Quer escrever um livro, mas não sabe por onde começar? Cinco dicas essenciais (partilhadas por um romancista)
Muitas são as pessoas que sonham escrever um livro, mas poucas são as que sabem por onde começar. Foi a pensar nisso que o Clube de Autores, plataforma de auto-publicação em língua portuguesa, pediu a João Morgado, poeta e romancista português que publicou dois dos seus livros no Clube de Autores – “O Céu do Mar” e “Contos de Macau”, para partilhar algumas dicas com todos aqueles que querem escrever o seu primeiro livro.
1) Um bom escritor começa por ser um bom leitor. Leia. Leia muito. Depois aprenda a ler como escritor. Explore diferentes géneros, estilos e autores. Analise a estrutura das obras, os recursos linguísticos utilizados, as soluções criativas para avançar com a narrativa, a construção emocional dos diálogos e com a composição psicológica dos personagens. A leitura é a grande escola de um escritor. A outra é a própria vida.
2) A sua preocupação não deve ser «escrever um livro», mas sim, ter algo a comunicar, ter um propósito. Centre-se no conteúdo. Não escreva ao sabor do vento, pois o mais certo é perder-se, divagar, ter um percurso errático em que as ideias e as personagens vão perdendo a coerência ao logo da obra. Escreva uma sinopse orientadora da obra. Estabeleça um «projecto de arquitectura» definindo as ideias chave que quer transmitir, o perfil das personagens que irão dar corpo a essas ideias, o cronograma da acção e os pilares estruturantes da narrativa. Durante o processo criativo pode ir alterando este projecto inicial, fazendo ajustes, mas saberá sempre o caminho a percorrer e para onde vai. O leitor também vai perceber essa congruência e, no final, isso pode definir a sua opinião sobre a obra.
3) Escrever é: escrever, corrigir, apagar, reescrever, rever, acrescentar, reler, procurar as palavras certas, ler em voz alta e simplificar. Quando der algo a ler a alguém, não procure apenas a validação do seu trabalho, saiba entender as críticas, saiba escutar conselhos de quem tem mais experiência, a literatura é uma aprendizagem constante.
4) A “Inspiração” é como o Pai Natal. Só vem uma vez por ano e, com o tempo, descobrimos que não existe. Quando um texto sai bem, saiba que não foi resultado de inspiração, mas sim, do facto de ter encontrado os melhores recursos para ultrapassar os problemas que o texto colocava. Esses recursos são nossos, fruto do nosso esforço, do nosso estudo, da nossa disciplina, do nosso empenhamento e da nossa criatividade. Por isso, um escritor deve aprimorar as suas capacidades escrevendo todos os dias. Estabeleça o hábito de escrever regularmente, mesmo que seja por um curto período de tempo.
5) Escrever um livro não é mais uma “tarefa” do dia. Deve ser um momento especial. Exige concentração, um certo alheamento do mundo, um espaço silencioso. Há quem escreva em cafés, em jardins, em sítios barulhentos, pois, por vezes, essa agitação liberta ideias e aumenta a criatividade. Contudo, necessitará de paz para reler tudo o que escreveu e aperfeiçoar esse trabalho.