António Pedro Pinto, Lionesa Business Hub «O sentido de pertença nunca foi tão importante para o talento»
Apesar da pandemia, a procura das empresas não tem parado, sendo que neste momento, trabalham na Lionesa cerca de 7 mil pessoas. Este crescimento reflecte a preocupação constante por parte da organização com o bem-estar de toda a comunidade, refere em entrevista António Pedro Pinto, director de Marketing do Lionesa Business Hub.
Por Sandra M. Pinto
Uma das novidades mais recentes foi a implementação do conceito de “clube” através da criação de espaços de trabalho customizados, «onde o principal objectivo é promover a saúde e o bem-estar da grande comunidade que aqui trabalha, facilitando a criatividade e, acima de tudo, priorizando a sustentabilidade», avança António Pedro Pinto.
Que balanço fazem dos últimos dois anos?
Foram dois anos muito intensos, muito exigentes, mas também extremamente enriquecedores. Apostamos no nosso conceito de Community Thought Office Spaces, ao termos aumentado a nossa equipa de marketing, e contratado uma Community Happiness Manager. Para nós o well-being e a felicidade da nossa comunidade sempre foi uma prioridade, e a pandemia só veio reforçar essa mesma importância.
Apostamos também no digital. Implementamos cacifos inteligentes em parceria com os CTT. Demos uma nova cara ao nosso website, em parceria com a agência britânica Digital BIAS, que foi reconhecido com um International Business Award pela Stevie Awards, como melhor website para real estate no mundo. Transformamos o nosso cartão de benefícios, anteriormente físico, num cartão 100% digital, através de uma app. E criamos também uma visita virtual, que permite a todos visitar o Lionesa BH, ainda que a milhares de quilómetros de distância de Leça do Balio.
Trabalhamos ainda em prol de desenvolver uma verdadeira cidade futurista, tendo estabelecido parcerias com empresas como a CBRE, Nano Designs, Prozis, Unilabs, entre outras dentro da área das telecomunicações. Estamos a dar um novo look aos nossos espaços comuns, a trabalhar para sermos uma cidade 5G, e em oferecer experiencias imersivas como, por exemplo, jogos em realidade virtual e exibições de arte digital.
A procura por parte das empresas parou?
De todo! Fechamos 2021 com um balanço extremamente positivo. Com uma taxa de ocupação de 100% e com dois novos edifícios, foram colocados mais de 14.000 metros quadrados para empresas, perfazendo um total de 56.000 metros quadrados de área ocupada no LBH. Entraram cinco novas empresas que permitiram a criação de mais 800 novos postos de trabalho, que se juntaram à comunidade de 7 mil colaboradores, de mais de 40 nacionalidades. Actualmente, o LBH tem cerca de 56.000 metros quadrados e está a desenvolver uma expansão até aos 110.000 metros quadrados.
Portugal é o sétimo país do mundo com melhor proficiência em inglês, destacando-se o Porto como a cidade portuguesa com melhor nível de inglês para não nativos. A região do Porto recebe 30 mil estudantes estrangeiros por ano e é o 3.º hub tecnológico que mais cresce na Europa, o que significa que o talento está a reconhecer a excelência das nossas universidades e isso ajuda a atrai-lo e retê-lo no nosso território.
Quantas empresas acolhem hoje e quantas pessoas aí trabalham?
Mais de 120 empresas, entre as quais a Farfetch, Oracle e Vestas, cerca de 7 mil pessoas provenientes de mais de 40 nacionalidades.
Com o regresso à normalidade que medidas estão a implementar para os vossos colaboradores?
A ideia é continuar a trabalhar o nosso conceito de Business Club. Como já disse anteriormente queremos criar um espaço de eleição para o talento, e acreditamos que a nossa aposta em eventos e actividades, vão ajudar a consolidar este conceito.
Tivemos a sorte também, do novo Corredor Verde do Leça, fazer frente com o Lionesa BH. Para além de promover uma maior ligação com a natureza, vai permitir aos colaboradores deslocarem-se de forma mais sustentável. Para que isto aconteça, estamos a trabalhar com várias entidades para puder disponibilizar trotinetes e bicicletas elétricas.
Queremos também implementar um ginásio ao ar livre, ao longo do corredor verde e vamos agora criar o Lionesa Running Society, onde promovemos corridas em comunidade.
