Randstad: A saúde como potenciador da produtividade

Cada vez mais, a Randstad investe na saúde e bem-estar dos seus colaboradores como forma de melhorar a produtividade.

A recente pandemia teve o efeito geral junto de muitas empresas de fazê-las reavaliar a forma como olhavam para as questões de saúde dos seus colaboradores. O tema da saúde mental nos locais de trabalho ganhou uma relevância adicional e, na Randstad, o foco está na prevenção e em proporcionar aos colaboradores condições para se manterem saudáveis e focados.

Em entrevista à Human Resources Portugal, Tânia Mendes, HR business partner da Randstad Portugal, comenta o tema da saúde no trabalho.

As circunstâncias extraordinárias dos últimos anos fizeram com que a Randstad olhasse de forma diferente para a questão da saúde no trabalho?
Sem dúvida. Ao longo dos últimos anos, muito antes de 2020, a nossa sociedade tem estado a viver a uma velocidade frenética. Vivemos rodeados de múltiplos estímulos, sempre com timings para cumprir, no trabalho e na vida pessoal. Gosto da metáfora do hamster na roda da sua gaiola. Era assim que muitos de nós vivíamos e provavelmente estamos a voltar a viver.

Mas, de repente, surge uma pandemia e as certezas deram lugar a muitas dúvidas. O lockdown deu-nos espaço para abrandar, sair da dita roda e pensar em nós próprios, na nossa vida, nas nossas prioridades.

Começou a existir a necessidade de nos reconectarmos. Quem vive nos centros urbanos e se viu obrigado a ficar fechado, começou à procura de “vida”. As pessoas começaram a comprar mais plantas para as casas, a adoptar animais de estimação e muitos mudaram-se para zonas mais rurais, o que lhes permitiu um maior contacto com a natureza.

Ora, se começamos a olhar para nós e para dentro, começamos a tirar conclusões e, agora que as rotinas aos poucos começam a regressar à “normalidade”, somos confrontados com os danos que estes anos e anos de vida a alta velocidade nos trouxeram. Danos na nossa saúde mental.

Assim, como que por milagre, temas como o burnout, ansiedade e depressão começam a ser debatidos diariamente nos meios de comunicação social, falamos deles nas redes sociais, especialistas são chamados a intervir e estudos começam a surgir com números verdadeiramente preocupantes.

As organizações são micro sociedades e se as pessoas que as compõem estão com problemas, essa situação vai necessariamente ter impacto na estrutura interna das primeiras. Responsabilidade Social, Sustentabilidade e Saúde Mental não são temas novos, mas ganham uma nova relevância.

 

Na Randstad, a área de Employee Experience já existe desde 2018. Os colaboradores, se assim entendessem, já tinham ao seu dispor apoio psicológico. O que mudou? Porque afirmamos categoricamente que a Randstad passou a olhar com outros olhos para o tema da saúde?
Porque o isolamento social reavivou assuntos importantes para o bem-estar dos nossos colaboradores e, por isso, sentimos ainda mais a necessidade de contribuir para os ajudar a enfrentar momentos pessoais desafiantes. Ao começarmos a falar abertamente destas questões da saúde, aos poucos vamos contribuindo para diminuir o estigma que ainda existe nestas temáticas, nomeadamente na saúde mental. E os colaboradores começam a sentir que têm espaço dentro da Randstad para partilhar os seus desafios pessoais e pedir ajuda.
Desde 2020 até à presente data, a Randstad tem investido de ano para ano em novas medidas que promovem e apoiam a saúde das suas pessoas, não só no pilar da saúde física, como no mental, social e agora, neste ano de 2023, também na sua saúde financeira.

O nosso programa de saúde e bem-estar é trabalhado de forma integrada, contando com diferentes iniciativas e abrangências, para que possa dar resposta às necessidades específicas de cada um dos nossos colaboradores.

 

Que áreas foram reforçadas?
Este ano lançámos dois novos conceitos: as Health Talks e as Taboo Talks, onde contamos sempre com a presença de profissionais das áreas, de fora da empresa. Nas primeiras, abordamos temas focados no bem-estar físico, mental e emocional. Nas Taboo Talks temos conversas onde pretendemos explorar temas que ainda são encarados com desconforto embora nos toquem a todos, de uma forma directa ou indirecta. Contamos, aqui, com o testemunho de colegas que passaram ou passam por estes desafios.

Já falámos da depressão pós parto e iremos falar sobre a homossexualidade e o impacto que tem no mercado de trabalho. Vamos falar também do divórcio, da forma como vivemos a morte e o luto, o impacto da menopausa, entre outros temas que ainda causam desconforto quando abordados no contexto profissional.

