A gestão ancorada na felicidade

 

A gestão centrada em modelos economicistas leva à insatisfação e à inoperância. Cada vez mais o trabalho é concetualizado como promotor de felicidade e crescimento, ditado por um “contrato psicológico” que nos move para a ação e para o compromisso.

 

Por Paula Campos, professora universitária no IPAM

 

Nas empresas, tal como na vida, estamos num tempo de mudança. Mesmo que de forma intuitiva, sinto que cada vez mais o funcionamento das empresas espelha o funcionamento das pessoas. São verdadeiros sistemas vivos.

A crise veio alertar-nos para esta realidade, a gestão centrada em modelos economicistas leva à insatisfação e à inoperância, isto porque, quando não há dinheiro para motivar, como levar os colaboradores a agir e fazer bem, comprometendo-os com os resultados da empresa?

A reforçar esta ideia está toda uma linha de investigação sobre a filosofia de gestão ancorada na felicidade, cujas conclusões salientam o impacto e a correlação positiva que existe entre produtividade, motivação e felicidade; enquanto outros estudos salientam a importância do “amor na gestão”.

Tal como nas empresas, as pessoas andam à procura da qualidade total para as suas vidas, em busca de novos modelos de excelência, não se contentando mais com a mediocridade que leva ao esgotamento e à perda de significado para o existir. Veja-se as estatísticas europeias que apontam o stresse como um dos maiores “assassinos do trabalho”, com custos significativos para o Estado Social.

Nos modelos de excelência, a linguagem é o comprometimento, é o atingir objetivos, é o superar-se, e não o foco nas muitas horas de trabalho obrigatórias, no controle, na promoção da cultura do medo, típica de instabilidade contratual.

Começa a emergir um número significativo de startups e PME´s, que espelham a maior parte do tecido empresarial português, geridas por jovens talentos que só concetualizam o trabalho como promotor de felicidade e crescimento.

Cada vez mais começam a existir evidências de que o famoso “contrato de trabalho”, é alguma coisa que arrumamos na gaveta da secretária no dia em que assinamos e deixamos empoeirar na pasta do esquecimento, e só pegamos nele novamente quando existem conflitos para resolver, e necessitamos saber de forma mais efetiva os nossos direitos e deveres.

No dia a dia, trabalhamos com o “contrato psicológico”, aquele que nos move para a ação, para o compromisso, para o comprometimento com os resultados que temos de alcançar, aquele que por vezes nos faz esquecer de nós para nos focarmos naquilo que pretendemos conseguir e se traduz em desenvolvimento para as pessoas e consequentemente para as empresas onde trabalhamos.

Os bons exemplos, as empresas com boas práticas na gestão de pessoas, sabem que os recursos físicos só tornam as coisas possíveis, mas as pessoas fazem as coisas acontecer.

Apostam no recrutamento de indivíduos que se alimentam com energia própria sem terem necessidade da dos outros, de indivíduos que buscam no trabalho de equipa não a união de “duas metades” mas de “dois seres inteiros”, que caminham lado a lado sem exigências desmesuradas ou jogos de domínio pessoal. De indivíduos que de forma autónoma se respeitam, deixando que as opções de cada um tenham sabor a liberdade responsável. De indivíduos que percebem que nenhum projeto de vida se concretiza sozinho e por isso aprendem a valorizar os outros, o potencial e o valor da sua equipa.

As empresas que percebem isto estão anos luz à frente, e conseguem desta forma preparar o futuro. Apostam na competência porque percebem que são elas que diferenciam os líderes dos chefes. Percebem que quando precisarmos da ajuda do poder que a função encerra para levar os outros a atingir objetivos, nunca sentiremos o vigor da energia motivacional dos que estão ao nosso lado!

Eu continuo a acreditar que a mudança dos contextos onde nos movimentamos só é possível se as pessoas mudarem.

Eu acredito que estão a mudar!

E com esta esperança, o desejo de que as nossas empresas sejam realmente contextos de vida!

Texto escrito ao abrigo do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, em vigor desde 2009.

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