Skills-Powered Organizations: uma nova era
Por Diogo Alves, Talent Strategy consultant da Mercer Portugal
Num contexto de mudança acelerada, as organizações enfrentam pressões internas para impulsionar a produtividade e reter talentos, enquanto lidam com factores externos, como a escassez de recursos, a automação, a robotização e a crescente relevância da Inteligência Artificial no mercado de trabalho. Esta convergência desafia as empresas a repensarem as suas estratégias de Gestão de Pessoas, focando-se na aquisição, retenção e desenvolvimento de competências.
Por sua vez, a perspectiva dos colaboradores também mudou: já não procuram apenas estabilidade, segurança ou carreiras lineares, mas sim a oportunidade de adquirir novas competências que lhes permitam mobilidade, crescimento profissional e desenvolvimento pessoal. A combinação de factores internos e externos reforça a ideia de que o foco na produtividade só é sustentável se estiver indexado a um investimento consistente e contínuo no desenvolvimento de competências.
Reconhecendo, por isso, as competências como um pilar estratégico, uma das prioridades no Top 10 da agenda dos Recursos Humanos tem sido desenhar os processos de gestão do talento em torno destas (Mercer Global Talent Trends, 2024). Falamos de um “salto” evolutivo para Skills-Powered Organizations.
Uma Skills-Powered Organization é aquela que coloca as competências no centro das decisões de Gestão de Pessoas. Em vez de se focar somente em cargos e funções estáticas, estas organizações identificam, avaliam e desenvolvem as competências necessárias para concretizar a sua estratégia de negócio, reconhecendo que as necessidades evoluem constantemente, com uma dinâmica e velocidade cada vez maiores. Deste modo, cria-se um ecossistema de aprendizagem contínua, onde os colaboradores são incentivados a desenvolver novas competências ou a actualizá-las, mantendo a organização competitiva e resiliente.
Enquanto as organizações tradicionais tendem a focar-se em descrições estáticas de funções e carreiras rígidas, as Skills-Powered Organizations reconfiguram o talento e a estrutura a partir das competências necessárias para potenciar o negócio e concretizar a estratégia. Ao adoptar esta abordagem, as organizações ganham agilidade para responder a mudanças rápidas e incertas. Com uma visão clara das competências disponíveis e das que precisam ser desenvolvidas, as equipas aumentam a produtividade, a adaptabilidade e a capacidade de inovação. Além disso, obtêm custos reduzidos de recrutamento externo, pois é possível realocar os actuais colaboradores, actualizando o seu conjunto de competências às novas realidades e necessidades emergentes.
Para os colaboradores, trabalhar numa Skills-Powered Organization significa ter acesso a oportunidades contínuas de aprendizagem e desenvolvimento. Isto traduz-se em carreiras mais ricas e menos vulneráveis às disrupções tecnológicas, uma vez que os colaboradores são incentivados a adquirir novas competências que lhes permitem evoluir e contribuir para as diferentes necessidades do negócio. Por outro lado, aumenta a sua realização profissional, pois o foco está no que cada pessoa sabe fazer e no que pode aprender, elevando a sua motivação e compromisso.
Mas como começar esta jornada? O primeiro passo consiste em realizar um mapeamento das responsabilidades e actividades existentes na organização e dos respectivos resultados. Em seguida, é essencial criar uma framework de competências, actuais e futuras, que clarifique como concretizar as responsabilidades e actividades previamente mapeadas. Por fim, deve-se integrar os processos de upskilling e reskilling com políticas de gestão de RH, nomeadamente avaliação de desempenho, carreiras e desenvolvimento, de forma a assegurar a sua coerência interna e sustentabilidade, além da gestão e manutenção da base de dados de competências da organização.
A transformação em direcção a uma Skills-Powered Organization não acontece de forma imediata, mas cada passo é decisivo para construir um futuro resiliente. É indispensável investir em competências e na criação de oportunidades de crescimento para os colaboradores – o retorno reflectir-se-á num negócio mais ágil, inovador e preparado para o amanhã.