Altice: «A saúde mental é uma preocupação constante»

A Altice Cuidados de Saúde é a entidade responsável pela área de Saúde no Trabalho da empresa.

A MEO tem uma presença nacional e conta com cerca de 6500 colaboradores com tarefas muito diversas que incluem operações técnicas de manutenção da rede, técnicos comerciais e colaboradores envolvidos em áreas de projecto e desenvolvimento de tecnologias, entre muitos outros. Por isso, a área de Saúde no Trabalho, incluída na ACS (Altice Cuidados de Saúde) é assegurada por um robusto grupo de profissionais que inclui um director clínico de Medicina do Trabalho, médicos, enfermeiros, psicólogos e técnicos, que contribuem todos os dias para a evolução da actividade. Em entrevista à Human Resources, Cláudia Gil Pina Serra, directora da ACS, explica como esta área funciona na empresa.

 

De que forma a Altice tem vindo a trabalhar para fazer evoluir a sua área de Saúde no Trabalho?
A ACS tem conseguido evoluir a sua actividade através da sua equipa de profissionais e da implementação de diversas iniciativas, incluindo a oferta de serviços especializados como a Avaliação dos Riscos Psicossociais e a obtenção e renovação do Cartão Profissional de Segurança Privada.

Fomos pioneiros na implementação da Avaliação de Riscos Psicossociais, assim como na metodologia adoptada. Além da aplicação do questionário COPSOC, reconhecido internacionalmente, a metodologia da ACS inclui a avaliação do questionário tanto por psicólogos do trabalho, como pelo médico do trabalho na consulta. Trabalhando em parceria com a Medicina Curativa, a ACS disponibiliza consultas de psicologia e de psiquiatria, nos seus Centros Clínicos, dando continuidade e resposta às situações identificadas com necessidade de acompanhamento.

Na sua vertente de prestação de cuidados de saúde laboral a clientes externos, e nomeadamente a empresas de segurança privada, a ACS adoptou em 2023 os procedimentos necessários à avaliação médico-psicológica destes trabalhadores, assegurando assim o cumprimento de imperativo legal para a obtenção e renovação de carteiras profissionais. Também procuramos envolver os colaboradores nestas temáticas, pelo que temos a preocupação de desenvolver outras iniciativas, que lhes são dedicadas, como, por exemplo, as sessões de sensibilização para os temas da saúde mental, da nutrição, do suporte básico de vida, entre outros.

Com estas iniciativas, a ACS demonstra o seu compromisso com a saúde no trabalho, oferecendo serviços de alta qualidade que atendem às necessidades legais e que contribuem para um ambiente de trabalho mais seguro e saudável.

Que áreas foram reforçadas e quais as novas prioridades?
A ACS tem demonstrado um compromisso robusto em melhorar a saúde no trabalho através do reforço de áreas críticas como a saúde mental e a vigilância de trabalhadores expostos a radiações ionizantes e a riscos electromagnéticos. As novas prioridades incluem a implementação de avaliações essenciais para profissionais com riscos identificados, o uso de tecnologia para melhorar a saúde ocupacional e a criação de programas de bem-estar personalizados. Essas iniciativas não só atendem às exigências legais, mas também promovem um ambiente de trabalho mais saudável e produtivo.

Quais as medidas relacionadas com este tema que estão hoje em vigor na empresa?
Sem descurar os protocolos de vigilância de saúde previamente implementados, que se revelaram eficazes, nomeadamente na redução da sinistralidade laboral e no registo de doenças profissionais, a ACS implementou várias medidas para promover a saúde no trabalho, focando-se em áreas essenciais como a saúde mental e a segurança dos trabalhadores.

Exemplo disso são a avaliação dos riscos psicossociais, a avaliação psicológica dos profissionais de segurança privada e a criação de protocolos de actuação diferenciados para os trabalhadores expostos a radiações, assim como a riscos electromagnéticos.

Quais os grandes desafios na área de saúde no trabalho, seja do ponto de vista da estratégia ou da implementação?
A área de saúde no trabalho tem evoluído rapidamente, especialmente com a crescente adopção de modelos de trabalho híbridos e de teletrabalho. Paralelamente, o prolongamento da carreira laboral até idades próximas dos 70 anos coloca novos desafios aos serviços de saúde no trabalho, por via do condicionamento nas funções de trabalhadores com limitações cognitivas e físicas.

Outro grande desafio é o crescente aumento dos custos de saúde, que impactam directamente o valor dos serviços prestados. É preciso consciencializar os clientes que, para manter a qualidade dos serviços prestados, é inevitável ter de ajustar os valores para suportar o aumento de custos.

Estes novos paradigmas trazem consigo uma série de desafios que as empresas precisam de enfrentar, do ponto de vista estratégico e da implementação.

Em termos globais quais as melhores práticas da Altice, em matéria de saúde no trabalho, que gostaria de partilhar?
Desde a criação da ACS, a saúde mental é uma preocupação constante, e na saúde no trabalho não é diferente. A avaliação de riscos psicossociais, através do COPSOC ou outros questionários reconhecidos, tem de ser encarada pelas empresas empregadoras como parte integrante do exame de Saúde no Trabalho. Na experiência já consolidada da ACS, revela-se um poderoso contributo para a detecção precoce de disfunções com repercussão na saúde mental.

