A maioria das empresas não fez (nem vai fazer) cortes salariais este ano

A grande maioria das empresas (cerca de 80%) não implementou nem considera implementar reduções salariais. Nas empresas onde esta redução foi implementada, 100% afirma ser uma redução salarial temporária. Os dados são do estudo Total Compensation Portugal 2020 realizado pela Mercer.

 

Já os incrementos salariais situam-se, em média, entre 2,47% e 2,39%, variando ligeiramente em função dos níveis de responsabilidade. Comparando o observado em 2020 com o previsto para 2021 verifica-se uma ligeira diminuição percentual para alguns dos grupos funcionais (direcção geral/administração; directores de primeira linha; chefias intermédias; e quadros superiores).

De acordo com a pesquisa realizada para o Special Edition do Total Compensation da Mercer, um capítulo especial desenvolvido com foco na COVID-19, com dados recolhidos em Julho, cerca de metade das empresas participantes (45%) indica que a pandemia teve impacto ao nível dos incrementos salariais previstos para 2020, tendo a maioria sido adiada e os restantes sido revistos ou até mesmo congelados.

Tiago Borges, Career Business Leader, destaca que as tendências evidenciadas no estudo focam as acções tomadas pelas empresas em Portugal, na sua necessidade de responder a uma situação sem precedentes», sendo o congelamento de «salários e contratações exemplos das medidas mais duras, mas, numa perspetiva positiva, a grande maioria das empresas não prevê diminuir o seu headcount nem prevê recorrer a reduções salariais».

O estudo mostra que em Abril/Maio, 11% das empresas nacionais consideravam o congelamento salarial, sendo que, de acordo com a Special Edition do Total Compensation a percentagem de empresas portuguesas que manifesta esta intenção evoluiu para 17%.

Por outro lado, a quase totalidade das empresas nacionais (92%) pagou aos colaboradores os montantes relativos ao desempenho em 2019, de acordo com o previsto. Das empresas que não pagaram os bónus/incentivos de curto prazo, 50% refere que o mesmo foi adiado e 25% admite ter cancelado.

Quanto a 2020, 44% das empresas considera que ainda é cedo para prever se o pagamento será superior ou inferior ao realizado relativamente ao desempenho de 2019, no entanto, cerca de 23% das empresas antecipa que a expectativa é de que esse valor seja inferior.

Já 19% das empresas indicaram ter atribuído bónus especiais relacionados com o COVID-19 para colaboradores considerados como críticos para atingir ou manter os actuais objectivos de negócio da organização, sendo os “técnicos operacionais” o maior grupo elegível para a atribuição deste bónus (100%).

 

Intenções de contratação

Relativamente às intenções de contratação, o Total Compensation 2020 apurou que cerca de 36% das organizações pretende aumentar o número de colaboradores em 2020, e cerca de 39% em 2021.

No entanto, e no capítulo Special Edition, mais de metade das empresas nacionais (53,8%) referiu que estas mesmas intenções de contratação foram alteradas, com 72,5% destas organizações a afirmar que optou por congelar as contratações.

Estes números revelam assim que 39% do total das empresas participantes na Special Edition indica ter optado pelo congelamento das contratações em 2020 e cerca de 13,5% indica ter optado por diminuir o número de contratações previstas. De destacar também que para cerca de 46% das empresas as intenções de contratação não foram alteradas.

Marta Dias Gonçalves, Surveys leader da Mercer, faz notar que, «o nível dos salários per si, não se observam quaisquer alterações – conforme seria de esperar, uma vez que este tipo de variações requerem um ciclo mais longo – nem mesmo relativamente a bónus, uma vez que a quase totalidade das empresas optou por pagar a remuneração variável relativa ao desempenho de 2019. No entanto, os dados conduzem-nos à previsão de que em 2021 o cenário poderá ser um pouco diferente, em particular no que diz respeito à remuneração variável», acrescenta.

 

O trabalho remoto

Sem surpresas, o estudo destaca ainda que, como consequência da pandemia de COVID-19, a quase totalidade das empresas participantes adoptou o trabalho remoto. Esta modalidade é tendencialmente aplicada de forma transversal nas organizações em funções não relacionadas com a produção, a percentagem média da força de trabalho a trabalhar remotamente ronda os 90%.

Cerca de 49% das empresas inquiridas refere que irá manter o trabalho remoto por tempo indeterminado e 39% até que a situação melhore significativamente.

Já 77% das empresas optou também pela implementação ou reforço de políticas de trabalho flexível, que tendem a ser implementadas de forma transversal nas organizações em funções não relacionadas com a produção. As práticas mais frequentemente adopção de horários de trabalho flexíveis, ou pela possibilidade de escolher trabalhar a partir de casa ou do escritório.

A maioria das empresas antecipa que após a situação de pandemia ser ultrapassada, existirá um recurso mais frequente por parte dos colaboradores a modalidades de trabalho flexíveis.

 

O estudo analisou 140 mil postos de trabalho em 466 empresas presentes no mercado português. A amostra do estudo Total Compensation 2020 é constituída maioritariamente por empresas multinacionais (51%) com a localização da Casa Mãe, em cerca de 20% dos casos, nos Estados Unidos.

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