A Era Gestão de Pessoas 6.0 chegou: e agora?
Por Pedro Ramos, CEO da Keeptalent Portugal
A Gestão de Pessoas tem evoluído ao longo dos anos, adaptando-se às mudanças sociais, tecnológicas, culturais e económicas que têm moldado o nosso mundo. Actualmente, entramos na era da Gestão de Pessoas 6.0, onde o foco se desloca da mera gestão de talentos para uma nova dimensão de visão holística e humana nas relações de trabalho. Esta nova fase não só reconhece a importância das competências técnicas, mas também destaca o primado das competências humanas (ou power skills), do bem-estar e da sustentabilidade humana como pilares fundamentais.
As eras anteriores, desde a primeira revolução industrial que marcou a Era Gestão de Pessoas 1.0 até à Era Gestão de Pessoas 5.0, traçam uma linha de evolução muito significativa. A Era 1.0 foi marcada pela mecanização do trabalho, na qual as pessoas eram vistas como meros elementos de produção, sem consideração do denominado “potencial humano”. A transição para a Era 2.0 trouxe um foco mais estrutural à gestão de pessoas, introduzindo modelos de “administração científica” que, apesar de organizarem as relações de trabalho, mantinham uma visão limitada sobre o papel do ser humano nas organizações.
Com a Era Gestão de Pessoas 3.0, surgiu uma mudança de paradigma, na qual a humanização da gestão passou a ser uma prioridade das organizações. Na década de 80 do século passado, o foco passou a ser no desenvolvimento das competências, na motivação dos colaboradores e na criação de culturas organizacionais mais robustas. A comunicação interna ganhou destaque, deixando de ser uma mera formalidade para se transformar numa ferramenta vital de ligação entre empregador e empregado, dando um novo fôlego ao papel dos gestores de Recursos Humanos.
A Era Gestão de Pessoas 4.0, marcada pela transformação digital, trouxe consigo um conjunto de novas tecnologias que revolucionaram radicalmente e impactaram as formas de trabalho. A automação e digitalização tornaram-se essenciais para a eficiência organizacional, mas ainda existiam lacunas significativas em termos de bem-estar e inclusão nas relações profissionais.
Foi precisamente nesta fase que a Inteligência Artificial (IA) começou a emergir, oferecendo soluções para automatizar processos de recrutamento, optimizar a gestão dos talentos e fornecer análises de dados, ainda que simples, preditivas sobre desempenho e engagement das pessoas nas empresas. Embora a introdução da tecnologia tenha trazido consigo muitos benefícios, a sua implementação trouxe também vários novos desafios, incluindo a necessidade de garantir uma utilização ética e responsável da IA, entre outros.
Neste sentido, e em resposta, a Era Gestão de Pessoas 5.0 introduziu novos conceitos como personalização, flexibilidade e trabalho híbrido, reconhecendo a individualidade dos colaboradores e a necessidade de uma experiência de trabalho mais adaptada às suas vidas (assumindo-se o ser humano como um ser integral nas organizações). A IA desempenhou, desde logo, um papel importante ao fornecer ferramentas que melhoram a comunicação e adaptam as experiências dos colaboradores às suas necessidades pessoais, numa lógica de conciliação entre os dois mundos, pessoal e profissional.
Agora, na nova Era Gestão de Pessoas 6.0, a gestão de pessoas evolui para um novo foco na sustentabilidade humana. As organizações compreendem que o seu sucesso não se mede apenas pelos resultados financeiros, mas também pelo impacto social e ambiental das suas acções.
Nesse contexto, os gestores de pessoas não são apenas responsáveis pela gestão de talentos, desempenhando um papel muito activo na promoção da criatividade, empatia e colaboração. O desenvolvimento de líderes conscientes, a promoção da diversidade, equidade e inclusão, e o bem-estar emocional e saúde mental dos colaboradores tornam-se centrais, enquanto a IA é utilizada de forma a apoiar essas iniciativas e fomentar um ambiente de trabalho mais humanizado.
As responsabilidades dos gestores de pessoas 6.0 incluem a criação de ambientes de trabalho suportados numa diversidade cognitiva, a implementação de práticas que promovam os melhor dos mundos pessoal/profissional e a construção de culturas organizacionais que valorizem a equidade à partida e à chegada nas organizações e na sociedade.
Os gestores de pessoas 6.0 devem ser capazes de identificar e apoiar o desenvolvimento das competências emocionais e relacionais dos colaboradores pois há uma nova necessidade de gestão de relacionamentos (internos e externos) além de utilizar tecnologias, incluindo a IA, para facilitar a comunicação e colaboração entre as várias equipas internas e externas.
Os desafios são igualmente significativos. Os gestores enfrentam a necessidade de adaptar-se rapidamente às mudanças constantes no mercado e nas tecnologias, mantendo-se informados sobre as novas tendências e práticas em Gestão de Pessoas.
Além disso, devem lidar com a resistência à mudança dentro das organizações e garantir que todos os colaboradores sejam ouvidos e valorizados dado que o gestor de pessoas 6.0 sabe bem que qualquer transformação se faz COM as pessoas e não CONTRA as pessoas. A promoção de um ambiente de trabalho saudável e a capacidade de gerir a saúde física e mental dos colaboradores também são prioridades essenciais.
Vivemos, sem dúvida, uma nova Era de Gestão de Pessoas 6.0, onde as novas dinâmicas laborais exigem uma abordagem inovadora e humanizada. Neste contexto, a integração da inteligência artificial destaca-se como um aliado poderoso que, quando utilizado de forma ética e consciente, pode amplificar a capacidade humana e melhorar a experiência dos colaboradores.
A responsabilidade recai sobre os gestores de pessoas para enfrentar estes novos desafios que vão muito além da porta da rua das suas organizações, adoptando práticas que não só promovam o crescimento organizacional sustentado com resultados efectivos de negócio, mas que também priorizem o bem-estar e a diversidade nos vários locais de trabalho que agora existe numa “multiplicidade” de novas tipologias e dimensões.
Está preparado para os desafios? A verdadeira transformação começa agora, e a capacidade de criar ambientes sustentáveis e inclusivos, utilizando a tecnologia a nosso favor, será a chave para o sucesso das organizações no presente e no futuro.
Por isso, os novos gestores de pessoas 6.0 são gestores de pessoas “todo-o-terreno”, fortemente equipados com ferramentas humanas e digitais, disponíveis para adoptarem respostas emergentes e consequentes com base num aproveitamento maximizado dos potenciais humano e artificial, treinados para exercerem uma poderosa gestão de emoções e habilitados para uma eficaz utilização da linguagem do negócio nas suas organizações.
Não é fácil ser um gestor de pessoas 6.0! Para dar o salto de 5.0 para 6.0 é essencial priorizar o bem-estar dos colaboradores, promover a diversidade e utilizar a tecnologia de forma ética e inovadora ao serviço das pessoas, do negócio e do mundo para além dos muros da sua organização.