 

Quais os grandes desafios de hoje na área de saúde no trabalho, seja do ponto de vista da estratégia ou da implementação?
Do ponto de vista estratégico a Randstad está muito bem posicionada nesta matéria de saúde e bem-estar. A área de Employee Experience, dentro dos RH, analisa, desenha e propõe as diferentes actividades que posteriormente vão a aprovação. Contamos a 100% com o seu apoio da nossa gestão de topo que, além de participar e estar presente nas diferentes iniciativas, reforçou o budget destinado a estes temas.

A avaliação que é feita da estratégia interna de bem-estar dentro da Randstad não nos podia deixar mais satisfeitos. O feedback dos colaboradores espelha o trabalho e resultados alcançados nos últimos dois anos. Temos uma taxa de 8% em matéria de well being no survey mensal de engagement – o Randstad in touch. Portugal é um país de referência para os outros países onde a Randstad opera.

A atribuição do Best Wellbeing Program (na categoria empresas entre 250 e 1000 colaboradores) nos Wellbeing Award de 2022 veio reforçar este sentimento de que estamos num bom caminho. É bom sermos reconhecidos pelas práticas que estamos a dinamizar e que queremos que nos diferenciem enquanto empresa.

Para além deste reconhecimento do Best Wellbeing Program, a Randstad obteve, pelo 3.º ano consecutivo, o selo Top Employer, que avalia, entre um conjunto diversificado de áreas, as medidas de well being, integradas na área de employee experience.

Embora tenhamos consciência que a Randstad pode ser considerada uma referência nestas matérias de saúde e bem-estar, estamos ainda aquém do que queremos alcançar.

Um dos maiores desafios que temos em Portugal, nesta matéria, está relacionado com a nossa dispersão geográfica e com as diferentes realidades de trabalho que os nossos colaboradores têm, mediante a área de negócio que integram. Quando pensamos e desenhamos o nosso programa, assim como todos os benefícios disponíveis, temos sempre presente a ideia de que as diferentes iniciativas devem estar acessíveis a todos.

Entre o que queremos e o que acontece na realidade ainda existe uma diferença. Todos os dias estamos a trabalhar para minimizar essas situações mas nem sempre é fácil, a começar pelos colaboradores que temos a desempenhar as suas funções nas instalações dos nossos clientes, ficando aí sujeitos à realidade deles e não tanto à realidade e cultura Randstad.

 

Em termos globais quais as melhores práticas da Randstad, em matéria de saúde no trabalho, que gostaria de partilhar?
Começamos por destacar a última medida, lançada no mês passado, a qual se foca no pilar da saúde financeira. De nada adianta termos uma boa saúde física ou investir na saúde mental se, em termos pessoais, passamos por dificuldades financeiras. O nosso dia-a-dia passa, necessariamente, pelo dinheiro e por isso a informação e formação nesta matéria ganha cada vez mais relevo. Através desta solução os nossos colaboradores têm acesso a coaching financeiro, gratuito e de forma totalmente confidencial.

Para além das consultas de apoio psicológico, nutrição e medicina curativa, no arranque deste ano disponibilizamos consultas de osteopatia e aulas individuais no nosso ginásio com um PT.

O programa cinco dias – cinco iniciativas mantêm-se. Em cada dia da semana, os colaboradores têm no seu calendário aulas online onde podem participar sempre que quiserem e conseguirem, incluindo meditação, yoga, pilates clínico, hiit/core e mindfulness.

Gostaríamos ainda de dar destaque às bolsas de fertilidade que atribuímos todos os anos às nossas colaboradoras e às mulheres dos nossos colaboradores, assim como ao apoio financeiro que podemos dar a colaboradores, em casos devidamente justificados e avaliados pelo superior hierárquico, que estão a passar por situações de baixa e que nem sempre são comparticipados a 100% pela Segurança Social, como o apoio à família ou doença prolongada.

 

Como é que as questões da saúde e segurança no trabalho se enquadram nos modelos híbridos em que está incluído o teletrabalho?
Oferecemos a tarde de aniversário dos filhos a cada colaborador, assim como a possibilidade de os acompanharem à escola no 1.º dia de aulas. Para além dos 22 dias de férias, usufruímos, ainda, de mais dois dias extra no período do natal e ano novo.

Nas entrevistas de saída, um dos pontos que é destacado passa pela flexibilidade que a Randstad dá na gestão do tempo. Adoptamos um modelo de trabalho muito focado no cumprimento dos objectivos individuais. O conceito de máxima liberdade, máxima responsabilidade, faz parte do nosso ADN.

