Há um conflito nas empresas que se está a intensificar, entre a procura de flexibilidade e a exigência do regresso ao escritório. Como está a ser resolvido?

Numa altura em que as empresas voltam a exigir o retorno dos seus colaboradores ao escritório, a Robert Walters revela como é que o panorama laboral está a mudar e sobre o conflito existente entre uma procura pela flexibilidade e a pressão para voltar.

 

Nos últimos anos, a forma como equilibramos o trabalho e a vida pessoal passou por uma transformação significativa, reflectindo as mudanças culturais, tecnológicas e sociais que se foram instalando nas nossas vidas.

Evoluímos de uma mentalidade de work-life balance para modelos mais fluidos, como é o caso do work-life integration e mais recentemente para o work-life blended (um conceito que permite definir qual a fórmula que quer utilizar na sua vida, tendo como base as prioridades e não os papéis que desempenho). Os modelos de trabalho foram-se alterando de forma significativa, mas, ainda assim as organizações estão novamente a impor um regresso ao escritório, tornando-se este num dos maiores desafios enfrentados pelas empresas e colaboradores atualmente.

Segundo a Robert Walters, o work-life blended é nos dias de hoje, o modelo principal nas organizações porque vai para além da integração, propondo uma fusão mais profunda entre o trabalho e a vida pessoal enquanto algo natural e contínuo. Surge como a nova resposta aos modelos de trabalho até então estabelecidos e sugere uma mudança de mentalidade significativa: «as pessoas procuram um equilíbrio entre as suas necessidades pessoais e profissionais de forma orgânica e adaptável, aproveitando ao máximo o tempo e os recursos disponíveis».

 

A pressão para voltar ao escritório após a cultura do trabalho remoto
Apesar deste ganho significativo no mundo laboral, muitas empresas estão a pressionar os colaboradores a regressarem aos escritórios, em parte devido à ideia de que o trabalho presencial melhora a colaboração, a cultura organizacional e a produtividade. Este regresso é visto como uma forma de restaurar o que foi perdido com o trabalho remoto, mas, no entanto, as opiniões dos colaboradores não se manifestam da mesma maneira.

Enquanto as organizações argumentam que o trabalho presencial é essencial para a inovação e o espírito de equipa, muitos trabalhadores consideram esta exigência um retrocesso, especialmente aqueles que já integraram a flexibilidade do trabalho remoto nas suas vidas.

 

O conflito entre o Work-Life Blended e a exigência do retorno ao escritório
O grande problema que esta mudança de paradigma traz consigo é o conflito entre o modelo de work-life blended com a pressão do retorno ao escritório, pois a flexibilidade que proporciona é justamente a grande vantagem do trabalho remoto/híbrido.

«É importante ouvir quais são as necessidades dos trabalhadores, sendo que 50% não se sente confortável com o retorno ao modelo presencial total. A grande maioria quer continuar com algum grau de trabalho remoto ou híbrido e é necessário que as chefias tenham isso em consideração se quiserem continuar a fazer crescer a sua organização», disse David Ferreira, Country head Portugal da Robert Walters.

Para além da perda de flexibilidade, outro ponto de tensão relevante está relacionado justamente com a produtividade e a performance. Algumas empresas defendem que a produtividade aumentou com o trabalho remoto, mas a pressão para voltar ao escritório é justificada pela crença de que a presença física melhora o desempenho das equipas. No entanto, muitos estudos mostram que, para uma grande parte da força de trabalho, o trabalho remoto ou híbrido não afecta a produtividade e pode, na verdade, aumentá-la devido ao melhor equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.

«A resistência ao regresso ao escritório está a crescer, especialmente entre os mais jovens com 61% dos trabalhadores da geração millennial e 55% da geração Z a preferirem trabalhar remotamente ou num modelo híbrido, sendo que uma parte significativa desses trabalhadores não está disposta a retornar ao escritório em tempo integral», diz David Ferreira.

Algumas empresas estão a tentar equilibrar estas reivindicações ao adoptarem modelos híbridos, permitindo aos colaboradores usufruir de alguma flexibilidade, mas com a oportunidade de interagirem pessoalmente quando necessário. Outras organizações optaram por retornar totalmente ao trabalho presencial, especialmente em sectores que dependem da interação física constante e que estão a enfrentar resistência por parte dos seus funcionários, que valorizam cada vez mais, a autonomia e a flexibilidade adquiridas.

Organizações que consigam adoptar uma abordagem flexível e híbrida, respeitando as necessidades e preferências dos seus colaboradores, estarão mais bem posicionadas para prosperar, promovendo um ambiente de trabalho saudável e atraente para os talentos do futuro. Para a Robert Walters, a chave para o sucesso será, portanto, a adaptação constante às novas realidades e a criação de modelos de trabalho que integrem tanto a necessidade de colaboração física quanto a flexibilidade exigida pelas novas gerações.

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