A arte subtil de dizer basta!

Por Joana Carvalho, autora do livro “Seja o CEO da sua Carreira”

Quantas vezes já nos dissemos: “preciso de mudar”, “não estou bem aqui”, “mereço mais”? E quantas vezes essas palavras ficaram apenas no pensamento? Acomodamo-nos! E, ao fazer isso, não só traímos os nossos próprios sonhos, como também comprometemos a nossa saúde mental, a nossa produtividade e até a cultura da empresa onde trabalhamos. Permanecer num trabalho que já não nos realiza é, no fundo, uma forma de nos enganarmos a nós mesmos e, muitas vezes, aos outros. É como se aceitássemos uma versão reduzida das nossas ambições e capacidades. Mas o impacto disso vai além da consciência, afeta diretamente a nossa autoestima, a produtividade e o nosso bem-estar.

A insatisfação prolongada no trabalho pode levar a uma diminuição drástica da nossa autoestima. Inicialmente sentimo-nos desvalorizados e, mais tarde, chega o sentimento de frustração, a incapacidade de alcançar os nossos objetivos e, eventualmente, atingimos uma fase em que começamos a duvidar das nossas próprias capacidades. Esse desgaste emocional pode resultar em stress, ansiedade e até mesmo burnout, impactando na nossa saúde mental e na qualidade de vida.

A nossa insatisfação não só nos afeta, como impacta diretamente na forma como os outros nos percecionam. Está cientificamente provado que colaboradores insatisfeitos tendem a ser menos produtivos e que falta de motivação leva a um desempenho abaixo do potencial, ao aumento de erros e a um menor comprometimento generalizado. Muitas vezes, permanecemos em situações insatisfatórias por medo do desconhecido ou da instabilidade. No entanto, é fundamental reconhecer quando uma situação já não nos serve mais e ter a coragem de sair e procurar algo que nos traga realização e propósito. Essa reflexão é essencial para o desenvolvimento pessoal e profissional, além de prevenir os problemas de saúde emocional e mental mencionados anteriormente.

Embora a coragem seja essencial, é igualmente importante avaliar com lucidez os riscos envolvidos numa mudança de carreira. Mudar de rumo profissional pode ser um passo transformador, mas não deve ser nunca um ato de impulso. O trabalho, para além de uma expressão de propósito ou realização pessoal, é também uma fonte de rendimento e, por isso, deve ser encarado com máxima responsabilidade. Uma transição mal planeada pode levar a instabilidade financeira, frustração ou mesmo à troca de uma desconforto conhecida por uma nova forma de insatisfação. Por isso, é fundamental pesar os prós e os contras, considerar os impactos a curto e longo prazo, e preparar-se, tanto emocional como financeiramente, para o processo de transição. Antes de tomar qualquer decisão, é fundamental:

– Avaliar a estabilidade financeira: certifique-se de que possui uma reserva financeira suficiente para suportar eventuais períodos de transição ou instabilidade;

– Analisar o mercado de trabalho: Estude as oportunidades disponíveis nas suas atuais e potenciais áreas de interesse e verifique se há procura para as suas competências e experiências;

– Procure aconselhamento: Consulte profissionais de carreira, mentores ou pessoas que já passaram por transições semelhantes para obter orientações valiosas;

– Planei a sua transição: Estabeleça um plano claro com metas e prazos para facilitar a adaptação à nova realidade profissional.

Não podemos permitir que o medo da mudança nos aprisione a situações que nos fazem infelizes e que, muitas vezes, limitam o nosso potencial. Psicólogos e estudiosos da área de desenvolvimento pessoal, como Carol Dweck, argumentam que a mentalidade de crescimento – “a capacidade de ver as dificuldades e mudanças como oportunidades de aprendizagem” – é essencial para o progresso pessoal e profissional. Assim, a verdadeira coragem está em reconhecer, de forma honesta e realista, quando é hora de partir e de procurar novos caminhos que nos tragam maior satisfação e alinhamento com os nossos valores e propósitos de vida.

A decisão de tomar as rédeas da nossa carreira exige não apenas coragem, mas também autoconhecimento e planeamento estratégico. Embora os primeiros passos para uma mudança possam ser incertos e desafiadores, ao aventurarmo-nos fora da zona de conforto, não só transformamos as nossas vidas, como também temos o poder de contribuir para ambientes de trabalho mais saudáveis e produtivos. Quando procuramos com propósito, um trabalho que faça match com os nossos interesses e competências, estamos a criar um ciclo positivo que impacta no bem-estar coletivo e na eficiência organizacional.

Ao enfrentar os medos e as incertezas do processo, desenvolvemos uma maior resiliência emocional e uma visão mais clara sobre o que realmente nos faz felizes e realizados. Além disso, esta jornada vai nos permitir cultivar competências valiosas, como a adaptação, a resolução de problemas e a autoconfiança, que têm um impacto direto não só na nossa vida profissional, mas também no nosso bem-estar pessoal. Em última análise, a coragem de mudar é um convite para crescer, aprender e, acima de tudo, viver de forma mais plena e consciente.

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