A (in)satisfação laboral em Portugal e o papel das empresas

Muito temos lido sobre felicidade nos últimos dias, não fosse a recente publicação do World Happiness Report de 2023, ranking anual das Nações Unidas que classifica a felicidade em mais de 150 nações, e que nos tem colocado a pensar como é possível um povo que mergulha em buracos no gelo ser mais feliz do que nós.

Por Rodrigo Maia Prinzo, head of People Ops na InnoTech

 

Independente deste ranking, mas que recai igualmente sob a temática da felicidade, é o último estudo global da Eurostat sobre a satisfação laboral na União Europeia, revelado há uns dias pelo Público. Foram mais de 197 milhões de trabalhadores entrevistados, 4 milhões dos quais em Portugal.

Por cá, apenas 21,58% dos trabalhadores estavam muito satisfeitos com a sua profissão. A grande maioria dos inquiridos (64,07%) apontou uma média satisfação, enquanto 10,55% expressaram mesmo insatisfação. Por comparação, a média da UE (27 países) é de 43,82% de trabalhadores muito satisfeitos, valor muito próximo dos mediamente satisfeito (44,04%), e somente 5,85% a mostrar insatisfação.

Entre os 27, Portugal é o país com a menor percentagem de trabalhadores muito satisfeitos. Os nossos vizinhos espanhóis, por exemplo, chegam a ultrapassar a média europeia, com mais de metade dos seus entrevistados (53,90%) a dizerem estar altamente satisfeitos, mais do que o dobro do nosso resultado. Ao analisarmos o outro extremo, a insatisfação, mantemo-nos nas posições mais baixas, aqui deixando apenas a Bulgária para trás.

É comum ouvir-se que Portugal está na cauda da Europa. Aqui é caso para dizer que estamos na ponta da cauda.  Os especialistas apontam para justificações como baixos salários, vínculos precários, carga horária excessiva, lideranças autoritárias e estagnação profissional.

Ainda que o Estado tenha o seu papel e poder de intervenção na área, as empresas são um elemento indispensável nesta equação em busca da felicidade, tendo em conta que a esmagadora maioria da força laboral em Portugal é por conta de outrem, e mais de metade desta encontra-se na economia privada.

No que diz respeito a salários e vínculos laborais, muitas podem escudar-se no Estado, com mais ou menos evidência de razão devido ao peso das contribuições financeiras ou à legistação existente para contratação e dispensa de pessoal, contudo, a carga de trabalho, a gestão das pessoas e equipas e o crescimento profissional, de um modo geral, está totalmente do lado das empresas.

Gestores de topo e de níveis intermédios, actuais e futuros líderes e profissionais dos Recursos Humanos devem estar sensíveis e cada vez mais atentos ao tema. É imprescindível auscultar os colaboradores, seja de forma anónima e transversal à organização, como por via de um contacto mais próximo, pessoal e empático. A mudança deve ser feita de dentro para fora, e só deve ser feita se, quando e de forma a que traga aos colaboradores aquilo que eles verdadeiramente ambicionam.

Algumas reflexões. Nem todos os trabalhadores querem trabalhar 35 ao invés de 40 horas semanais. A verdade é que há quem prefira trabalhar mais 1 hora no Inverno e ter as sextas-feiras à tarde livres. Tal como nem todos querem ser gestores de equipa, ou até mesmo trabalhar em equipa, há quem prefira e seja mais eficaz a fazê-lo de forma autónoma. Existem pessoas que são mais produtivas ao irem para o escritório, como quem produza mais em casa ou num regime híbrido. O sucesso na gestão de pessoas já não é alcançado pela padronização, passa agora pela individualização do talento.

Ser feliz no trabalho já não é sinónimo de ter um emprego para a vida, mas também não se atinge apenas por se contratar um Happiness manager.

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