Joana Pita Negrão, Nova SBE. «A grande questão é como vamos fazer da IA um verdadeiro amplificador do potencial humano»

A inteligência artificial veio para ficar e promete revolucionar o departamento de Recursos Humanos. Joana Pita Negrão, directora-executiva de People & Culture da Nova SBE, deu-nos algumas pistas sobre o que pode, ou não, ser feito pela tecnologia.

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No âmbito da XXVI Conferência da Human Resources Portugal, Joana Pita Negrão, directora-executiva de People & Culture da Nova SBE, apresentou o terceiro painel do dia — «O que a inteligência artificial (não) pode fazer por nós». A oradora começa por recordar que foi convidada para «revolucionar o departamento de Recursos Humanos, que estava muito orientado para funções mais administrativas e operacionais». A própria conta também que o objectivo era desenvolver uma secção muito mais focada nas pessoas e no respectivo desenvolvimento da cultura da universidade.

A título de exemplo, a directora-executiva de People & Culture socorre-se do caso particular da Nova SBE para dar alguns exemplos de acções que não podem ser replicadas pelas novas tecnologias. Em 2021, em plena pandemia, uma das primeiras iniciativas do departamento foi «ligar aos 300 colaboradores a perguntar se precisavam de ajuda ou de alguma coisa». Uma medida que, segundo a profissional, foi «verdadeiramente transformadora» num modelo dedicado à parte mais operacional. Além disso, esta acção também permitiu uma maior aproximação entre as pessoas, sobretudo depois de «terem revelado uma atitude humana com uma simples chamada».

Outra medida que também se revelou um sucesso na instituição foi o “Breakfeast With the Dean”, em que o período do pequeno-almoço passou a ser dedicado frequentemente a conversas íntimas entre os colaboradores e o director da Nova SBE, com tópicos relacionados com cultura, liderança ou organização. Face aos exemplos dados, a oradora chega à primeira conclusão: «a inteligência artificial não cria um espaço seguro para as pessoas ouvirem verdadeiramente o outro».

Além destas medidas, o departamento de People & Cultura promove ainda o “Nova SBE Got Talent”. Trata-se de um concurso desenvolvido pela instituição, durante a quadra natalícia, em que os colaboradores são desafiados a mostrar os seus talentos para além da sua função laboral, nomeadamente com demonstrações na área da dança, música ou circo. Posto isto, Joana Pita Negrão conclui que «a inteligência artificial não desvenda o lado B, nem coloca os talentos a render».

A verdade é que não faltam medidas inovadoras na Nova SBE, e prova disso mesmo é a promoção da prática desportiva e do bem-estar. «Temos um grupo específico de futebol, que joga semanalmente num campo perto de Carcavelos. Temos um grupo de padel, de danças, com aulas semanais, e também temos uma professora que disponibiliza o seu tempo para sessões de ioga.» Além disso, a universidade também presta apoio psicológico a todos os colaboradores, disponibilizando uma linha de contacto telefónico directa, em que é assegurado o anonimato do autor da chamada. Deste modo, segundo a oradora, é possível concluir que «a inteligência artificial não consegue criar um método de maior proximidade e contacto humanos com os colaboradores, nem de promover o bem-estar ou providenciar experiências reais».

A profissional dá ainda os exemplos dos “Conversaccinos”, da “Newsletter: People & Culture” e da “Nova Kind of Melody”. Este último trata-se de «um grupo de coro muito animado e divertido», que surgiu devido à forte ligação à música. Já a “Newsletter: People & Culture” foi criada apenas para os colaboradores e pretende dar a conhecer tudo o que se passa na instituição. Em relação aos “Conversaccinos”, os colaboradores são convidados para tomar cappuccino ou café, seguindo-se um momento de partilha de conhecimento após o almoço. Segundo a responsável, estas são razões mais do que suficientes para chegar à quarta conclusão: «a inteligência artificial não promove a partilha de momentos de convívio, alegria ou celebração».

 

Afinal, o que pode a IA fazer?

Embora tenha começado por enumerar um conjunto de situações em não é possível substituir a sensibilidade humana, Joana Pita Negrão reconhece que «a inteligência artificial é uma alavanca brutal, não só em termos de human skills, como também na delegação de tarefas mais mecanizadas que não acrescentam grande valor». Para justificar a sua afirmação, socorre-se de um estudo da Gartner para referir que «cerca de 53% dos líderes ligados ao departamento de Recursos Humanos acreditam que a inteligência artificial veio transformar a componente mais operacional e administrativa».

A Nova SBE não está alheia ao potencial desta nova ferramenta e aposta na tecnologia disruptiva como forma de aprendizagem não só para alunos, como também para colaboradores. «A universidade definiu uma postura de testar novas metodologias, novos conceitos e novas abordagens, sem ter medo de arriscar», realça a responsável. Para o efeito, fala de três exemplos concretos de como a Nova SBE conseguiu colocar a tecnologia ao serviço da comunidade.

Em primeiro lugar, a instituição apostou firmemente na inovação, como comprova o Digital Experience Lab. Trata-se de um grupo de laboratório orientado para efectuar experiências digitais, como, por exemplo, aulas leccionadas em contexto metaverso.

Depois, a tecnologia também pode estar ao serviço da comunidade da Nova SBE com base nos debates. «Está no nosso ADN trazer os grandes temas para cima da mesa e discuti-los. Dou-vos os exemplos das conferências anuais que acontecem no Estoril, este ano com o mote “Re-Humanize Our World”, e um debate que promovemos sobre a importância do ChatGPT, que contou com a presença de vários alunos e de oradores ligados ao data science.» A profissional defende que a tecnologia não deve ser proibida ou afastada, mas, pelo contrário, deve ser «debatida e integrada no dia-a-dia».

E, por último, o evento Press Preview. Uma conferência de imprensa, realizada no metaverso, em que a Nova SBE apresentou aos meios de comunicação nacionais os principais projectos de investigação para o ano de 2023. Esta iniciativa envolveu mais de 50 colaboradores, entre staff e membros do corpo docente e da direcção da Nova.

Ao socorrer-se de uma frase de Pedro Oliveira, director da Nova SBE, a oradora refere que «tentar travar a inteligência artificial agora é como tentar impedir o vento com as mãos». Dado como um facto consumado, a tecnologia pode estar, também, ao serviço da comunidade da Nova SBE com base em experiências. A instituição criou uma conferência de imprensa em contexto de metaverso no início deste ano, um projecto pioneiro e inovador em Portugal. Em síntese, a responsável de People & Culture da Nova SBE tem a forte convicção de que as novas tecnologias «vão tornar as pessoas mais produtivas, mais rápidas e mais eficientes no desempenho das suas funções». Por outro lado, deixa claro de que, num mundo em constante mudança, «a conexão humana é totalmente insubstituível».

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