Factores ambientais, um desafio de saúde e de… gestão!

Por António Saraiva, Business Development manager ISQ Academy

Quando, no final de cada ano, são analisadas e disseminadas as megatendências para o ano seguinte verifica-se sempre uma recorrência associada a factores demográficos e ambientais. Sem dúvida que é algo de positivo, pois a consciência dos problemas que lhes estão associados está presente. O reverso da medalha é que acabamos por detectar que pouco, e já numa perspectiva optimista, é concretizado.

Apesar de, na Europa e especificamente em Portugal, discutirmos o envelhecimento da população, a verdade é que existem relatórios que alertam para a designada sobrepopulação. Mas nada melhor do que números. Foram necessários 200 mil anos para que a população mundial atingisse os mil milhões, concretamente no ano de 1803, mas apenas 220 anos para que chegasse aos oito mil milhões, em Novembro de 2023. O grande problema é que o planeta perdeu a capacidade de regeneração para sustentar este número.

Muitos erros têm sido cometidos provocando ainda maior dificuldade, aumentando a incapacidade particularmente crítica de alimentar as pessoas. A duplicação nos últimos 50 anos da emissão de gases com efeito de estufa, que provocam alterações climáticas acentuadas, já para não falarmos na deflorestação crescente que agrava o problema. E tudo o que deriva daqui, desde o aumento das temperaturas, incêndios e inundações cada vez mais catastróficas e 75 % da superfície terrestre sem gelo. Para não falarmos na degradação dos ecossistemas e a poluição que se tem intensificado.

É por isso mesmo que tudo o que são alertas públicos são relevantes, mas não chega. O problema não pode ser equacionado à luz da sobrepopulação, pois as pessoas merecem uma vida digna, com as suas necessidades básicas bem respondidas e oportunidades de desenvolvimento. Temos sim é de cuidar do mundo que nos rodeia. Cuidemos, pois, do ambiente em particular. E não negligenciemos a importância dos factores ambientais nas doenças. Se acrescermos à dificuldade de alimentar as pessoas, novas doenças e até pandemias, como a mais recente, o problema que enfrentamos exponencia-se.

Segundo dados recentes, uma em cada quatro mortes no mundo é causada por factores ambientais. A saúde humana degrada-se de forma cada vez mais acentuada em consequência da aceleração das alterações climáticas, aumento da poluição e perda da biodiversidade. Urge, pois, que as políticas de saúde não estejam alheadas destes factores. Os diagnósticos existem, os observatórios fazem cada vez mais estudos, mas, como na maioria dos casos, onde está em particular a prevenção? Porque não uma transversalidade de análise e intervenção sobre o problema. É responsabilidade dos organismos de Saúde Pública? Sem dúvida. Mas não só. Certamente, as estruturas de Medicina do Trabalho nas organizações também podem dar o seu contributo. E logicamente os sistemas nacionais de saúde.

A verdade é que falta coordenação, falta certamente formação específica a todos os profissionais de saúde sobre esta forte ligação entre Ambiente e Saúde. Mas existe legislação de suporte sobre as questões da pegada ambiental nos serviços de saúde e, até, no que se espera de outras estruturas da sociedade? Em Portugal, em particular, espera-se muito, neste particular, do trabalho que advém do Observatório Português da Saúde e Ambiente. Há, pois, que parabenizar o Conselho Português para a Saúde e Ambiente por esta iniciativa e acreditar no seu valioso contributo. Contudo, toda a sociedade tem de contribuir. Com a responsabilidade mais do que óbvia do Estado em se comprometer e, muito, em comunicar. Mas também estabelecendo as pontes das responsabilidades inerentes que possibilitem acções coordenadas de intervenção.

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