproveitar quatro virtudes únicas e valiosas, avança a Fast Company.

 

O ChatGPT, um chatbot com inteligência artificial capaz de gerar respostas humanas a um leque inimaginável de perguntas, juntou 100 milhões de utilizadores em apenas dois meses, superando as taxas de crescimento de plataformas populares de social media, como o TikTok e o Instagram.

O desempenho do bot provocou inúmeras reacções de críticos e fãs, desde espanto e admiração até preocupação e receio de que trabalhos criativos e qualificados possam simplesmente desaparecer.

Os psicólogos e professores universitários Sunny Lee e Tomas Chamorro-Premuzic têm analisado o impacto do ChatGPT e da Inteligência Artifical, nomeadamente a capacidade de mudar e re-moldar a forma como os humanos se comportam, pensam, trabalham e vivem.

Uma das conclusões, no que concerne grande parte da resistência ao ChatGPT, por exemplo, revela a incapacidade humana de aceitar que algo pode ser mais inteligente do que nós, mesmo quando é criação nossa e, portanto, uma extensão da nossa própria inteligência.

Para os especialistas, esse orgulho defensivo e a tendência de descartar a IA para reafirmar a nossa superioridade intelectual pode colocar o nosso próprio valor e futuro, isto porque, ao não experimentar, aprender e evoluir com as novas tecnologias, aumentamos a probabilidade de elas realmente nos substituírem.

Por isso, defendem que a evolução das inovações da IA são também um catalisador para uma mudança fundamental na forma como a humanidade pensa sobre si própria e como se relaciona com o mundo. O ChatGPT, por exemplo, constitui um alerta para a humanidade aproveitar quatro virtudes únicas e valiosas.

Humildade

A percepção de que a IA pode lidar com tarefas criativas e intelectualmente complexas pode constituir uma experiência humilhante, já que o pensamento abstracto já não é algo exclusivo dos humanos.

Na verdade, após séculos a definir a essência da humanidade com o mote “Penso, logo existo”, devíamos, pela primeira vez, perguntar-nos o que significa ser humano numa época em que muito de nosso pensamento pode ser transferido para máquinas.

Curiosidade

Viver num mundo com acesso a informações e conhecimento omnipresentes pode não fazer sentido se não aproveitarmos a curiosidade humana e o desejo de aprender e compreender. A era da IA aumentou o valor (já alto) da curiosidade no mundo das virtudes humanas, redefinindo o significado de “expertise”. Hoje, o importante não é os especialistas saberem todas as respostas, mas sim colocarem as perguntas certas, avaliarem e verificarem informação, e tomarem decisões inteligentes com base nela.

Paradoxalmente, o ChatGPT ou outras ferramentas de IA podem entorpecer a nossa curiosidade, pois constituem uma solução rápida, semelhante à “fast food”, para obter informação e conhecimento.

No entanto, os que tiverem uma mentalidade curiosa podem usar as ferramentas de IA para alargar as suas perspectivas e promover mais inovação. Os dois especialistas esperam que a capacidade de o ser humano se envolver em “deep learning” seja a chave para o sucesso individual e colectivo da humanidade.

Autoconsciência

Entender-nos a nós próprios na era da IA significa prestar atenção na forma como as interacções humanas com a tecnologia estão a re-moldar os nossos comportamentos e o que dizem sobre nós mesmos, incluindo as características menos positivas como impulsividade, distracção, egocentrismo e preconceito.

Empatia

A empatia, uma característica humana única de compreender e partilhar os sentimentos dos outros, pode trazer múltiplos benefícios para o bem-estar das pessoas e para a coesão social. Embora os dois especialistas reconheçam que argumentar que as ferramentas de IA irão incutir empatia directamente possa ser um exagero, interagir com a tecnologia de IA pode facilitar o desenvolvimento da empatia.

Ao reconhecer as limitações intelectuais humanas e apreciar os pontos fortes dos outros, mesmo que sejam máquinas, pode tornar-nos menos focados em nós próprios e fazer-nos prestar a devida atenção e reconhecimento perante os outros, estimulando sentimentos de empatia e gratidão. De facto, vários estudos mostram que a humildade traz várias atitudes pró-sociais, como empatia, gratidão, altruísmo e benevolência.

O aparecimento de tecnologias avançadas de IA, assim como as tecnologias anteriores, apresenta riscos e oportunidades. Os benefícios superarão os riscos? Para Sunny Lee e Tomas Chamorro-Premuzic, se os humanos aproveitarem essa oportunidade para serem um pouco mais humildes e tentarem preservar e desenvolver as qualidades que os tornam únicos, talvez o futuro da humanidade seja melhor.

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