A inteligência artificial e o futuro do emprego

Por Valter Ferreira – Data Scientist, Marketeer, Economista do território, Inovador e Especialista em cidades humanas e inteligentes

Numa altura em que conceitos como ChatGPT entraram no léxico comum de qualquer cidadão (até o governo português está a lançar serviços (e bem) alicerçados na plataforma), e que para muitos (que desconhecem a sua complexidade) a inteligência artificial (AI) passou a ser uma palavra tão comum como garfo, supermercado ou mesmo batata, importa perceber como é que esta nova realidade e virtualização das relações humanos, ou por palavras mais simpáticas, esta nova alavancagem e simplificação da relação máquina-homem irá impactar nos empregos que já existem e na criação de novas oportunidades.
Mas, ainda que seja a palavra AI seja cada vez mais comum, e cada vez menos algo saído de um livro de ficção científica, quero começar por clarificar o seu conceito e que baliza este artigo. Assim de forma rápida e em formato dicionário, podemos afirmar que o termo AI se refere à capacidade de um computador ou um robot controlado por um computador executar ações/tarefas por norma associadas a seres inteligentes. Complicado um pouco a definição podemos ainda afirmar que a AI, contrariamente alguns softwares que usam um algoritmo, que vai aprendendo com a nossa interação com o mesmo, para nos fornecerem conteúdos apropriados ao nosso perfil, a AI leva isto para outro nível, pela combinação de diversos algoritmos capazes de se mutar e rescrever em resposta aos dados que vão sendo colocados à sua disposição, mostrando assim a sua “inteligência”, tanto que a União Europeia se encontra a trabalhar em diretivas para a transparência dos mesmos.
Não podem existir dúvidas que a tecnologia tomou conta de praticamente todas as áreas de negócio e também da nossa esfera pessoal em quase todas as interações diárias no mundo atual. No entanto, como em tantas outras coisas do nosso quotidiano, também na AI e o futuro do emprego existem duas escolas de pensamento, as que olham para a AI como uma ameaça ao emprego humano e a que a olham como uma ferramenta para a criação de mais emprego.
Na minha opinião, esta nova revolução digital não nos vai retirar as batatas da mesa de refeição, ao invés, ela está aqui para facilitar as nossas vidas. Muito em breve, e mais rápido de que em qualquer uma das anteriores revoluções no mundo do trabalho, um novo conjunto de oportunidades está preparado para ser apresentado ao ser humano graças à AI.
Acima de tudo importa acalmar o mercado laboral e afirmar sem medos de que a AI não vai substituir todos os empregos. Existem um sem fim de perfis que requerem um alto nível de criatividade, empatia e mudanças complexas de último minuto que a tecnologia ainda não está apta a responder. Professores, escritores (sim aqueles que realmente escrevem e não fazem web scraping), advogados, trabalhadores sociais, exército e segurança, profissionais de saúde, e outros não podem ser substituídos por AI de forma alguma. Podem, no entanto, se ajudados, e muito, pelos avanços tecnológicos. De acordo com um estudo recente do Fórum Económico Mundial, 29% das tarefas do dia-a-dia do trabalhador estão atualmente automatizadas, sendo que se prevê que este número em 2025 seja superior a 50%.
Como já escrevi em artigos anteriores, a era da digitalização, agrega em si vários benefícios para o local de trabalho, especialmente no que concerne à substituição de tarefas repetitivas, como no passado estou certo que a AI mudará a forma e o output e não propriamente o humano, redirecionando-o no entanto para atividades muito mais produtivas. Podia abarcar nesta reflexão a tão falada semana de quatro dias, que sim, com ganhos de eficiência e produtividade pode ser sem dúvida uma realidade. Lembremos que tendencialmente a tecnologia criará mais emprego, mais não seja porque é algo mais como que as empresas terão que lidar.
Todos nós já lemos e somos constantemente expostos à maior competição para empregos relacionados com AI, ainda que aos dias de hoje a escassez de profissionais nesta área ainda seja uma realidade, mas o número de pessoas necessário para garantir mais e melhor tecnologia cresce exponencialmente.
Em suma o foco não deve ser a preocupação com impacto que a tecnologia vai ter no futuro do emprego, mas como ter trabalhadores aptos para ajudar a criar mais tecnologia. Olhando para a AI percebe-se rapidamente a crescente necessidade de formação, de dados estruturados, de manutenção, e de “cuidar” de todas as exceções que vão acontecer, ou seja, muitos novos empregos na forja, podemos portanto estar perante um dos grandes motores de criação de emprego e não de uma ameaça aos atuais.