Mobilidade Interna: o caminho para fidelizar talento e impulsionar o crescimento organizacional

Por Bernardo Samuel, director de Recrutamento Especializado da Adecco

 

Nos dias que correm, em que o mercado de trabalho está em constante evolução e a procura por talento qualificado se encontra em níveis elevadíssimos, as empresas enfrentam o desafio de fidelizar os seus colaboradores. Para responder a essa necessidade, a mobilidade interna é uma estratégia que, não só permite que os colaboradores cresçam e evoluam dentro da organização, como também diminui o risco de procura de oportunidades fora da empresa. Mas será que esta abordagem, por si só, é eficaz para garantir a fidelização de talento?

A mobilidade interna consiste na movimentação de colaboradores dentro da própria empresa, seja entre diferentes departamentos, funções ou locais. Este movimento poderá responder tanto às necessidades organizacionais, como também ao desejo dos colaboradores em desenvolver novas competências, enfrentar novos desafios e progredir na sua carreira. Segundo um estudo do LinkedIn, os colaboradores que mudam para novos cargos internamente têm 3,5 vezes maior probabilidade de estarem envolvidos, assim como de acordo com o relatório, Global Human Capital Trends, da Deloitte, 32% das empresas acreditam que a mobilidade interna é necessária para aumentar o engagement dos colaboradores.

Por outro lado, a falta de progressão interna é uma das principais razões pelas quais os trabalhadores optam por procurar novas oportunidades. Num mercado onde a procura por talento qualificado está a atingir novos picos, promover a mobilidade interna pode ser a chave para uma estratégia de fidelização bem-sucedida.

Desta forma, para os colaboradores, a mobilidade interna oferece benefícios claros. Primeiro, promove a aprendizagem contínua, permitindo o desenvolvimento de novas competências que aumentam a sua adaptabilidade e empregabilidade no futuro. De acordo com um estudo da Linkedin Learning, 94% dos trabalhadores afirmam que ficariam mais tempo numa empresa se esta investisse no seu desenvolvimento profissional. Além disso, a mobilidade interna permite ainda uma maior satisfação profissional, ou seja, quando um colaborador sente que a sua evolução é uma prioridade da organização, ele estará mais motivado e comprometido – não nos podemos esquecer que a sensação de estagnação no trabalho pode ser um dos maiores factores de desmotivação. Por esse motivo, facilitar a movimentação interna é uma forma eficaz de renovar o entusiasmo e o compromisso dos colaboradores.

Do ponto de vista da organização, a mobilidade interna não só ajuda a fidelizar talento, como também contribui para o crescimento sustentável da empresa, dado que a contratação externa tem um custo elevado e nem sempre garante que o novo colaborador terá uma adaptação rápida à cultura e às dinâmicas internas da empresa. Em contrapartida, ao investir no desenvolvimento interno, estas podem contar com profissionais que já estão familiarizados com a sua missão, valores e processos, proporcionando uma adaptação mais rápida e eficaz.

Assim, as empresas que apostam na mobilidade interna também beneficiam de uma maior flexibilidade operacional. Em vez de procurar novas contratações quando surgem novas funções ou projectos, estas conseguem deslocar rapidamente os seus colaboradores para áreas ou departamentos em crescimento, aproveitando ao máximo o seu talento interno, obtendo directamente ganhos em eficiência, uma vez que os colaboradores já conhecem a estrutura e a dinâmica da empresa.

No entanto, a mobilidade interna não está isenta de desafios. Um dos maiores obstáculos é a falta de comunicação clara e estruturada sobre as oportunidades internas, dado que muitas empresas não dispõem de um sistema adequado para divulgar as vagas ou programas de mobilidade interna, o que faz com que os colaboradores nem sempre saibam das oportunidades existentes. Outro dos grandes desafios será o receio que muitos colaboradores poderão sentir, de se candidatarem a outra posição. No limite, poderão não ser os seleccionados para a mesma, demonstrando à sua chefia algum nível de desmotivação na sua actual função. Por outro lado, impõe-se que os vários líderes organizacionais promovam um espírito de cooperação e visão estratégica, por forma a viabilizarem e promoverem os ajustes necessários nas suas equipas, tendo em vista o crescimento organizacional.

Tal como refere um estudo da Deloitte, 65% dos colaboradores afirmam que a sua empresa não promove adequadamente a mobilidade interna. Para superar este desafio, as empresas devem criar plataformas dedicadas que permitam a divulgação de vagas internas, além de fomentar uma comunicação aberta e transparente entre gestores e colaboradores sobre o futuro de cada profissional na organização.

Outro desafio é garantir que a mobilidade interna não se traduza apenas em mudanças laterais, mas também em progressão de carreira. Sem um plano claro de desenvolvimento que mostre aos colaboradores como podem progredir na hierarquia, a mobilidade pode ser vista como estagnação. Deste modo, a criação de planos de carreira claros e transversais a toda a organização, assim como programas de mentoria e coaching, por exemplo, podem ajudar a garantir que os colaboradores entendam o valor de cada transição e posicionamento hierárquico e que vejam nela um caminho para o crescimento profissional.

Num mundo onde a adaptação e o desenvolvimento são cruciais para o sucesso, esta abordagem surge como uma solução estratégica para fidelizar talento e promover o crescimento organizacional. Mais do que uma ferramenta de gestão de recursos humanos, trata-se de uma estratégia essencial para garantir que as empresas estão sempre preparadas para os desafios futuros. Ao criar um ambiente onde os colaboradores podem crescer e evoluir, as empresas constroem uma cultura resiliente e inovadora, pronta para prosperar no cenário global.

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