Sara Mendes, KLx: As diferenças como ponte e não como barreira

Com colaboradores de 15 nacionalidades, dos 24 aos 66 anos, a diversidade não é terreno desconhecido na KLx, e todos os novos colaboradores recebem apoio personalizado para se sentirem incluídos e bem recebidos. As mais-valias são muitas e a vários níveis, mas os desafios também.

 

Por Tânia Reis

 

Sediada em Lisboa, a KLx, campus tecnológico do grupo Crédit Agricole, desenvolve software para os parceiros do grupo, além de trabalho de consultoria e apoio à transformação digital, sobretudo na área de finanças e seguros. Actualmente, contam com uma equipa de 571 colaboradores – 230 dos quais internos – especialistas em várias áreas, «desde o desenvolvimento de software, gestão de aplicações, Agile, análise funcional, gestão de projectos até à garantia de qualidade», explica Sara Mendes, head of People and Talent. Com uma idade média de 39 anos e maior representatividade do género masculino (65%), a maioria (72%) são portugueses, mas a força de trabalho abrange 15 nacionalidades, de países como Brasil, França e Tunísia.

A gestão de Recursos Humanos segue «as guidelines daqueles que são os valores do grupo Crédit Agricole», num «esforço contínuo para que todos sejam incluídos na KLx e nas equipas de trabalho, sem qualquer discriminação». Aliás, a responsável garante que «não há mesmo espaço na empresa para que aconteçam estas situações», e exemplo disso é o facto de nunca terem tido nenhum caso reportado.

A política de diversidade da KLx começa logo no onboarding. «Todas as nossas equipas têm cuidado e preocupação quando está a entrar alguém», conta, realçando que esse «esforço é ainda maior quando essa pessoa não é portuguesa». Além de a empresa disponibilizar aulas de português, «não só para que todos os colaboradores possam aprender a língua», mas porque considera ser peça-chave na integração e facilitadora da comunicação, os colaboradores são sensibilizados para darem um apoio extra na integração, tanto profissional como pessoal. Inclusivamente, prestam «apoio personalizado para que todos se sintam incluídos e bem recebidos», e a gestora de Pessoas recorda o episódio em que um representante dos Recursos Humanos acompanhou «um colaborador, que tinha chegado recentemente a Portugal, às finanças para obter um número de identificação fiscal e também auxiliar no processo de renovação dos vistos».

Uma das iniciativas em que apostam são as festas e os dias temáticos de cada nacionalidade. «Há pouco tempo, por exemplo, houve uma festa africana, que permitiu não só a união daqueles que partilham este continente de origem, como também a possibilidade de partilhar mais sobre a sua cultura com os restantes colegas.»

A diversidade na KLx também se experiencia nas «várias religiões que estão associadas a diferentes costumes. Mais uma vez, procuramos internamente que haja tolerância e espaço para que cada pessoa se sinta à vontade para praticar aquilo em que acredita, sem se sentir marginalizado», faz notar Sara Mendes.

Ainda que não sintam grandes desafios na implementação destas iniciativas, a responsável reconhece que «inicialmente, existe alguma dificuldade, em termos de língua, a chegar mais facilmente às pessoas» e acrescenta que as diferenças na comunicação são perceptíveis e requerem maior atenção para que a mensagem seja bem compreendida.

 

Valor acrescentado
Para Sara Mendes, o facto de ter pessoas diferentes na empresa ajuda a que todos os colaboradores e todas as equipas sejam mais tolerantes e estejam mais envolvidas nos processos de acolhimento. «Sentimos que os nossos profissionais têm uma grande sensibilidade e uma forma cuidada de receber alguém que vem de outro país, para que não se sinta desconfortável.»

As diferenças que distinguem as pessoas acabam também por as aproximar e aumentam a envolvência dos colaboradores que, nesta procura por serem acolhedores, apoiam num acompanhamento adequado às necessidades de cada um. «Há exemplos de equipas que ajudaram novos colaboradores a encontrarem minimercados com produtos do seu país de origem, por exemplo. Podem parecer gestos simples, mas são acções que acabam por contribuir para a visão da diversidade desenvolvida na KLx.»

