Entrevista a Eduardo Taborda, Syone: «Gerir pessoas é claramente mais complexo do que gerir o negócio.»
Fundou duas empresas no sector tecnológico, que nos últimos anos tem evoluído com uma dinâmica frenética, mas é gerir pessoas que Eduardo Taborda considera mais complexo. Porque «cada pessoa é única, com diferentes motivações e expectativas, e garantir que todos estejam alinhados com a visão e os objectivos da empresa requer muita atenção ao detalhe». Mas também são elas que determinam o sucesso do negócio.
Por Ana Leonor Martins | Fotos Walter Vieira
Com mais de 30 anos e experiência no sector tecnológico, Eduardo Taborda constata que, ainda que o mercado português tenha demonstrado «uma evolução significativa na adopção de tecnologias digitais, há ainda algum caminho a percorrer». Mas acredita que «com adaptação estratégica ao paradigma actual da economia global, Portugal poderá rapidamente alcançar uma maturidade tecnológica equiparável aos mercados mais desenvolvidos». Não tem dúvida de que «a falta de adopção de tecnologias inovadoras irá resultar numa perda de competitividade» e alerta que «as pessoas precisam de ser capacitadas para trabalhar com as novas tecnologias. Em muitos casos, isso significa investir em formação contínua e em mudanças culturais dentro das organizações.»
Mas é outro aquele que identifica como o principal desafio no que respeita às pessoas: a atracção e retenção de talento. Não esconde que profissionais com experiência em tecnologias de ponta podem ser particularmente difíceis de encontrar, mas, mais difícil ainda, é juntar a isso as soft skills – e «são essas que distinguem os profissionais». Depois de encontrá-los, é preciso mantê-los, e o trabalho remoto veio dificultar essa tarefa. O “segredo” passará por proporcionar-lhes condições de desenvolvimento contínuo. Eduardo Taborda identifica este como o terceiro factor entre os que os profissionais mais valorizam, sendo o primeiro o salário, e o segundo a liderança.
Fundou a Syone em 2012. O que recorda dos seus primeiros desafios?
A Syone surge da Sybase SBS Software, criada em 1999, para responder à necessidade de uma empresa nacional especializada em tecnologia Sybase, mas rapidamente as tecnologias open source, como Red Hat & Linux Solutions, fizeram, também, parte da nossa área de actuação. A aquisição da Sybase pela SAP, em 2010, foi um ponto de viragem que nos desafiou a reinventarmo-nos como Syone, em 2012, expandindo o nosso foco para além das tecnologias Sybase.
Assim, inicialmente, o maior desafio da Syone foi conseguir deixar uma imagem de mais de uma década associada a uma marca muito forte, para que o mercado percebesse que era uma empresa mais abrangente e mais inovadora na sua visão e nas soluções que desenvolvia para o mercado. Para isso, estabelecemos novas parcerias estratégicas e investimos fortemente em tecnologia e na qualificação da nossa equipa.
Em mais de uma década, como é que esses desafios evoluíram?
Ao longo dos anos, o desafio foi essencialmente conseguir acompanhar a dinâmica frenética com que o mercado das tecnologias evoluiu, nomeadamente as tecnologias open source. Com o advento da revolução digital, esta dinâmica obriga as empresas e os seus clientes a um constante investimento, por forma a manter o compromisso contínuo com a excelência.
Quais são as prioridades agora, em termos de negócio?
As prioridades em termos de negócio envolvem principalmente a internacionalização dos nossos serviços em regime de nearshore, explorando novas geografias onde possamos replicar o nosso sucesso, dada a elevada capacidade e competência das nossas pessoas e o valor que, nesse sentido, podemos acrescentar aos clientes.
No que diz respeito à investigação e desenvolvimento [I&D], temos apostado na área de machine learning e inteligência artificial [IA], tendo lançado recentemente a framework ezSearch, uma solução de pesquisa empresarial baseada em IA, apresentada ao mercado no passado mês de Maio.
A inovação contínua e a manutenção de altos padrões de qualidade em tudo o que fazemos são essenciais para mantermos a nossa posição de liderança no mercado.
Sendo um centro de tecnologia open source, trabalham com as empresas com vista à sua transformação digital – e não só. Como classificaria a maturidade do mercado português no que respeita à utilização de tecnologia?
O mercado português tem demonstrado uma evolução significativa na adopção de tecnologias digitais, mas há ainda algum caminho a percorrer. Algumas grandes empresas Tier1, assim como a nível do aparelho do Estado ou com participação pública, estão na vanguarda, utilizando as mais recentes tecnologias para transformar os seus negócios e actividade, enquanto outras ainda estão no início dessa jornada. Acreditamos que, com as parcerias certas, um maior investimento em inovação e com adaptação estratégica ao paradigma actual da economia global, Portugal poderá rapidamente alcançar uma maturidade tecnológica equiparável aos mercados mais desenvolvidos.
Em que âmbitos as empresas portuguesas estão mais “atrasadas”?
Em Portugal, sempre tivemos a tradição de sermos early adopters e inovadores, algo que está no nosso ADN já desde o tempo dos Descobrimentos, e há muitas empresas portuguesas na vanguarda da adopção de soluções tecnologicamente inovadoras. Na nossa perspectiva, o atraso relaciona- se mais com a dinâmica de decisão relacionada com o negócio e alguma instabilidade relativamente aos mercados, do que com a questão da adopção de tecnologia que está disponível.
Leia o artigo na íntegra na edição de Setembro (nº. 165) da Human Resources, nas bancas.
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