Sensibilizar para a importância da saúde mental e quebrar preconceitos é fundamental para que os colaboradores adiram às campanhas de consciencialização e sejam participantes activos.

Neste sentido, e em parceria com a MEO, a ACS tem proporcionado aos colaboradores sessões de bem-estar. Num ambiente descontraído, onde os colaboradores são convidados a participar em diversas actividades com os seus colegas, damos a conhecer os benefícios de ter um médico assistente, desmistificamos a saúde mental através de sessões de esclarecimento, proporcionamos rastreios nutricionais, consultas de avaliação dentária, entre outras actividades, sempre com o objectivo de contribuir para a importância da saúde física e mental.

Estas práticas contribuem para um ambiente de trabalho psicologicamente saudável, proporcionador de melhores níveis de produtividade e bem-estar.

Como é que as questões da saúde e segurança no trabalho se enquadram nos modelos híbridos em que está incluído o teletrabalho?
Nos últimos anos, verificou-se a implementação generalizada da organização do trabalho de forma remota, que incluiu nomeadamente o teletrabalho domiciliário na totalidade ou sob modelos híbridos.

Foi um dos legados das alterações sócio laborais decorrentes da pandemia COVID-19, num processo que já se assume como irreversível. A vigilância de saúde laboral destes trabalhadores é, de acordo com as normas legais, necessariamente sobreponível à vigilância realizada nos trabalhadores com regime presencial.

Num ambiente de trabalho híbrido, monitorizar a saúde mental dos colaboradores torna-se mais complexo. É necessário desenvolver estratégias eficazes para identificar sinais de stress e burnout. Promover uma cultura que encoraje os colaboradores a procurar ajuda e a utilizar os serviços de apoio disponíveis, mesmo quando trabalham remotamente, é essencial para a identificação precoce.

De que forma a área de saúde no trabalho se adapta à grande mobilidade que os profissionais têm actualmente?
A grande mobilidade, associada à polivalência de funções, são realidades do mundo laboral observadas desde o início deste século. Resultaram sobretudo da evolução tecnológica e da consequente reorganização de postos de trabalho.

A MEO está naturalmente situada no topo desta revolução tecnológica, bem como no importante recondicionamento laboral conduzido nestes tempos.

A mobilidade e a polivalência de funções implicam assim, um desafio para a eficaz vigilância de saúde, exercida nomeadamente através dos exames ocasionais, que são realizados aquando de mudanças de funções, assim como o tipo de protocolo de exames que asseguram a vigilância dos trabalhadores com riscos associados.

Uma questão que ganhou grande relevância nos últimos anos foi a da saúde mental. Após o impacto que a pandemia teve neste tema, a saúde mental continua hoje a ser uma preocupação para a empresa?
Sim, a saúde mental continua a ser uma preocupação significativa, mesmo após o impacto da pandemia. A crise global causada pela COVID-19 intensificou os desafios relacionados com a saúde mental no local de trabalho, destacando a importância de abordar esta questão de forma proactiva e contínua.

Com mais pessoas a reconhecerem os desafios e a procurarem apoio, a MEO está a responder a esta necessidade, através da ACS, nomeadamente com a avaliação de riscos psicossociais em contexto de Saúde no trabalho e pela disponibilização em todos os Centros Clínicos da especialidade de Psicologia.

Investir na saúde mental promove um ambiente de trabalho mais saudável, resiliente e produtivo, permitindo reter talentos e construir uma cultura organizacional positiva.

Como é feito o acompanhamento dos colaboradores numa área tão sensível?
É fundamental respeitar a confidencialidade e a privacidade dos colaboradores ao lidar com questões relacionadas com a saúde mental. Os colaboradores devem sentir-se seguros ao procurar apoio e confiantes de que as suas informações serão tratadas com o máximo respeito e discrição. Ao combinar consultas presenciais e virtuais, de psicologia e psiquiatria nos centros clínicos, a ACS disponibiliza um suporte abrangente e acessível à saúde mental, adaptando-se às necessidades individuais e garantindo que todos tenham acesso ao cuidado de que precisam. Esta abordagem integrada não só promove o bem-estar emocional, mas também fortalece a cultura organizacional de apoio mútuo e respeito pela saúde mental.

Quais as tendências de futuro em matéria de saúde e segurança no trabalho?
O futuro da saúde no trabalho será marcado por uma maior integração de tecnologia, uma abordagem holística ao bem-estar e a adaptação às mudanças nos modelos de trabalho. Não esquecendo o cumprimento das exigências regulamentares de um ambiente de trabalho em constante evolução. As empresas que adoptarem estas tendências, reconhecem que o bem-estar dos colaboradores é fundamental para a produtividade e o sucesso organizacional a longo prazo.

 

Este artigo faz parte do Caderno Especial “Saúde no Trabalho” publicado na edição de Junho (n.º 162) da Human Resources.

Caso prefira comprar online, tem disponível a versão em papel e a versão digital.

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