Sete em 10 colaboradores em Portugal considera o seu salário injusto (e 43% defende remuneração por desempenho)
O estudo “Norms Insights 2024”, da Mercer, empresa do grupo Marsh McLennan, resulta da recolha de respostas de empresas a vários inquéritos realizados entre 2019 e 2023, que medem o nível de engagement dos colaboradores com as organizações.
Este estudo, que retrata a realidade nacional e estabelece um comparativo com inquiridos no continente europeu, ouviu 956 empresas e 8,4 milhões de colaboradores e apresenta uma análise comparativa das percepções dos colaboradores portugueses face aos congéneres europeus em vários subtemas: cultura e liderança; confiança no futuro, segurança, risco e compliance; relação com as chefias; colaboração e foco no cliente no dia-a-dia; eficiência operacional; cooperação; EVP (Employee Value Proposition); desenvolvimento da carreira; remuneração e benefícios; diversidade e inclusão e bem-estar dos colaboradores.
Os resultados mostram que mais de seis em cada 10 colaboradores em Portugal sentem-se motivados no trabalho e com as ferramentas certas para o desenvolver, mas, em comparação com a realidade na Europa e a nível global, apontam a necessidade de melhorias na eficácia com que o trabalho é organizado.
No que diz respeito à liderança na organização que integram, os colaboradores em Portugal são mais críticos em relação à comunicação ascendente da sua direcção do que os seus colegas europeus. 61% dos inquiridos nacionais considera que a liderança incentiva a comunicação de informações importantes, mesmo que se trate de más notícias, valor abaixo do apontado por congéneres europeus (64%) e o valor de referência a nível global (71%).
Quando questionados se a liderança se esforça por obter contributos, ideias e opiniões dos colaboradores, 51% dos inquiridos nacionais concordam com essa afirmação, valor abaixo dos congéneres europeus (54%) e o valor de referência global (63%). Igual tendência se verifica quando se procura aferir se as acções da liderança são consistentes com o que é dito: Portugal (55%), Europa (55%) e Global (63%).
No que diz respeito à percepção sobre a confiança no futuro, os colaboradores portugueses revelam-se confiantes (78%), em linha com o valor registado na Europa (76%), mas não têm a certeza sobre as decisões da direcção e a eficácia da gestão da empresa (54%) em contraponto com o valor registado na Europa (60%) e a nível global (70%).
Quando questionados se a empresa é uma organização bem gerida e correctamente administrada, 50% dos inquiridos portugueses concordam com a afirmação, que compara com 54% dos congéneres europeus e com o valor global de 66%.
Enquanto na componente segurança, risco e compliance, os aspectos éticos e de compliance são fortes em Portugal e estão a par ou excedem as normas europeias e globais, na relação com as chefias, os colaboradores em Portugal são ligeiramente menos positivos em relação aos seus gestores do que os outros europeus, com maior potencial de crescimento no feedback e no apoio ao desenvolvimento.
71% dos inquiridos nacionais indica que o seu líder directo dá feedback que ajuda a melhorar o desempenho (72% na Europa e 77% a nível global), valor que desce para 68% quando se trata de avaliar se tem apoio no seu desenvolvimento profissional (70% na Europa e 77% a nível global).
No que concerne à colaboração e foco no cliente, os trabalhadores portugueses estão significativamente acima dos mercados europeus na maioria dos aspectos da inovação, excepto na resposta rápida às necessidades dos clientes (56% em Portugal, 58% na Europa e 69% a nível global). Nota para o facto de 73% dos inquiridos nacionais indicarem que os colaboradores podem exprimir as suas ideias e opiniões sem receio de consequências negativas, valor acima do registado na Europa (67%) e a nível global (69%).
Analisando o tópico da eficiência operacional, 69% dos colaboradores portugueses dizem sentir que dispõem das ferramentas e recursos adequados para fazer o seu trabalho correctamente (69% na Europa e 75% a nível global). 51% dos inquiridos em Portugal considera que o trabalho é bem organizado no seu local de trabalho (53% na Europa e 62% a nível global).
Os colaboradores em Portugal têm uma grande diferença de opinião entre a cooperação na empresa (74%) e entre diferentes departamentos (50%), estando ambas abaixo das pontuações da Europa (77% e 55%) a nível global (79% e 64%), respectivamente. Em Portugal, os trabalhadores sentem-se mais capacitados (75%) do que os seus colegas europeus (72%), mas são ligeiramente mais críticos em relação à rapidez dos processos de tomada de decisão (53% em Portugal, 54% na Europa e 63% a nível global).
No que diz respeito ao desenvolvimento da carreira, em comparação com a Europa (77%), os trabalhadores em Portugal são mais negativos (72%) quanto à utilização das suas competências e potencialidades profissionais, mas estão mais satisfeitos com os seus percursos (56% face a 52% na Europa) e objectivos de carreira (60% face a 58% da Europa).
Quanto à remuneração e benefícios, os colaboradores nacionais são mais favoráveis à remuneração por desempenho (43%) e ao seu pacote de benefícios (68%) do que os seus colegas europeus (41% e 64%, respectivamente), no entanto, existe uma grande diferença em termos de remuneração justa: apenas 31% dos inquiridos portugueses considera que é remunerado de forma justa, face aos 49% de congéneres europeus e 55% do valor global.
No que concerne à vertente Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI), Portugal está abaixo da norma europeia no que respeita a tratar as pessoas de forma justa (76% face a 80% na Europa) e a proporcionar um local de trabalho sem discriminação (76% face a 83% na Europa), mas está no nível de referência no que respeita à capacidade de sucesso de pessoas diversas (79% face a 77% na Europa).
Na componente de bem-estar, Portugal está ligeiramente acima da Europa em termos de equilíbrio trabalho/vida pessoal (67% face a 66% na Europa) e carga de trabalho (64% face a 62% na Europa), mas ligeiramente abaixo em termos de stress no trabalho (69% face a 71% na Europa) e de preocupação da empresa com o bem-estar dos seus colaboradores (54% face a 56% na Europa).
Em termos globais, este estudo demonstra que, na maioria dos aspectos de engagement dos colaboradores com as empresas, Portugal está numa tendência estável e ligeiramente decrescente desde 2020, sendo a categoria de avaliação “Recomendar” o mais estável. “Orgulho” e ‘Aguardar com ansiedade’ registaram uma descida de um ponto percentual em comparação com o ano passado, enquanto ‘Motivado’, ‘Satisfação’ e ‘Recomendar’ não sofreram alterações em relação a 2023. O único aspecto que apresenta um padrão diferente é “Permanecer”, que está numa trajectória positiva desde 2021.