Opinião: Liderança lunar
É notório o aumento da participação de mulheres em cargos de liderança nas empresas nacionais. O que é que isso pode significar para o bem-estar organizacional? Mais do que falar nos números, importa enquadrar as vantagens desta, ainda lenta, evolução.
Por Paulo Vieira de Castro, director do departamento de Bem-Estar nas Organizações do I-ACT – Institute of Applied Consciousness Technologies (EUA)
Há muito que os celtas nos alertaram para aquilo que nos nossos dias veio a ser conhecido como “liderança lunar”. O sagrado feminino era, para este povo, representado pela lua. Hoje há diversos exemplos da imprescindibilidade das mulheres na liderança de um “novo mundo”. Desde logo, saliento a “ Jineolojî ”, ou a ciência da mulher. Ainda, o reconhecimento das forças Peshmerga, lá onde as mulheres são único rosto verdadeiramente temido na luta contra os grupos terroristas como o “Daesh”. Também no Médio Oriente, o empoderemento das mulheres, sustentado por carismáticos líderes políticos como Abdullah Ocalan, defendem que, no futuro, a sociedade deverá ser matriarcal.
Uma liderança não hierárquica
As mulheres pensam em rede, reconhecendo que a cadeia de liderança se faz através de degraus não hierárquicos. Assim, ao contrário do homem comum, que decide com base num menor número de informações, a mulher presta atenção a um conjunto mais alargado de matérias. Ao recolher maior número de inputs, não só gere mais informação, como integra os detalhes com maior rapidez. Lidando com padrões mais complexos, quando toma decisões, ela considera mais opções. Incluindo neste processo todos os sentidos humanos, funda-se numa reflexão mais flexível e cooperativa.
Assim, na negociação, elas tendem a ter uma postura mais variada, menos convencional, adaptando-se com maior facilidade à era da complexidade. Optam, ainda, por um posicionamento empático, este tradicionalmente feminino, dispondo-se mais a relações do tipo win-win.
Um caso prático
Compreendo o quão estranho possa parecer a alguns dos leitores o que acabo de afirmar. Passo a explicar, de forma muito simples, as razões que tomo por justificação. Faço-o, há anos, através de um velho exemplo prático. Imaginemos que sexta-feira à noite vamos a uma discoteca. No sábado ao almoço encontramo-nos todos novamente. O tema de conversa é, como não poderia deixar de ser, a festa da noite anterior.
Naquela noite, as mulheres entraram na discoteca, observaram tudo ao mínimo detalhe, o espaço, as pessoas, o ambiente, etc. Tudo isto ao mesmo tempo que conversavam animadamente. Enquanto viveram a experiência intensamente, foram trocando informação umas com as outras. Actualizando-se… Assim, da próxima vez que criticar um grupo de mulheres por falar demasiado, lembre-se que isso nunca é tempo perdido. Elas estão a estabelecer redes empáticas de informação. E essa é a base de todas as relações. Tal é fundamental no trabalho de equipa. E, consequentemente, na liderança.
A terminar, a respeito de tudo isto, relembro uma ideia muito minha. Acredito que o arranjo do mundo está do lado das mulheres. Porquê? Porque nós, os homens, já tentámos. E veja-se a condição em que vamos entregar este planeta aos nossos filhos. Em pior estado do que o recebemos, infelizmente… Por isso, ou também por isso, a mulher terá de estar implicada na liderança de um “novo mundo”. Por que seria diferente nas organizações?
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