Ainda em 2022, vamos poder contar com a transformação da Ferrovia de Leixões, que irá passar de só transportar mercadoria, para começar a transportar passageiros, oferecendo assim mais uma solução de mobilidade para quem faz do Lionesa BH a sua segunda casa.
Para além da temática da mobilidade e well-being, todos os nossos novos edifícios vão beneficiar de certificados LEED e WEEL, que contemplam o nosso cuidado quer com a sustentabilidade ambiental, quer com a sustentabilidade humana.
Estamos ainda a trabalhar com a CBRE e a Nano Design num novo look para o nosso corredor central, a espinha dorsal que une todas a empresas do Lionesa BH, e que serve como ponto de encontro para toda a nossa comunidade. Ambicionamos ter este projecto concluído já antes do Verão, e tenho a certeza que vai apaixonar todos aqueles que nos visitam. O conceito vai ser muito interessante. Na essência dividimos o corredor central em seis, com seis temáticas diferente. Vamos ter uma zona para exposições de arte, uma zona de jogos, assim como uma cozinha aberta onde a nossa comunidade vai poder contar com a presença de diferentes chefes.
Para já qual é o modelo de trabalho adoptado pela empresa?
Temos mais de 120 empresas aqui albergadas, com modelos de trabalho distintos, que variam entre o hibrido e o presencial. Sabemos que estes modelos de trabalho estão em constante analise, e que as coisas vão mudando consoante as diretrizes da DGS.
Para nós o trabalho remoto já era uma realidade muito antes da pandemia. Grande parte das empresas que aqui temos são tecnológicas, e já estavam habituadas ao modelo hibrido. No caso da equipa do Lionesa Business Hub, sempre que possível, vamos para o escritório. Os nossos projectos são muito dinâmicos e exigem muita colaboração entre equipas e pares, seria extremamente improdutivo trabalharmos a partir de casa. Para além disso, vivemos de coração o sentido de comunidade que tanto trabalhamos em prol de, e acabamos por ser mais felizes aqui, a trabalhar ao lado um dos outros. E isso é o mais importante.
Com a pandemia surgiu uma preocupação muito grande com o bem-estar. De que forma foi essa preocupação vivida no Lionesa Business Hub e que estratégias implementaram?
O Lionesa BH sempre se posicionou como Community Thought Office Spaces. Ou seja, as empresas que aqui temos sediadas olham para nós como uma extensão dos seus próprios recursos humanos. Focamo-nos muito no bem-estar da comunidade. Queremos um espaço de eleição para o talento. Um espaço que os faça vir, em vez de terem que vir. Um espaço de alegria, vida, reflexão, inovação, colaboração, conhecimento e, acima de tudo, feliz.
Falam no conceito de Clube. Exatamente em que consiste? Qual o objectivo deste Clube?
Este conceito de business club começou a ficar mais consolidado no final de 2020. Percebemos que a felicidade no trabalho já não é só petiscos e mesa de ping-pong. Por isso é que oferecemos arte e cultura.
Organizamos uma serie de eventos, como as Music Therapy Sessions, World Sweet Treats e o famoso The Reunion. Eventos exclusivos à nossa comunidade. Conseguimos perceber juntamente com as empresas que aqui estão, que os colaboradores começaram a vir mais ao escritório nos dias em que decorriam estes eventos, e que de facto estas iniciativas aportavam valor, não só para a nossa comunidade, como para as empresas que aqui se encontram sediadas. Para além destes eventos, oferecemos à nossa comunidade um leque de atividades semanais. Desde aulas de ioga, a aulas de surf e golfe.
Estamos ainda a trabalhar em dois novos conceitos: um Health Lab e um Lionesa Fitness Academy. A ideia é a nossa comunidade poder fazer um check-up geral da sua saúde, ter acesso a aulas com personal trainers, assim como consultas de nutrição.
Uma das nossas apostas, vai passar também pela criação de um espaço de co-living, como solução de habitação adaptada ao (tele)trabalho, assim como espaços de co-working para a crescente onda de nómadas digitais, que procuram associar-se a uma comunidade like-minded. O sentido de presença nunca foi tão importante para o talento, a própria pandemia veio acelerar esta busca pelo propósito. No Lionesa Business Hub temos um propósito que é reforçado pela partilha de valores e princípios por cada uma das empresas que cá estão e fazem a diferença. Um exemplo é a Vestas que ganhou a distinção de empresa mais sustentável no mundo.
