A segurança e saúde no trabalho tem de ser parte integrante da cultura da empresa. E para prevenir é preciso investir

Hoje, 28 de Abril é o Dia Nacional de Prevenção e Segurança no Trabalho. Neste dia é essencial relembrar que o trabalho é importante para o ser humano. Mas o facto de vivermos numa sociedade desenvolvida não é, necessariamente, sinónimo de locais de trabalho adaptados ao Homem. 

Por Mónica Gomes, docente do ISEC Lisboa

 

O trabalho é importante para o ser humano – este é um facto indiscutível. Mas o facto de vivermos numa sociedade desenvolvida não é, necessariamente, sinónimo de locais de trabalho adaptados ao Homem.

Existe uma diversidade de situações, umas que contemplam locais equipados e monitorizados com vista ao bem-estar e produtividade do trabalhador, e outros locais que se encontram longe destes objectivos. Entre uns e outros existe uma diversidade enorme que começa naquilo que deu origem a cada empresa, a ideia, a competição, o investimento, a mão-de-obra.

Esta diversidades de situações está reflectida nas diferenças existentes no tecido empresarial português composto na sua quase totalidade por pequenas e médias empresa (PME). E são estas PME que são imprescindíveis à economia portuguesa (não exclusivamente), no emprego, nos serviços desenvolvidos, nas exportações, na criação de valor em cada região onde se encontram inseridas.

O progresso tecnológico contribui para diminuição de riscos considerados mais tradicionais, mas as novas formas de trabalho associadas à introdução de novas tecnologias, a transição digital, de novas relações organizacionais, entre elas as próprias novas formas de organização do trabalho, também acarretam novos riscos.

Nas novas tecnologias destaco a biotecnologia, nanotecnologias, sistemas de automação e robótica, avançados sistemas de enterprise resource planning, entre outros.

As relações sociais e organizacionais têm implicações nas condições de trabalho – carga de trabalho mais elevada, intensificação das tarefas atribuídas aos trabalhadores por diminuição de efectivos, empregos numa economia informal, outsourcing, para não referir o teletrabalho (re)introduzido em força face à crise pandémica que atravessámos, entre outros.

Já não é possível pensar apenas em medidas normalizadoras ou prescritivas, em que se actua sobre perigos e riscos facilmente identificáveis e tendencialmente considerados como os únicos relevantes pela sua prevalência ou magnitude. Estes são pontos de partida para o estudo e melhoria contínua das condições de saúde e segurança no trabalho.

Generalizar não pode ser simplificar o que é complexo e descartar a variabilidade das pessoas e do trabalho. É necessário considerar o trabalho prescrito, o trabalho real e as características de cada trabalhador.

Têm vindo a ser implementadas medidas que visam facilitar o quotidiano laboral, e muitas das medidas são um reflexo da adaptação das organizações a condições adversas como a pandemia COVID-19. É o caso do teletrabalho, da distribuição de equipamento informático de apoio, o estabelecimento de parcerias com diversas organizações, com benefícios para os trabalhadores, entre outras.

Ao longo dos anos as entidades empregadoras têm atribuído maior relevância às necessidades ergonómicas físicas e psicológicas dos trabalhadores no seu local de trabalho.

Desde a gestão de topo de cada organização e ao longo de toda a cadeia de gestão, a segurança e saúde no trabalho tem de ser parte integrante da cultura da empresa, tal como acontece com outras áreas, e não pode ser tratada como um conjunto de temas que apenas tem interesse para os especialistas ou para o departamento de recursos humanos ou departamento de qualidade, ambiente e segurança. Prevenir é também uma forma de investimento, que nesta área da SST das pessoas traz retorno muito significativo às empresas, mas sobretudo à sociedade.

É importante que os gestores afirmem a sua liderança respeitando as regras de segurança e saúde existentes e não se limitando a ordenar aos trabalhadores que as respeitem. A gestão participativa é salutar através do princípio de que as pessoas são responsáveis e devem ter autonomia na realização de suas tarefas tal como a lei indica.

E nem sempre as medidas de prevenção ou protecção a aplicar têm de ser complexas pois medidas simples e proporcionais ao risco existente podem melhorar consideravelmente a saúde e segurança no trabalho – ventilação, reforço da iluminação, utilização de ferramentas desenhadas de acordo com os princípios ergonómicos.

Nem sempre são necessários conhecimentos especializados para identificar riscos potenciais, mas a mudança não existe sem a criação e implementação de planos de sensibilização e formação.

As parcerias com instituições de ensino superior, empresas especializadas em SST, mas também em marketing e comunicação, capacitam as organizações e especialmente os seus recursos humanos e as suas lideranças. E fazem-no através da formação orientada para o reforço de competências em áreas relevantes e emergentes para a competitividade das empresas.

Deverá ser considerado o sistema dinâmico que se adapta e evolui ao longo do tempo.

A aplicação de ferramentas pedagógicas adaptadas a cada contexto profissional promove o envolvimento dos profissionais para uma causa, neste caso a diminuição de acidentes de trabalho, de doenças profissionais, o absentismo, e criam valor no capital humano da organização e na qualidade dos serviços prestados.

A inclusão de aspectos psicossocial na avaliação de riscos e valorizar a percepção dos trabalhadores no processo de análise e avaliação de risco cria novos desafios para os técnicos de SST envolvidos.

Existem diversas oportunidades de melhoria na área da segurança e saúde no trabalho que também têm reflexo positivo noutras dimensões da vida – familiar, pessoal.

A redução de custos é possível com investimentos menores e contextualizados, contribuindo para melhorar o desempenho competitivo das empresas, com as empresas e dentro das empresas.

Numa sociedade desenvolvida e contemporânea, a segurança e a saúde no trabalho fazem parte da gestão diária de uma organização.

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