Entrevista a Suzana Curic, country leader da Amazon Web Services Iberia: «Quero que as pessoas sintam que fazem a diferença.»
Suzana Curic assumiu a liderança da Amazon Web Services em Portugal e Espanha no início deste ano, mas tem muito claros os seus objectivos – de negócio e em relação às suas pessoas. Sobre o primeiro, destaca a ambição de fazer com que «todas as empresas sejam empresas de inteligência artificial». Já no segundo, concentra-se em dois eixos paralelos: «o sentimento de pertença à empresa e a ligação que sentem aos outros».
Por Ana Leonor Martins
O interesse pela resolução de problemas e o fascínio pela forma como as coisas funcionam explicam porque Suzana Curic enveredou por Engenharia Industrial. Desde criança que as brincadeiras que mais a interessavam eram as que envolviam compreender a mecânica por detrás dos objectos. E adorava quando o seu pai a chamava para o ajudar a arranjar bicicletas. Hoje, é country leader da Amazon Web Services (AWS) Iberia, mas rejeita que o seu papel se limite a provar que as mulheres são bem-sucedidas no mundo da Tecnologia; «trata-se de abrir o caminho para que todos, independentemente do género, possam prosperar e atingir o seu pleno potencial». E é também isto que procura enquanto líder, proporcionar oportunidades de crescimento e aprendizagem, para o sucesso profissional e pessoal dos seus colaboradores.
O que a fez aceitar o desafio de liderar o negócio da AWS Iberia?
A minha decisão de, em 2017, me juntar à AWS, uma empresa pioneira em cloud computing, esteve relacionada com a minha vontade de fazer parte desta onda tecnológica de nova geração que está a transformar a sociedade e as empresas. Durante os seis anos que se seguiram, juntei a minha experiência de trabalho com as diversas indústrias, e a minha experiência de liderança à cultura da Amazon, de obsessão pelo cliente, que cultiva o think big, e fomenta a formação de equipas de alta performance… Acredito que tudo isto tenha feito surgir a oportunidade de assumir o papel de country leader da AWS Iberia.
O que mais tem ocupado o seu tempo?
Divido o meu trabalho em três áreas: a minha principal função é garantir a confiança dos clientes, e ser a sua parceira na jornada de inovação e transformação digital. A nossa ambição é fazer com que todas as empresas sejam empresas de inteligência artificial (IA), para que se mantenham competitivas.
A segunda função mais importante é cuidar da equipa, o que está em sintonia com o princípio de nos esforçarmos para “ser o melhor empregador do mundo”. Procuro fomentar perspectivas diversas e contruir pontes entre as equipas locais, regionais e globais, dando-lhes todo o apoio possível, pois o mundo acelerado em que vivemos exige-nos muitas vezes uma energia ilimitada. Esforço-me por estar junto das minhas pessoas e ser sensível ao que elas precisam para darem o seu melhor, motivando- as a investir no seu próprio desenvolvimento, tanto profissional, para que pensem fora da caixa, como pessoal, para que desenvolvam recursos que lhes possibilitem manter a “agilidade emocional”.
A terceira área está relacionada com o nosso princípio de liderança de que “o sucesso e a escala trazem uma responsabilidade alargada”. Dedico bastante tempo a promover iniciativas locais que apoiem as nossas comunidades e o planeta através de diferentes programas de sustentabilidade; e a projectos que visam ajudar as gerações futuras através do desenvolvimento de competências digitais. São exemplo o AWS re/Start, que ajuda pessoas desempregadas ou subempregadas a desenvolverem competências de computação da cloud e a estabelecer contactos com empregadores; ou a AWS Academy, destinada a instituições de ensino superior, que prepara os estudantes com certificações reconhecidas pela indústria, e que lhes possibilitam prosseguir carreiras na cloud. Há mais iniciativas às quais dou uma atenção muito especial, como o AWS Educate, para estudantes que procuram aprender ao seu próprio ritmo sobre tecnologia de computação da cloud; e o AWS GetIT, um programa super relevante que capacita jovens raparigas em STEM [Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática].
Mas, nestes meses, o que foi prioritário?
Primeiro, ouvir os clientes. É interessante notar que a maioria das empresas portuguesas e espanholas que adoptaram recentemente a IA são “grandes empresas”, de acordo com o estudo “Unlocking AI Ambitions”, da Strand Partners e da AWS. No entanto, em ambos os países, as empresas que têm uma maior presença (90%), são as PME [Pequenas e Médias Empresas]. O nosso papel é democratizar o acesso à tecnologia.
No que respeita à Gestão das Pessoas, dediquei tempo a criar relação com todas as equipas das nossas diferentes localizações na Península Ibérica, para promover o sentimento de pertença e alimentar uma cultura que celebre a inclusão, a diversidade e a igualdade.
E o que tem sido mais desafiante?
Os meus desafios passam muito por gerir aqueles que são os desafios dos clientes, e a maior dificuldade que as grandes organizações sentem ao passar para a cloud, não é técnica, está relacionada com as pessoas e a cultura. As equipas de liderança seniores têm de estar alinhadas e verdadeiramente empenhadas em fazer a transição para a cloud. E precisam de definir uma direcção, e expectativas claras, com o resto da organização, para que todos estejam na mesma página e a trabalhar para o mesmo objectivo. É provável que surjam bloqueios no processo se a equipa de liderança não fizer da mudança uma prioridade, ou seja, se não criar uma cultura de mudança.
E na Gestão de Pessoas?
Os dados indicam que 71% das empresas portuguesas têm dificuldades em contratar pessoal com competências digitais, um número muito elevado quando comparado com média europeia – 44%. E as competências relacionadas com a tecnologia da cloud, IA ou machine learning serão, sem dúvida, uma condição fundamental para as organizações melhorarem a sua eficiência e os seus processos.
As pessoas são essenciais, são o centro de tudo. Por isso, em Novembro de 2023, comunicámos o compromisso, através da iniciativa “AI Ready”, de formar gratuitamente dois milhões de pessoas com competência em IA, até 2025. Já tínhamos em curso um projecto, com o investimento de centenas de milhões de dólares, de formação gratuita em competências de computação da cloud a 29 milhões de pessoas, também até 2025. É com orgulho que digo que já formámos 21 milhões de pessoas em todo o mundo. Garantir que a AWS desempenha o seu papel na formação de talento técnico e qualificado é um dos desafios, no qual estou altamente empenhada.
Leia a entrevista na íntegra na edição de Abril (nº. 160) da Human Resources, nas bancas.
Caso prefira comprar online, tem disponível a versão em papel e a versão digital.