Até que ponto é importante o vosso compromisso com a cultura, a arte e a criatividade?
Canalizamos uma grande parte do nosso investimento para a arte e a cultura, não só nas actividades, como nos projectos. Investimos em projectos que não têm como base o lucro, mas antes a sustentabilidade. Isto porque queremos intervir na envolvente local, reabilitar a sua história, e certificar-nos de que transformamos a região da Via Norte num marco histórico, mas também numa cidade inteligente onde facilitamos a vida da nossa comunidade e fazemos com que se apaixonem pelo local onde trabalham.
A arte fez sempre parte da nossa forma de estar. Quisemos desde sempre que a arte fosse democratizada quer para os nossos públicos internos quer para quem nos visita ou para a comunidade onde nos incluímos. Acreditamos que a arte deve fazer parte do dia-a-dia das pessoas e que o contacto com a cultura desperta a criatividade e a motivação de todos os profissionais das várias áreas. No LBH não dispensamos a cultura e o património, porque não há futuro sem ligação ao que houve antes, nem há energia sem que a cultura nos interpele.
E de que modo esse compromisso ganha forma?
Nas várias manifestações que temos e assumimos. O Open Air Gallery, conceito de arte a céu aberto, que personifica isso mesmo, um conceito da democratização da arte, abrindo à comunidade obras que vulgarmente estão encerradas dentro de quatro paredes. Já passaram por aqui exposições de Amadeo Souza-Cardoso, instalação do Professor João Machado e uma exposição do Street Art Evolution que se mantém na Lionesa para visita.
O mural da Lionesa – Projeto de Grafitti /Street Art é o maior projecto de Graffiti/Street-Art, que envolveu a participação de 10 artistas, oriundos de todo o país. Com aproximadamente 1337 m2, o muro foi intervencionado, pelo colectivo de artistas, em duas fases. A primeira com carácter individual, em que os artistas tiveram toda a liberdade criativa para retratarem a história da cidade de Matosinhos. A segunda fase retrata a história da evolução da Lionesa e o processo de produção da cerveja, criando uma fusão em toda a obra e oferecendo, desta forma a uma experiência visual completa.
Contratamos recentemente um curador, que vai ficar responsável pela intervenção em diversas áreas do Lionesa Bussiness Hub, onde queremos introduzir também o conceito de arte digital. Estamos a trabalhar agora com um artista norte americano, no sentido de intervencionar um dos nossos murais, diretamente de LA, através de realidade virtual.
Nos diversos eventos que organizamos para a nossa comunidade, temos sempre o cuidado de inserir uma componente artística/cultural. Por exemplo, fechamos recentemente duas parcerias para o nosso Hello Card com o Museu e Igreja da Misericórdia do Porto e a Livraria Lello.
Nos nossos Music Therapy Sessions, tentamos também apoiar artistas emergentes, tendo trazido artistas de rua para o nosso corredor central. Vamos ainda celebrar os nossos 20 anos de existência, juntamente com a nossa comunidade, ao organizarmos um evento da Brands Like Bands exclusivo para o Lionesa BH, incentivando os lioneses a ligaram-se ao mundo artístico da musica.
Têm conseguido atrair investimento estrangeiro? É ele importante para o hub? Em que áreas se tem destacado esse investimento?
É fundamental criar talento, mas também importá-lo. Em 2020, Portugal foi eleito como o melhor sitio do mundo para se teletrabalhar. Somos o terceiro pais mais seguro do mundo, temos sol todo o ano, temos excelentes infraestruturas, um serviço nacional de saúde de qualidade e acessível, golfe, praias, uma gastronomia fantástica, e uma facilidade de quem nos visita de encontrar quem fale inglês e até mesmo outros idiomas.
Reunimos todas as condições necessárias para sermos destino de eleição para estes jovens profissionais internacionais, proficientes nas novas tecnologias. Precisamos agora de saber usufruir destas mesmas condições especiais de que beneficiamos, o que envolve uma revisão das burocracias nos processos de emissão de vistos, assim como nas nossas politicas fiscais. É preciso perceber que ao atrair talento qualificado para o nosso país, atraímos com ele investimento nas mais diversas áreas. Esta, pode mesmo vir a ser uma das soluções para a sustentabilidade do estado social.
