A pandemia aguçou o engenho, deitando por terra os tradicionais conservadorismos

A pandemia deitou por terra os tradicionais conservadorismos e as burocracias que se afiguram, sobretudo na Europa, como travões ao dinamismo da economia digital e à reconversão dos modelos de trabalho.

 

Por Manuel Portugal Lage, Executive Board member da Escola Superior de Saúde do Alcoitão

 

Um dos chavões inequívocos de uma crise passa sempre pelas grandes oportunidades que dela advêm. Acredito que a pandemia nos forçou a tomar medidas que de outro modo demorariam sempre mais e encontrariam vários opositores à sua eficaz implementação.

Se há um ano nos tivessem dito que teríamos de adaptar os nossos recursos, de uma forma significativa e num curto espaço de tempo, teríamos posto em causa essa evolução. Evolução porque acredito que os nossos gestores conseguem ver para além dos aspectos economicistas (que nos ocupam em grande medida), vendo igualmente o vértice social em conjunturas mais complexas.

Há fundamento na fama dos portugueses enquanto um dos povos que maior capacidade de adaptação possui. É nessa caraterística de ajuste que nos devemos concentrar. Inovar para obter uma gestão mais eficaz, com observância da necessidade de conjugação desse resultado com a manutenção e melhoria da produtividade dos recursos.

Alienar recursos não pressupõe necessariamente uma boa estratégia de ajuste. No imediato, aliviará o peso do head count. Todavia, uma reestruturação e gestão eficazes implicam alteração de metodologias, reconversão de pessoas e, consecutivamente, a obtenção de maior produtividade e rentabilidade das equipas. Começando pelo básico, quem não consegue entender que uma pessoa em teletrabalho – desde que devidamente municiada – pode alcançar um elevado grau de produtividade, não chegará ao ponto de tirar o máximo proveito da reorganização que urge.

A produtividade esteve, desde sempre, ligada ao grau de felicidade e às condições de trabalho em que os recursos operam. Portanto, nesta conjuntura, não será diferente. Os profissionais de qualquer organização devem ter formação, ferramentas e condições acima da média para se readaptarem aos novos modelos de trabalho, sem prejuízo da sua vida pessoal e, já agora, dos seus índices de rendimento laboral.

Então, que tipo de mudanças poderão ser introduzidas para assegurar a confiança entre as organizações, os seus profissionais, conseguindo o melhor rácio possível entre produtividade e felicidade

Olhado para o exemplo concreto do ensino superior, conseguimos desmaterializar o ensino tornando-o mais eficaz à distância (com as devidas ressalvas), passando a presenciais apenas os serviços mínimos indispensáveis. Asseguraram-se desse modo tarefas essenciais e criaram-se condições tecnológicas para que a Academia pudesse estar permanentemente ligada, através de plataformas digitais. Talvez seja uma consideração estranha, mas será que sem pandemia teríamos levado a cabo uma transformação tecnológica deste calibre, tanto de empresas, como da academia e outros sectores?

O mundo está em em transformação contínua, mas acredito que nunca teríamos sido tão rápidos e eficazes como de facto estamos a testemunhar. É certo que por vezes esgotam-se as oportunidades, mas até lá, com a resiliência dos nossos gestores e profissionais, o músculo económico terá de vir ao de cima e, com ele, retornará o ritmo de crescimento a que Portugal se habituou nos últimos seis anos.

 

Este artigo foi publicado na edição de Abril (nº.124) da Human Resources, nas bancas.

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