As máquinas e as pessoas ou o futuro é já aqui
Por Catarina Tendeiro
Directora de Recursos Humanos da KPMG Portugal
No ano que agora terminou, um dos fenómenos mais discutidos foi o avanço tecnológico – a criação de poderosas ferramentas em inteligência artificial (IA), automação e robótica, big data, machine learning, entre outras, está a melhorar a produtividade, e as vidas, e a alterar comportamentos. Mas o que acontecerá ao mundo do trabalho? E de que forma será afectada a gestão de pessoas?
Várias estimativas confirmam – as mudanças serão fortíssimas! A Mckinsey prevê que 50% do trabalho mundial remunerado tem potencial para ser “automatizado” com tecnologias existentes. E, ainda, que até 30% das horas trabalhadas mundialmente poderão ser automatizadas em 2030 – a percentagem dependerá da rapidez da evolução tecnológica e custo da inovação.
Sendo o avanço tecnológico incontornável, procurar travá-lo para preservar o status quo será um erro e devemo-nos preparar para tirar partido do seu potencial, adaptando a sociedade e as organizações. Isso trará desafios para diversos intervenientes:
Líderes: deverão antecipar as áreas das organizações que podem beneficiar da tecnologia e automação, identificando tanto as oportunidades como as ameaças, tendo em conta que a disrupção tecnológica pode ser rápida e alterar radicalmente a posição competitiva de uma empresa;
Decisores políticos: deverão fomentar a inovação, mas criando mecanismos de requalificação para pessoas afectadas, nomeadamente quem desempenha funções rotineiras, mais facilmente substituídas por máquinas;
Colaboradores: serão incentivados a trabalhar mais com tecnologia, libertando mais tempo para se focarem em funções intrinsecamente humanas que as máquinas não podem (ainda!) desempenhar: trabalho mais complexo e difícil de organizar, planeamento estratégico, comunicação, coaching e desenvolvimento das pessoas, etc.
A tecnologia intensificará inevitavelmente a “batalha” pelas qualificações e a desigualdade entre pessoas qualificadas e não qualificadas. De resto, tal já aconteceu na fase de expansão das TI e da Internet no início do século. O prémio salarial de colaboradores qualificados vs não qualificados, nos EUA, passou de 48% para 97%, entre início dos anos 80 até 2005. Países e empresas procurarão atrair talento e pessoas com competências tecnológicas, que escasseiam (incluindo em Portugal).
Nunca foi tão estratégico investir na educação. As instituições de ensino enfrentam enormes desafios para preparar pessoas para o futuro, dos quais se destacam: Desenvolver em simultâneo skills técnicos (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemáticas) e skills sociais (criatividade, raciocínio crítico, agilidade, resiliência e flexibilidade), que formarão pessoas para funções que as máquinas não podem fazer;
Reforço de programas experimentais, incluindo case studies, estágios ou experiências internacionais;
Disponibilizar formação contínua ao longo da vida; a formação universitária será só o ponto de partida.
Felizmente, vemos universidades portuguesas a fazer um trabalho de nível mundial na formação de recém- -licenciados, assim como uma geração milenar de jovens muito bem preparados. São factores que nos devem dar esperança para o futuro. Se vencermos a batalha das qualificações, seremos competitivos num futuro, que já é presente em 2018! Bom Ano.
Artigo de opinião publicado na Revista Human Resources n.º 87 de Janeiro de 2018.