Convicta de que a diversidade traz vantagens às empresas, a especialista destaca o facto de colaboradores de várias culturas e com diferentes realidades enriquecerem as equipas e a KLx como um todo. «Cada colaborador traz consigo uma bagagem de diferentes perspectivas, acrescentando valor àquelas que são as nossas formas de ver o mundo, os desafios e os problemas», afirma. E é peremptória ao dizer que «o contacto com novas perspectivas, ainda que na terceira pessoa, contribui muito para que a organização tenha cada vez mais valor». Nesse sentido, começaram a desenvolver formações internas, para que «todos aqueles que tenham experiências de outras empresas ou de outros países possam ter espaço para partilhar abordagens, conhecimento, experiências».

Sara Mendes garante que não vêem «as diferenças como uma barreira, mas como uma ponte», reconhecendo que «há sempre espaço para melhorar». Melhorar e tornar a empresa mais atractiva, porque é precisamente isso que o convívio das diferentes culturas no mesmo ambiente faz à cultura organizacional. «O valor que cada pessoa traz enriquece a KLx e, embora estejamos sediados em Lisboa, o nosso objectivo é conseguirmos abraçar e acolher pessoas de todos os pontos do mundo», assegura.

 

Barreiras legais e logísticas
Não obstante, a head of People and Talent confessa que tanto atrair como manter talento diverso são tarefa difícil. «Atrair é sempre complicado, uma vez que ainda há constrangimentos na atracção de talento proveniente de outros países, nomeadamente a nível burocrático nacional.» Já no que diz respeito a fidelizar, a dificuldade é outra. «Estes colaboradores vêm, muitas vezes, sozinhos para Portugal, e é complicado gerir emocionalmente o isolamento da família.» Por outro lado, refere, quando trazem a família, a integração do agregado como um todo e a acessibilidade à língua portuguesa por parte de todos os elementos podem ser complicadas. É aí que têm de «pensar no que motiva estes profissionais, não só a virem, mas a ficarem cá, sem encararem a oportunidade como uma passagem temporária ou divergindo para outros países de mais fácil integração».

Actualmente, o desafio habitacional também não ajuda, especialmente em Lisboa, onde a KLx está sediada. «A conjuntura económica actual não é ideal à atracção e retenção de talento, com o aluguer de casas a colocar alguns entraves financeiros», admite. Nesses casos, e como há vários colaboradores na mesma situação, a empresa procura sensibilizar para outras soluções, como a procura de casas mais na periferia com fácil acesso aos transportes. «A arte de bem receber ajuda também neste ponto, uma vez que a conexão entre colegas abre novos caminhos e hipóteses para desafios que acabam por ser comuns.»

Com colaboradores dos 24 aos 66 anos e de 15 nacionalidades, os inúmeros espectros da diversidade, como género, idade, incapacidade, etnia, já fazem parte do ADN da KLX para que todos os colaboradores se sintam integrados. Contudo, Sara Mendes sublinha que, «no contexto nacional, o investimento nesta área tem de ser um esforço conjunto de todos, porque o caminho a percorrer na sociedade ainda é longo. Uma coisa é sermos uma empresa diversa e que, em termos estatísticos, tem pessoas de diferentes idades, nacionalidades, religiões, culturas, outra coisa é essas pessoas estarem cá e estarem bem integradas, sentindo-se confortáveis e não sozinhas ou marginalizadas», ressalva. Por isso, defende que este envolvimento com a empresa e com as equipas é essencial para a inclusão dos colaboradores.«É realmente necessário que as empresas desenvolvam uma estratégia estruturada no recrutamento de pessoas estrangeiras e diversas, que tenha em conta as diferenças culturais e os vários costumes, para que seja eficaz e capaz de reter talento.»

Quanto ao futuro, Sara Mendes considera que a pandemia e a forte globalização trouxeram grandes alterações ao mundo do trabalho. «Na KLx, esta união do mundo permite que tenhamos tantas nacionalidades a trabalhar na mesma empresa e sem estarem 100% em teletrabalho.» Ainda assim, a dificuldade na obtenção de vistos para trabalhar, principalmente depois da extinção do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, começa a ser um entrave a que haja ainda mais multiculturalidade, alerta.

Os acordos estratégicos estabelecidos entre vários governos, nomeadamente com PALOP e Brasil, têm ajudado a contornar estas situações, permitindo um acesso mais facilitado a vistos de trabalho, já que o desenvolvimento de hubs tecnológicos – e «Lisboa tem-se posicionado admiravelmente nesse aspecto» – tem atraído muito interesse por parte de profissionais que querem construir carreira em Portugal.

 

Este artigo foi publicado na edição de Dezembro (nº. 168) da Human Resources.

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