No Lionesa BH estamos agora a apostar numa Lionesa Academy que visa reunir diferentes instituições académicas, nomeadamente escolas de programação, com o objectivo de não só aprimorar o talento que já existe no nosso hub, mas também reconverter o talento da comunidade em geral. Existem várias funções que vão deixar de existir com a digitalização e a inovação e por isso temos que ser capazes de converter o nosso talento. As empresas aqui sediadas são na sua maioria grandes multinacionais estrangeiras. Nos últimos anos, atraímos para o Porto uma grande quantidade e qualidade de investimento estrangeiro, nomeadamente na área de IT, ID e Serviços Partilhados.
Anunciaram a criação de um parque verde e de lazer. Qual a sua finalidade?
Faz parte do nosso ADN abraçar ideias novas e arrojadas. Iniciamos o projecto de criação de um novo jardim verde e de lazer com cinco hectares, da autoria do arquitecto Siza Vieira e do arquitecto paisagístico Sidónio Pardal, assim como a reabilitação do Mosteiro de Leça do Balio. Quer seja porque tiveram uma manhã mais stressante, a necessidade de tomar uma decisão importante ou até mesmo uma reunião informal com a equipa, este jardim vai servir como um espaço de relaxamento e neuro-estimulação para a nossa comunidade.
O que vão os visitantes lá encontrar?
Quisemos “resgatar o Mosteiro de Leça do Balio para toda a Comunidade”. Foi com este ponto de partida que assumimos a recuperação de um dos espaços mais marcantes da história do Norte de Portugal, juntando pela primeira vez dois vultos da arquitectura portuguesa e mundial, Siza Vieira e Sidónio Pardal. A Siza Vieira cabe não só a reabilitação física e patrimonial do espaço como também o desafio de ali enquadrar um novo motivo de visitação que devolva ao Mosteiro a ligação ao Caminho de Santiago e aos seus caminhantes. Sidónio Pardal vai dar vida à criação de Siza com um novo jardim lazer, espaço de reflexão e introspeção.
De que forma olham para o futuro?
Com confiança e expectativa. Cada vez mais Portugal, e em particular, o Norte, tem vindo a estar nas bocas do mundo não só como um hotspot turístico, mas também pelo reconhecimento do seu talento, assim como a qualidade de vida que o território tem para oferecer.
Aliás, fechamos recentemente contrato com uma grande multinacional, que após conhecer o nosso projeto, assim como toda a área envolvente, renderam-se e decidiram triplicar o espaço que tinham inicialmente pensado.
As empresas vão para onde o talento está, e o talento quer ir para onde tem qualidade de vida e é feliz. E, felizmente, o nosso país oferece precisamente isso.
Nesse percurso que desafios identificam como prioritários?
A captação e retenção de talento. É necessário continuarmos a intervir no território para reabilitarmos o que de melhor o nosso país tem para oferecer, e criarmos mais e melhores infraestruturas para facilitar a vida de quem escolhe Portugal como local para viver. E para isto, precisamos da ajuda dos municípios.
É preciso também uma maior integração entre as instituições académicas e as empresas. Precisamos de garantir uma constante formação do talento às novas tecnologias. É também através deste crescente relacionamento entres as universidades e as empresas que conseguimos aumentar os processos de inovação.
Para os gestores e líderes de empresa que estão a ler esta entrevista, diga-nos o que distingue a Lionesa de outros espaços semelhantes, e porque devem escolher o Lionesa Business Hub?
Não há outro local assim no mundo. Com este enquadramento, com esta arquitectura, com esta dinâmica tão própria. Estamos num ponto nevrálgico de um território que sempre foi a espinha dorsal industrial de Portugal (o Norte e a Via Norte onde estamos nós, o Super Bock Group, a Sonae e a Efacec, entre muitas outras indústrias), onde estão os equipamentos necessários ao crescimento (aeroporto, porto, hospitais, faculdades) e onde há hábitos da vida (conhecimento, cultura, património, lazer, praia, surf, vida noturna) que casam esta indústria com este território num equilíbrio que constrói uma qualidade de vida única no mundo.