Desde 2020 até ao mês passado, lançámos seis surveys, onde o objectivo passa por obter dados que permitam acompanhar as motivações quanto ao modelo de trabalho adoptado pela Randstad e que neste momento está regulamentado para um modelo de trabalho híbrido.

Os resultados que obtivemos indicam-nos que 92% dos colaboradores sente que tem conseguido atingir, com equilíbrio entre a sua vida pessoal e profissional, os objectivos que lhe foram definidos. Destacam a flexibilidade que a empresa lhes dá para escolher os dias em que vão ao escritório, sempre ajustado à sua realidade de trabalho.

Neste modelo de trabalho é dada maior valorização à ausência dos tempos de deslocação, ao work life balance e ao aumento da produtividade quando estão em trabalho remoto.

 

Como é feito o acompanhamento dos colaboradores na área de saúde mental?
Uma das questões que tem estado sempre presente nos nossos surveys passa por compreender junto de todos os nossos colaboradores se sentem que o acompanhamento que a chefia faz, desde que adoptamos um regime de trabalho híbrido, é ajustado. 98% afirmaram, no final do mês de Maio, que sim. Estes resultados indicam-nos que a aposta que estamos a fazer no incentivo a uma liderança de proximidade está a surtir efeitos.

Quando falamos em saúde e bem-estar pensamos, por norma e em primeiro lugar, na responsabilidade que os RH têm nestas matérias. E se assumimos com gosto e determinação esta responsabilidade, não é menos verdade que nestes novos tempos em que vivemos, os colegas de equipa e as chefias têm um papel tão ou mais determinante.

Cabe cada vez mais ao líder inspirar para fazer cumprir KPI, desenvolver as suas pessoas e estar atento ao bem-estar de cada um.

Paralelamente a este papel dos colegas de equipa e chefias, os RH também chamaram a si esta responsabilidade de acompanhamento a título individual. Desde 2021 que criamos o programa – Follow your Talent. Um programa constituído por um conjunto de checkpoints que se repetem ao longo do ano, onde os colaboradores partilham, de forma confidencial, a forma como se sentem em relação às diferentes dimensões que compõem o seu bem-estar dentro da Randstad. Percebemos que, mais do que nunca, as pessoas querem ser ouvidas e validadas na sua individualidade.

 

Quais os procedimentos a ter em conta em casos de problemas do foro mental diagnosticados em colaboradores?
Não temos um procedimento rígido e previamente definido porque as necessidades variam de pessoa para pessoa. Existe sempre um acompanhamento de proximidade por parte dos RH e da pessoa que está a viver momentos mais desafiantes. A chefia é envolvida no processo e em conjunto vamos compreender que medidas devemos accionar para facilitar o processo de tratamento e recuperação do colaborador.

Pode passar, como já falamos, pelo encaminhamento para o apoio psicológico, apoio financeiro ou apoio legal, assim como por reestruturar as suas tarefas e dia-a-dia de trabalho, permitindo ao colaborador ganhar um “balão de oxigénio” com vista a encontrar o equilíbrio que necessita, mas que nesta fase está comprometido.

 

Da experiência adquirida nestes últimos anos a questão da saúde mental é, de facto mais preocupante agora do que antes da pandemia?
Sem dúvida. A pandemia fez tocar a sirene da saúde mental e dos casos de burnout que sempre existiram, mas certamente foram ocultados por quem por eles passou.

Ao investir-se em estudos nestas matérias conhecemos resultados verdadeiramente preocupantes. Segundo um estudo divulgado pela Gallup Workplace, 76% dos colaboradores experienciam ou já experienciaram situações de burnout. As empresas são compostas por pessoas e não podem “assobiar para o lado” porque estas situações acontecem em todas elas, sejam de grande ou pequena dimensão, independentemente do sector ou país onde actuam.

Portugal está numa situação particularmente crítica, pois todos conhecemos o contexto económico actual e o impacto que a saúde financeira tem na saúde mental. De acordo com a OMS, um em cada cinco portugueses sofre ou já sofreu de doenças mentais. 57% dos portugueses diz já ter estado perto de um burnout, diz-nos a STADA Health Report 2022. Portugal é o país da UE com maior risco de burnout.

Associado ao nosso programa de saúde e bem-estar criámos, na Randstad, as hashtags #pessoassaudaveis e #organizacoesmaisfelizes. Se este é o nosso propósito, então, as políticas internas de trabalho têm de estar alinhadas com este princípio.

 

Este artigo faz parte do Caderno Especial “Saúde no Trabalho” na edição de Junho (n.º 150) da Human Resources, nas bancas.

Caso prefira comprar online, tem disponível a versão em papel e a versão digital.

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