Tendência no TikTok está a incentivar os profissionais a uma prática no trabalho. E não são boas notícias para as empresas

“Agir de acordo com o salário” é a resposta geracional ao “ninguém quer trabalhar”. Tudo começou como uma tendência no TikTok a incentivar os trabalhadores a colocar exactamente o esforço correspondente ao que lhes pagam para trabalhar e as reacções não demoraram, avança o Business Management Daily.

 

Em 2023, os despedimentos nos EUA mais do que duplicaram comparativamente aos anos anteriores, atingindo milhões. O trabalho temporário, inicialmente visto como um “biscate”, tornou-se uma carreira para cada vez mais pessoas que não conseguem encontrar emprego estável. À semelhança de outros mercados, o preço da alimentação, dos combustíveis e das casas subiu, excepto os salários, que se mantiveram iguais.

Os Millennials e a Gen Z estão na linha da frente no desaparecimento da classe média norte-americana, mas estão a fazer alguma coisa em relação a isso? Talvez.

Se ganha o salário mínimo, “agir de acordo com o salário” [“act you wage”, no original] será, por exemplo, entrar e sair à hora certa. Entre mais cedo ou saia mais tarde quando lhe pagarem para isso. Se a sua carga de trabalho aumentou devido a despedimentos, mas o salário não mudou, “agir de acordo com o salário” será fazer exactamente o mesmo trabalho que fazia antes e informar a chefia que não tem tempo para fazer o resto.

Outras características de “agir de acordo com o salário” incluem:

  • Recusar chamadas ou mensagens relacionadas com trabalho fora do horário laboral
  • Proteger o conhecimento da área ou função, partilhando apenas ideias em troca de compensação
  • Encaminhar os pedidos de trabalho a um supervisor quando forem extra-responsabilidade

Os profissionais que ganham mais podem ser responsáveis ​​por fazer mais, mas os salários mais baixos devem apenas ser responsáveis ​​por realizar o mínimo de trabalho. É isso que significa “agir de acordo com o salário”.

Qual é o problema?

Os empregadores estão, logicamente, frustrados com este “agir de acordo com o salário”. Até à década de 1980, o salário mínimo proporcionava rendimento suficiente para cobrir o custo de vida e ainda deixar algumas poupanças de lado. Hoje, é necessário um salário de cerca de 70 mil dólares para atingir o mesmo padrão. Este número continua a aumentar e a maioria das pequenas empresas não consegue pagar.

Os trabalhadores precisam de salários que acompanhem a inflação; caso contrário, acabam por pagar aos seus empregadores para trabalhar em vez de ser o oposto. Infelizmente, esta necessidade não se enquadra com o retorno dos investidores.

Durante décadas, o sector corporativo alertou que um percurso de salário mínimo forçaria as empresas a subir os preços e a despedir pessoal. O aviso resultou já que o salário mínimo nunca subiu, mas as consequências materializaram-se à mesma. Hoje, os preços de fast food são o dobro do que em 2020, apesar de o salário mínimo não ter mudado.

Os jovens receberam a mensagem: manter os salários baixos não tem que ver com a economia; trata-se de dar mais dinheiro, dos trabalhadores, aos investidores.

“Agir de acordo com o salário” é uma espécie de protesto que compreende pequenas “mudanças” na cultura das empresas – o declínio da lealdade no trabalho, a explosão do trabalho temporário e uma sensação crescente de que o mundo do trabalho não é o que os pais disseram que seria. Afinal, de que serve estar nas boas graças do chefe quando se ganha o mínimo?

Outras alterações incluem:

  • Partilhar abertamente informações salariais com colegas de trabalho
  • Meter mais dias de baixa
  • Não tolerar assédio ou abusos por parte das chefias
  • Pedir aumentos correspondentes à inflação para além dos aumentos de desempenho

Os comportamentos no local de trabalho não são a única coisa que mudou – job hunting e pedidos de aumentos também são bastante diferentes.

Quiet quitting por um salário melhor

Embora algumas empresas considerem aumentos salariais de acordo com a inflação, outras vêem aumentos programados como um precedente perigoso que poderá associar a satisfação dos colaboradores a salários que aumentam como tudo o resto.

No entanto, os colaboradores ainda precisam de melhores salários, e os empregadores que não estão dispostos a conceder-lhos estão a assistir a maior turnover através de “quiet quitting”. Os profissionais que praticam “quiet quitting” não negoceiam com a chefia (provavelmente tentaram), e o seu aviso de saída surge como uma surpresa.

O “quiet quiting” também é uma resposta geracional, direccionada à falta de compensação, como:

  • Pensões
  • Opções de acções
  • Aumentos programados
  • Cobertura de seguros

Estes benefícios praticamente desapareceram. O salário base é um dos poucos elementos negociáveis das empresas e os trabalhadores estão a aprender a negociar em espécie.

