Procurar e definir os profissionais 4.0
Serem capazes de reter talentos que procurem flexibilidade e propósito, com novas formas de recrutamento e através de dados são alguns dos passos que as empresas vão precisar para sobreviver à revolução digital.
A XIV Conferência da Human Resources teve também como novidade no programa o momento «Trends and Experiences», que contou com apresentações da Caixa Económica Montepio Geral (CEMG), da Randstad Portugal e da Microsoft Portugal, para analisar como a tecnologia está a mudar a forma como os talentos procuram emprego e como as empresas devem adaptar-se para retê-los.
Há profissões que encontram oportunidades nestas mudanças, como é o caso da profissão de data scientist, precisamente a função de Ana Carina Marques na CEMG, que, na sua apresentação sobre “Competências 4.0 para Organizações 1.0”, explicou ao público o que, na sua opinião, define um bom profissional nesta área, as competências que precisa ter. E assumiu que não é fácil encontrar este perfil no mercado.
Um data scientist procura respostas e formula hipóteses e tem de ser capaz de extrair informação a partir dos dados. Quando desenha o retrato do data scientist, Ana Carina Marques afirma que este tem de ter competências matemáticas, uma natureza inquisitiva, trabalhar com agilidade, sendo capaz de adaptar os algoritmos, ser capaz de resolver problemas e pensar fora da caixa, comunicar bem com qualquer pessoa e saber chegar à audiência (capacidade que a representante do Montepio diz mais procurar nos candidatos), e claro, saber trabalhar as ferramentas tecnológicas e querer estar no negócio.
Inês Veloso, directora de Marketing da Randstad Portugal, falou sobre “Machine Learning”. E quando o tópico é o recrutamento, alertou que a tendência vai ser para o mundo possuir talentos envelhecidos em 2035.
A directora de Marketing considera que a data science pode ajudar no recrutamento 4.0, pois o uso de data pode levar a saber, por exemplo, que regiões procuram determinadas indústrias, identificar clusters e competências comportamentais e dar aos recrutadores mais informação sobre os candidatos.
Inês Veloso acredita que a procura de CVs e a pesquisa na internet continua a ser o essencial mas, e apesar do recrutamento já ser mais tecnológico e haver muitos sites para pesquisar ofertas de emprego, a velocidade a que tecnologia está a evoluir faz com que a forma como hoje ligamos as pessoas ao emprego, amanhã já esteja desactualizada. Assim, acredita que o recrutamento 4.0 se vai basear num algoritmo suportado por um supercomputador.
Tornar as empresas future-proofed
Mas vai haver outra adaptação a fazer. A partilha do ambiente do trabalho com robôs e inteligência artificial. Apesar da tendência para prever a substituição de postos de trabalho por estes “novos colegas”, a escassez de talento vai continuar a ser um problema.
30% dos trabalhos em tecnologia estão previstos como vagos em 2020, o que significa que mais de 30% de trabalhadores qualificados vão ser precisos, mas não encontrados. Estes são os dados analisados na intervenção de Dália Turner, directora de Recursos Humanos da Microsoft Portugal, sobre “Preparing for a Digital Future”.
«Temos de pensar de forma diferente», defendeu. «70% dos empregos vão ser diferentes devido à chegada de bots e outros instrumentos tecnológicos e 65% das crianças de hoje vão ter empregos que ainda não existem.»
A responsável acredita que um dos exemplos principais de como o pensamento vai mudar no mundo do trabalho é a crescente procura de propósito entre as novas gerações de colaboradores. A começar nos millennials, os grupos etários mais jovens procuram empregos que lhes dêem um sentido de estar a fazer algo importante para a sociedade onde vivem, além de serem mais móveis e mais movidos por resultados.
A cultura do foco contínuo vai ser uma tendência crescente. Por isso, a directora de Recursos Humanos da Microsoft Portugal sublinha que as empresas do futuro, para sobreviver aos novos tempos, terão de se tornar mais «matrixed» (referindo-se à realidade digital da saga de filmes Matrix), com companhias mais flexíveis, que permitam aos colaboradores o trabalho a partir de casa ou outro lugar, sem a obrigação do regime presencial.
A Conferência vai ser publicada na íntegra na edição de Janeiro da Human Resources.