Guerra pelas pessoas ou pelos talentos?

Na XV Conferência Human Resources contou-se com a estreia de um espaço de debate inovador “Crossfire: Há ou não há uma Guerra pelas Pessoas?”.

 

Sob a batuta de Pedro Ramos, director de Recursos Humanos do Grupo TAP, o tema foi discutido por sete “guerreiros” divididos por duas “trincheiras”.

De um lado tínhamos Alexandra Barreto, directora Executiva da Católica Lisbon; Patrícia Valente, directora Corporativa de Recursos Humanos do Grupo ANF; Ricardo Alves Gomes, administrador da SCML; e Rita Alarcão Júdice, sócia e membro do Conselho de Administração da PLMJ Advogados, SP, RL. Do outro lado reunimos Diogo Alarcão, CEO da Mercer Portugal; Patrícia Fernandes, directora de Marketing, Comunicação e Inovação da Caixa Económica Montepio Geral;  e Rui Moita, director de Recursos Humanos da LG Electronics Portugal.

Em simultâneo ao combate, a plateia podia responder via telemóvel a cinco questões, que seriam discutidas em pleno palco, escolhendo o lado com que mais se identificavam.

 

A primeira questão colocada foi se a guerra é pelas pessoas ou pelos talentos. Do lado do talento, defende-se que esta guerra está a aquecer e é trending. «Não falamos de vedetas, nem génios. O talento é aquilo que acelera a probabilidade de ser contratado e aumenta a viabilidade de se prolongar na empresa. E é importante assumir duas estratégias: uma de ataque e outra de defesa, ou seja, contratar e reter».

E muitos outros argumentos foram apresentados sobre este tema. «O que vale recrutar uma pessoa altamente qualificada para uma determinada função, se for socialmente desadequada? O talento não é mais do que o potencial que se tem para aplicar na realidade da empresa. Potenciar o talento das pessoas é importante. Não há nada melhor do que me pagarem para fazer o que gosto».

«Travamos uma guerra pelo talento nos escritórios e dentro das universidades, é séria e existe. O talento é a vocação, aquilo que temos de mais precioso. O talento tem de ser posto ao serviço das organizações e isso acresce a responsabilidade das mesmas. As empresas têm de dar espaço e cultura para as empresas crescerem».

«A guerra é pelo talento por outra razão. Antigamente sabia-se que o filho do pescador seria pescador. Muito dificilmente subiria na vida por razões culturais e sociais. Hoje em dia, já não é assim.

Do lado das pessoas argumentou-se desde logo com a questão demográfica, recordando-se que «a Europa vive um grave problema de falta de pessoas», e, por outro lado, defendeu-se que é preciso «atrair pessoas que se identifiquem com os propósitos e valores da empresa, pessoas disponíveis para dar o extra-mile, e isso não tem a ver com talento».

Defendeu-se também que se parte do pressuposto errado quando se associa talento à ideia de recrutamento. «Não é uma “guerra” para atrair, massim para desenvolver e reter; é uma “guerra” de dentro para fora.»

Acrescenta-se ainda que, com «a falta de pessoas nas “trincheiras”, pois o mercado de produção de competências não acompanha as necessidades existenets nas empresas, vivemos um jogo das cadeiras ao contrário. Isto leva a que as empresas fiquem mais vulneráveis à incompetência. A competição faz-se com empresas disruptivas e podemos acabar a ter que escolher os melhores entre os piores.»

Na plateia, 52% estava do lado dos talentos e 48% representava o lado das pessoas.

 

Questionou-se depois se o mais importante é atrair ou construir o talento. O sentimento generalizado na plateia foi a construção, com 73% de defesa. Contudo, as três especialistas que sustentaram ser mais importante atrair talento apresentaram vários argumentos: «Vivemos num mundo VUCA e por isso não há tempo para construir talento, ainda para mais com competências que se desactualizam rapidamente e nem sabemos bem quais são. Por outro lado, mudou o paradigma do trabalho – skills on demand –, com as novas gerações a desenvolverem, elas próprias, as suas competências, que depois vão vender ao mercado.»

«As empresas que não estão preparadas para serem predadoras serão perdedoras», afirmou-se. «As novas gerações valorizam a experiência em detrimento da segurança e longevidade numa empresa.» Sublinhou-se igualmente que «o primeiro recrutador são os colaboradores».

Do lado da construção do talento defendeu-se que «a partir do momento em que o colaborador investe na sua formação sem o apoio da empresa, já perdeu o colaborador. As empresas têm de fazer parte deste processo».

«Há um ponto importante, temos de ser predadores se não formos bons pastores e governarmo-nos com o que temos em casa. A Gestão de Pessoas assume um papel cada vez mais importante na criação de um ambiente propício aos colaboradores. Mas há que reconhecer que é importante também atrair sangue novo».

 

Debateram-se ainda mais duas questões: “O que é o talento: o que o mercado procura ou a vocação das pessoas?” e De quem é a culpa desta guerra e do mixmatch, das universidades ou das empresas?

Houve ainda uma questão que ficou por debater – se a legislação laboral facilita ou condiciona esta gestão do talento nas empresas – mas a plateia respondeu e, de forma peremptória considerou que condiciona (87%).

 

Acompanhe todos os temas debatidos na XV Conferência na edição de Abril da revista Human Resources.

 

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