Bloquear tempo para o trabalho

O trabalho remoto é provavelmente a diferença mais significativa da pandemia. As regras para ficar em teletrabalho colocaram a gestão do tempo nas mãos dos trabalhadores e, embora se mantivessem igualmente produtivos, foram mais desafiantes para os gestores monitorizarem.

Apesar desta nova liberdade, o tema salário mantém-se. Trabalhar em casa é apenas uma vantagem se não precisar de um segundo trabalho para pagar as contas, e é por isso que alguns “agiram de acordo com o seu salário”, complementando o salário habitual com “outro emprego”.

Estes trabalhadores passam a quantidade de tempo adequada ao salário que auferem num emprego e depois mudam para outro. Junte dois empregos com cargas laboral e salarial reduzidas e, de repente, tem uma remuneração razoável.

Criar comunidade de trabalhadores

Talvez o impacto mais significativo de “agir de acordo com o salário” tenha sido o aumento da solidariedade entre os trabalhadores. A lealdade da empresa como estratégia de carreira está a dar lugar a fazer o que é melhor para todos. Os ganhos de curto prazo a favor do bem-estar a longo prazo estão a tornar-se mais populares.

“Agir de acordo com o salário” marca uma mudança cultural em direcção ao bem-estar e longe da agitação incansável. Desafia a noção tradicional de que os colaboradores devem exceder constantemente as expectativas para provar o seu valor. Destaca o gap entre o que se espera que os colaboradores façam versus como são compensados ​​por isso.

Os empregadores enfrentam o movimento alterando o local de trabalho

Apoiar o bem-estar dos colaboradores é fundamental para os empregadores. A melhor oportunidade que têm para ficar bem na fotografia é estar do lado dos colaboradores.

No entanto, algumas empresas discordam e responderam com medidas:

  • Ocultar informações salariais sobre as vagas de emprego
  • Proibir conversas sobre salário no local de trabalho
  • Aplicar políticas de regresso ao escritório
  • Utilizar software de monitorização de teclado e actividade

Será uma estratégia eficaz a longo prazo? É pouco provável. Evitar as consequências de “agir de acordo com o salário” começa com a criação de uma cultura de trabalho que apoie e motive:

  • Incentive a comunicação aberta: Deixe que a gestão e os colaboradores comuniquem facilmente através de check-ins regulares, sessões de feedback e uma política de porta aberta
  • Defina expectativas de carga de trabalho realistas: Compreender as capacidades e limitações dos seus colaboradores e garantir que as tarefas são geríveis num determinado período
  • Proporcione oportunidades de desenvolvimento profissional: as carreiras são importantes para os jovens trabalhadores e as empresas são mais atractivas ​​quando promovem o crescimento e o desenvolvimento profissional
  • Reconheça e recompense o esforço: Os programas de reconhecimento funcionam melhor do que os avisos verbais/escritos para fazer com que os colaboradores trabalhem arduamente e façam mais

A maioria já constitui boas práticas. É inquestionável que empresas ​​com colaboradores mais produtivos são mais rentáveis, e os profissionais são mais produtivos quando os empregadores os respeitam.

O futuro do trabalho e do “agir de acordo com o salário”

Os Gen Z e Millennials priorizam um equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. Num mercado de trabalho caótico, colocam o seu bem-estar acima das promessas incertas de progressão de carreira.

“Agir de acordo com o salário” já está a agitar as políticas corporativas nos EUA. Muitas empresas oferecem acordos de trabalho remotos e flexíveis e incentivam as pessoas a desligar quando o dia de trabalho termina. Os programas de saúde mental são cada vez mais comuns, incluindo dias de folga e iniciativas para evitar que os trabalhadores tenham burnout.

Os impactos a longo prazo de “agir de acordo com o salário” também serão profundos:

  • Mais satisfação e retenção de colaboradores: a antiga lealdade no trabalho pode regressar à medida que as empresas respeitarem os limites dos colaboradores e priorizarem o seu bem-estar
  • Mudança na dinâmica do empregador-empregado: o domínio do empregador pode dar lugar a uma relação mais equilibrada, onde os colaboradores são valorizados e ter um impacto cultural mais significativo
  • Produtividade nas horas trabalhadas: as horas de trabalho podem começar a diminuir à medida que a qualidade e a eficiência ganham mais valor do que o total de horas trabalhadas
  • Mudança nas expectativas de trabalho: a ideia de estar sempre disponível e dar o máximo pode ficar desactualizada e ser substituída por uma abordagem mais equilibrada ao trabalho

Os empregadores têm uma oportunidade única de atrair os melhores talentos, oferecendo respeito e uma carga de trabalho razoável. Durante muitos anos, os colaboradores sentiram que fazer parte de uma família no trabalho nem sempre é bom, especialmente se forem obrigados a fazer sacrifícios.

“Agir de acordo com o salário” quebra este vínculo, chamando as coisas pelos nomes: “Trabalho para ganhar dinheiro. Se quer mais trabalho, quero mais dinheiro.” Os empregadores que valorizarem as suas equipas verão mais resultados, enquanto aqueles que pagarem o salário mínimo obterão aquilo por que pagam.

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