Consultoria imobiliária: bem-vindos à era da independência

O sector imobiliário está a viver uma das maiores transformações da sua história, impulsionado pela digitalização e pela adopção de modelos de trabalho mais ágeis, flexíveis e disruptivos, que podem ser explicados por factores relacionados com as mudanças no mercado de trabalho, na tecnologia e nas preferências individuais.

Por Carolina Xavier e Sousa, head of Marketing & Communication da iad Portugal

Nos últimos anos, o número de consultores imobiliários a optar por modelos independentes tem crescido de forma exponencial em vários mercados, atraídos pelo potencial de remunerações mais elevadas, por um maior equilíbrio entre a vida profissional e pessoal, e uma maior autonomia. O relatório da National Association of REALTORS®, referente a 2024, revela que 88% dos seus cerca de 1,5 milhões de membros são profissionais independentes, a operar dentro de empresas. Gerem os seus próprios negócios e a sua carteira de clientes, mas contam com o apoio de uma organização que lhes oferece as ferramentas e os recursos de trabalho necessários.

Com quase uma década de experiência no sector imobiliário, reconheço claramente as vantagens do modelo independente, que proporciona a autonomia necessária aos profissionais para exercerem a sua profissão de forma plena, tendo a digitalização como o principal motor desta transformação.

As plataformas digitais são essenciais neste caminho, ao permitir aos consultores imobiliários fazer prospeção digital, gerir leads, criar campanhas de marketing, acompanhar transacções e comunicar com clientes de forma mais eficiente, autónoma e direccionada, seja onde for. Estas ferramentas possibilitam realizar a maior parte das tarefas remotamente, enquanto em momentos cruciais, como visitas a imóveis ou reuniões presenciais, continuam a garantir um atendimento personalizado e próximo.

Além disso, os avanços digitais, especialmente nas ferramentas de gestão e inteligência artificial, optimizam o tempo e simplificam processos, permitindo que os consultores se concentrem no que realmente importa: construir relações sólidas e oferecer um apoio dedicado aos clientes.

Se para os clientes esta evolução se traduz em experiências mais intuitivas, práticas e personalizadas, que vão desde a pesquisa de imóveis até à concretização do negócio, também ao profissional oferece a vantagem competitiva de poder optimizar o seu tempo ao alternar entre o trabalho remoto, onde se pode dedicar a tarefas administrativas, e no terreno, onde pode fazer atendimentos personalizados e visitas aos imóveis, num contexto de maior autonomia e liberdade.

Por sua vez, a análise de dados, facilitada pela digitalização, também contribui para uma maior eficiência do consultor, ajudando-o a compreender e atender melhor as necessidades e desejos dos seus clientes.

Embora o modelo independente ofereça inúmeras vantagens, também apresenta desafios significativos, especialmente num sector em rápida transformação. A crescente digitalização exige dos profissionais um elevado grau de adaptação e um compromisso constante com a formação. Para se destacarem, é essencial que desenvolvam competências técnicas e de comunicação, além de uma compreensão profunda do mercado. Mais do que isso, devem ser empáticos, capazes de compreender as necessidades dos clientes, reconhecendo que a compra de uma casa representa, para muitos, a concretização do sonho de uma vida.

Este desafio torna-se ainda mais evidente no contexto da actual crise de habitação que vivemos em Portugal. Num cenário em que os preços duplicaram nas principais cidades e a relação entre rendimentos e custo da habitação é uma das mais desfavoráveis da Europa, o papel dos consultores imobiliários é crucial.

O sector atravessa uma transformação irreversível, impulsionada pela convergência entre tecnologia, independência e proximidade, criando oportunidades para os profissionais. Acredito que os consultores imobiliários que adoptam modelos digitais e independentes estão mais bem posicionados para enfrentar os desafios de um mercado em constante evolução.

Além das vantagens já mencionadas, modelos de trabalho alternativos e inteligentes, como a integração numa rede que permita aos profissionais construir, ao longo da sua carreira, um verdadeiro activo comercial (património transaccionável) e operar em diferentes mercados internacionais, oferecem uma maior flexibilidade e uma base sólida para o crescimento a longo prazo, assegurando não só a adaptação ao futuro, mas também o aproveitamento de novas fontes de rendimento menos dependentes das flutuações de um só mercado.

Bem-vindos à era da independência, onde o sucesso individual depende da capacidade de adaptação e da vontade de ir mais além, moldando um sector mais ágil, humano e acessível a todos.

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