A (extrema) importância de uma vida equilibrada, para as pessoas e as organizações

O que “equilíbrio entre a vida profissional e a vida pessoal” significa para cada um de nós pode até variar, mas inquestionável é a necessidade de as empresas promoverem uma cultura que o permita e incentive.

 

Por Rodrigo Drysdale, Group chairman da Vistage Portugal e coach executivo

 

O que significa o equilíbrio entre o tempo pessoal e o de trabalho? Para algumas pessoas, passa por poder cumprir horários rígidos que lhes permitam separar claramente estas duas componentes da sua vida. Outras, porém, prosperam na flexibilidade, procurando adaptar as suas horas de trabalho às necessidades da sua vida pessoal. Afinal, a nossa vida pessoal e profissional é uma só.

Não existe uma fórmula que agrade a todos. Por outro lado, a maioria das empresas exige trabalho em equipa, portanto períodos em que todos os colaboradores trabalhem de forma a poderem comunicar presencialmente, reunir e dedicar-se conjuntamente a projectos.

Sejam quais forem as nossas escolhas pessoais e os limites estabelecidos pelas organizações, precisamos de alcançar um equilíbrio saudável entre a vida pessoal e a profissional. Necessitamos de ter a qualidade de vida que nos permita sermos mais felizes, mais saudáveis, mais criativos, mais comprometidos e mais resistentes ao stress.

A pandemia da COVID-19 trouxe consigo uma série de desafios sem precedentes, entre eles uma alteração profunda da percepção de equilíbrio tempo pessoal/trabalho. Estar em casa agradou a muitos. Para outros apenas confundiu os limites entre o tempo privado e o de trabalho, resultando numa carga laboral constante e na exacerbação de problemas de saúde mental pré-pandémicos. E quem considera o ambiente de trabalho como um lugar importante para construir relacionamentos e obter apoio social sofreu com a “solidão no trabalho”.

Já em 2019, a Organização Mundial da Saúde tinha considerado o burnout como um “fenómeno ocupacional”, incluindo- o na sua Classificação Internacional de Doenças. A pandemia parece ter dado um contributo para o agravamento desta síndrome, situação que pode surgir na sequência da exposição a um stress laboral crónico. Segundo dados de um estudo global da consultora Mercer, 81% dos trabalhadores sentem-se em risco de burnout, aumentando o valor – já por si elevado – de 63%, registado em 2020. Para este estudo contribuíram as opiniões de mais de 13 mil executivos, líderes de Recursos Humanos e trabalhadores de 25 regiões globais, incluindo Portugal.

O trabalho não deve ser algo negativo e que nos esgota. Até porque se, em primeiro lugar, o burnout prejudica muito seriamente o trabalhador, também tem um grande impacto negativo na empresa. A chave para evitar estas indesejadas situações, que cada vez mais marcam a mentalidade corporativa, está precisamente no equilíbrio entre o trabalho e o tempo pessoal.

As empresas que não o reconhecem criam culturas onde as pessoas vivem vidas desequilibradas, e onde os colaboradores têm baixa performance ou buscam novas oportunidades. E vale a pena recordar dados muito recentes apresentados pela consultora Michael Page: 97% dos trabalhadores entrevistados em Portugal são candidatos activos a novos empregos.

Mais do que nunca, é fundamental que as empresas interiorizem a extrema importância de transformar e promover culturas que permitam, apoiem e incentivem os colaboradores a viverem vidas saudáveis e equilibradas.

 

Este artigo foi publicado na edição de Setembro (nº. 153) da Human Resources, nas bancas.

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