A transformação digital nos Recursos Humanos: O poder da tecnologia

Nos últimos anos, os Recursos Humanos (RH) transformaram-se profundamente, impulsionados pela revolução digital. Os RH tornaram-se um parceiro estratégico nas organizações, utilizando ferramentas tecnológicas para prever, analisar e agir de forma mais eficaz sobre os desafios relacionados as pessoas. A digitalização está a moldar os RH e como as empresas podem e devem tirar partido destas inovações, para criar valor.

 

Por Sandra Alvarez, directora-geral da PHD | Omnicom Group

 

Uma das principais tendências em RH é o People Analytics, que utiliza dados para tomar decisões informadas sobre gestão de talento. Com esta tecnologia, é possível prever quais os colaboradores com maior risco de saída, identificar lacunas de competências e desenvolver programas de formação direccionados.

Um exemplo notável é o da Google, que implementou o projecto “Project Oxygen” para identificar os factores que tornam os gestores mais eficazes. Ao analisar dados de desempenho e feedback, a empresa conseguiu redefinir o papel dos líderes e aumentar a satisfação das equipas. Em Portugal, empresas como a NOS e a EDP têm adotado soluções de People Analytics para melhorar a experiência dos colaboradores e alinhar os objectivos individuais com os da organização.

A automação é outra área onde os RH estão a beneficiar da tecnologia. Ferramentas como o Workday ou o SAP SuccessFactors permitem agilizar processos administrativos, como o registo de presenças, avaliação de desempenho e gestão de benefícios.

No recrutamento, a inteligência artificial (IA) está a revolucionar a forma como as empresas seleccionam talentos. Plataformas como o LinkedIn Recruiter utilizam algoritmos para identificar os candidatos mais adequados com base em padrões de comportamento e palavras-chave. A empresa norte-americana Unilever utiliza IA para analisar vídeos de entrevistas, avaliando linguagem corporal e tom de voz, o que reduz vieses humanos e acelera o processo de contratação. Em Portugal, startups como a Landing.Jobs têm explorado soluções tecnológicas que conectam empresas a candidatos qualificados de forma mais eficiente e menos subjectiva.

A gamificação está também a ganhar terreno como ferramenta de engagement e formação. Empresas como a Deloitte introduziram jogos e desafios em programas de liderança, aumentando a taxa de retenção de conteúdos em até 50%.

Outra tecnologia promissora, continua a ser a realidade virtual (VR), que oferece experiências imersivas para treinar colaboradores em situações complexas. A Walmart usa simuladores de VR para preparar equipas para o “Black Friday”, ajudando-os a lidar com stress e multidões num ambiente controlado. Esta tecnologia permite desenvolver competências de forma segura e eficiente, especialmente em sectores como saúde e indústria.

A IA também está a ser utilizada para prever desafios antes que eles se manifestem. Ferramentas como o Gloat ajudam a mapear competências internas e sugerem planos de carreira personalizados para cada colaborador, promovendo a retenção e o crescimento dentro da empresa. A Microsoft tem investido no uso de IA para analisar padrões de comunicação interna e identificar sinais precoces de burnout ou insatisfação, permitindo intervenções preventivas.

Apesar das vantagens, a digitalização dos RH também traz desafios. O uso de dados sensíveis levanta preocupações relacionadas com a privacidade e ética. As empresas precisam de garantir transparência no uso da tecnologia e de cumprir regulamentações como o RGPD (Regulamento Geral sobre a Protecção de Dados). Além disso, a dependência excessiva de algoritmos pode perpetuar preconceitos inconscientes, se os dados utilizados forem enviesados. Um exemplo foi o caso da ferramenta de recrutamento da Amazon, que discriminava mulheres devido a padrões históricos de contratação.

A transformação digital nos RH não significa substituir o factor humano, mas sim potenciá-lo. A combinação de ferramentas tecnológicas com liderança empática e inclusiva é essencial para criar ambientes de trabalho saudáveis e produtivos. As organizações que investem em tecnologia não apenas para automatizar, mas principalmente para compreender e valorizar os seus colaboradores, estão a posicionar-se como líderes no mercado. Afinal, na época digital, o capital humano continua a ser o maior activo de qualquer empresa.

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