Estórias com Propósito: Diogo Alarcão | Nem… de propósito
Sinto que parte importante da minha vida é feita de “estórias” que, de certa forma, moldaram e moldam o meu próprio propósito neste mundo. E creio que o propósito de todas essas “estórias”, o que têm em comum, é que quanto mais dás, mais recebes.
Por Diogo Alarcão, gestor
Pediram-me que partilhasse uma “estória com propósito”. Vieram-me à cabeça, de imediato, várias “estórias” que vivi ao longo da vida, desde a primeira experiência de voluntariado num bairro pobre nos arredores de Lisboa, há quase 30 anos, até às que vivi algumas semanas atrás.
Sinto que parte importante da minha vida é feita dessas “estórias” que, de certa forma, moldaram e moldam o meu próprio propósito neste mundo.
Olhando para trás, e piscando o olho ao futuro, o que vejo? Para trás, recordo a maravilha de organizar uma peça de teatro e de dar explicações a jovens que, apesar das suas condições de vida precárias, espelhavam no seu sorriso a alegria do momento vivido e a esperança no futuro. Recordo os primeiros passos da Academia Ubuntu, onde tive o privilégio de conhecer e acompanhar jovens de elevado potencial, oriundos de famílias de imigrantes. Recordo o voluntariado na Ajuda de Berço. Quando entrei nesse projecto, tinha como “propósito” ajudar na parte logística, mas logo no primeiro dia acabei a jogar à bola e às escondidas. Recordo também as dúvidas que tive em aderir a um projecto de apoio aos sem-abrigo e de ver, mais tarde, como a vida daqueles homens e mulheres pode revolucionar as nossas próprias vidas.
Olhando para o futuro, sorrio ao pensar em tudo o que a vida ainda tem para me proporcionar… e sinto-me grato. Sinto-me grato pelo que ensinei e aprendi com os primeiros passos como voluntário. Sinto-me grato pelo que dei e recebi no trabalho de mentoria. Sinto-me grato pelo serviço aos mais pobres e desprotegidos. Sinto-me grato por tudo o que recebi e que foi imensamente maior do que aquilo que dei.
Creio que é esse o propósito de todas essas “estórias”: quanto mais dás, mais recebes. Sim, o nosso propósito nesta vida tem de ser norteado pelo desejo e pela alegria de ajudar todos os que se cruzam nos nossos caminhos, sobretudo os que são mais vulneráveis, os que vivem nas margens, assim como os que nos desinstalam nas suas fragilidades e dependências. Todos temos uma tendência natural para estarmos com os que gostamos, com os que nos identificamos, com os que são “iguais a nós”…
E isso é bom! Mas creio não ser o suficiente porque nos acomoda. O que verdadeiramente nos transforma é o desconforto do medo e do desconhecido porque, uma vez vencidos esses receios, são eles que darão um novo propósito às nossas vidas, pelas “estórias” que nos vão proporcionar e de que seremos também protagonistas.
Sei que fiz parte de várias “estórias com propósito” e sei que quero continuar a dar um “propósito” à minha vida através das “estórias” que ainda viverei.
E tu? Continuas preso ao sofá?!?
Este artigo foi publicado na edição de Maio (nº. 161) da Human Resources.
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