“Skills-first”: Competências em primeiro lugar
Por Álvaro Fernández, director-geral Michael Page
No ambiente empresarial dinâmico que se vive hoje, as grandes empresas enfrentam desafios multifacetados no recrutamento. A intensa competição pelos melhores talentos, as incertezas económicas globais e a evolução das normas no local de trabalho criaram uma mudança para abordagens de contratação mais flexíveis e estratégicas.
É por isso que as empresas que procuram a mudança e têm um novo mindset estão a adoptar a abordagem de contratação que coloca no seu centro as competências. A ganhar cada vez mais relevância, esta filosofia de gestão permite expandir o talento, aumentar a qualidade dos candidatos para funções alinhadas com o seu potencial, melhorar a sua experiência e capacidades, além de contribuir significativamente para a retenção de colaboradores.
A estratégia “skills-first”, com foco nas competências, permite responder aos desafios actuais das empresas num mundo em constante mudança, e é disruptiva em relação às abordagens tradicionais. Encontrar candidatos qualificados com mais facilidade, a desempenhar funções mais rapidamente e mais motivados, permite reduzir os erros de contratação e construir culturas mais inclusivas, especialmente em empresas de grande dimensão com necessidades específicas. Ao contrário dos métodos tradicionais focados nas qualificações, esta forma de contratação que valoriza as competências do candidato mais do que a sua formação académica e percurso de educação, ajuda as empresas a expandir a atracção e contratação de talentos. Estas competências podem ser avaliadas a partir da experiência demonstrada do candidato ou do seu potencial para as atingir no desempenho de determinada função, bem como através de avaliações específicas como parte do processo de recrutamento.
Além de democratizar o acesso a oportunidades de carreira, uma das maiores vantagens desta estratégia, é que pode levar a contratações mais eficientes a longo prazo, em vez de apenas preencher lacunas a curto prazo. Pode também, potencialmente, ajudar as empresas a beneficiar de uma maior diversidade na sua força de trabalho. A não exigência de um determinado diploma ou de outra qualificação pode abrir espaço a pessoas oriundas de origens muitas vezes sub-representadas em determinados cargos, por vezes devido à falta de acesso ao ensino superior ou a redes de contactos.
Além disso, a contratação que privilegia as competências, responde ao desafio de longa data das incompatibilidades entre as qualificações de um candidato e a sua capacidade na prática para se destacar na função que desempenha e integrar-se numa empresa. O diploma deixa de ser tão importante. Isto pode parecer óbvio, mas muitas empresas tendem a concentrar-se demasiado nas credenciais e qualificações dos candidatos.
Outra das vantagens associadas à abordagem “skills-first” consiste na possibilidade de aumentar o compromisso, a satisfação e a retenção. As competências consideradas no processo de recrutamento envolvem soft skills, aspectos pessoais e sociais, além das competências relacionadas com a função, o que pode contribuir para melhorar a adaptação do colaborador, a sua interacção com a empresa, traduzindo-se num impacto positivo na dinâmica com as equipas e na produtividade.
Alguns factores a considerar numa abordagem “skills-first”:
- Avaliações e descrições com foco nas competências: Em vez de enumerar as qualificações exigidas e as responsabilidades do trabalho como os principais aspectos num anúncio de emprego, por exemplo, desenvolver as competências exigidas para a função. Mudar o foco para a forma como os candidatos podem demonstrar que têm as competências necessárias: testes, simulações e tarefas de role-play. Colaborar com consultores experientes que podem fornecer orientação na criação de avaliações personalizadas que revelem o verdadeiro potencial dos candidatos para além das entrevistas padrão.
- Empowerment: Promover uma cultura em que os RH e os gestores de contratação se sintam capacitados para valorizar as competências em vez das qualificações nas decisões de contratação, e que reconhecem que esta visão se alinha com os objectivos da empresa a longo prazo. Uma estratégia que tem impacto positivo no empoderamento e envolvimento das equipas e no crescimento do negócio.
- Utilizar Data: Quer se trate de insights em tempo real sobre o comportamento dos candidatos, as últimas tendências salariais ou a identificação de lacunas de competências, o conhecimento sustentado nos dados pode ajudar uma empresa a tomar decisões de contratação de forma informada. Permite também que as empresas refinem continuamente os seus processos de contratação com foco nas competências, aumentando a sua eficiência ao longo do tempo.
- Usar inovações como a IA: Ferramentas de IA podem tornar o recrutamento mais eficiente, por exemplo, utilizando programas para pesquisar um conjunto maior de candidaturas de emprego do que seria humanamente possível para encontrar a selecção mais adequada para a função, eliminando preconceitos, e aumentando, assim, as oportunidades tanto para os candidatos como para as empresas.
- Trabalhar com especialistas: A parceria com empresas com vasta experiência em recrutamento que enfatizam as competências, e com uma abordagem personalizada com soluções à medida do cliente, pode contribuir para aumentar a taxa de retenção e aumentar o acesso da empresa a candidatos de alta qualidade. Desta forma, permite ganhar vantagens competitivas e criar uma força de trabalho mais equitativa e inclusiva.
É disso que se trata a contratação que enfatiza as competências: uma compreensão mais profunda de todos os aspectos, que oferece contratações melhores, mais justas e mais inteligentes que podem ajudar as empresas na sua visão a longo prazo, em vez de apenas soluções de recrutamento a curto prazo.