A essência do mentoring

Ao longo da minha carreira tive oportunidade de, em vários contextos, mais ou menos formais, ter um mentor. E todos foram para mim de extrema importância. Não me deram um livro de instruções, não tinham soluções mágicas e, por vezes, nem conselhos. Partilharam experiências, a forma como viam o mundo, ouviram-me e fizeram boas perguntas permitindo-me, tantas vezes, ver o tema de uma perspectiva completamente diferente.

Por Maria Antónia Torres, vice-presidente do board da PWN Lisbon, mentora e coordenadora do Programa de Mentoria da PWN Lisbon

 

A palavra mentor terá sido usada pela primeira vez por Homero no século VIII a.c., o qual, na sua obra “Odisseia”, refere como Ulisses, antes de ir para a guerra de Tróia, com medo do que pudesse acontecer à sua família e património, deixa-os sob a protecção de um mentor. A partir daí a palavra foi surgindo como sinónimo de guia, professor, conselheiro, protector, etc.

Mas foi apenas nos anos 90 que o mentoring ganha uma exposição relevante, com a sua utilização frequente pelas empresas como mecanismo de desenvolvimento das suas pessoas.

O propósito do mentoring é sempre, como disse Mike Turner, ajudar o mentorado a mudar alguma coisa: a melhorar a sua performance, a desenvolver as suas competências de liderança, …, a realizar o seu propósito. Acrescentaria eu, a atingir um maior equilíbrio na sua vida.

É, assim, um movimento do ponto em que o mentorado está para o ponto onde quer estar. Por isso, a intencionalidade é para mim fundamental para o sucesso de uma mentoria. É preciso que o mentorado queira fazer esse movimento. E é preciso que o mentor esteja empenhado em ajudá-lo.

Hoje, o mentor é visto como um especialista, que partilha sabedoria e orientação a partir da sua própria experiência. Um “enabler”, que pode ser alguém próximo da nossa realidade, alguém distante… depende.

Mas, para mim, a melhor definição de mentor é uma pessoa que oferece um espaço em que nos sentimos confortáveis para falar de tudo, do que corre bem, do que nos orgulha, do que corre menos bem, do que nos preocupa. Falar da vida, do nosso passado e do presente, assim como dos planos para o futuro. Falar do indivíduo completo, nas suas componentes física, mental, emocional, espiritual, relacional e profissional.

É, assim, fundamental que o mentor veja o mentorado como um todo. Mesmo quando o propósito do mentoring, como é o caso do Programa de Mentoring da PWN Lisbon, é o desenvolvimento em termos de carreira, é impossível focar apenas na área profissional e ignorar todas as outras, porque elas estão obviamente interligadas.

Foi num processo de mentoria que cheguei a algumas das conclusões que considero mais relevantes em termos do meu desenvolvimento pessoal e profissional. O que é que me faz mexer? Mesmo mexer? O que é que procuro para mim na vida e na carreira? E o que é que me faz a amígdala disparar? E estes não foram pontos, obviamente, analisados unicamente de uma perspectiva estritamente profissional. Seria impossível.

Pode ser mais confortável numa relação de mentoria dirigida ao desenvolvimento profissional apenas falar de temas relacionados com o trabalho, mas, honestamente, muito pouco eficaz. Enquanto mentora, acredito sinceramente na virtude de uma perspectiva mais holística da pessoa que temos à nossa frente.

Isto implica, obviamente, a capacidade de o mentor criar um espaço de empatia e segurança. Mas também a vontade e abertura do mentorado em utilizar esse espaço e partilhar abertamente pensamentos e emoções. Abertura e partilha essa que deve também existir do lado do mentor. É essa dinâmica de dar e receber, nos dois sentidos, que potencia a mudança.

E se assim for, é possível fazer um caminho. Até é possível fazer um bocadinho de magia.

Nota: a PWN Lisbon realiza o seu evento anual amanhã

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