As big tech já não estão a exercer o mesmo fascínio nos jovens talentos. Porquê?
Nos dois primeiros meses do ano, 120 mil pessoas foram despedidas na área da tecnologia. A Alphabet, empresa detentora do Google, foi responsável por 10%, no mês seguinte a Meta anunciava mais 10 mil despedimentos.
Nos Estados Unidos, não é mesmo o momento ideal para entrar no mercado de trabalho de tecnologia, relata o The Economist. Durante anos com lucros gigantescos, o sector tech investiu em recrutamento, que aumentou durante a pandemia, a Meta, por exemplo, duplicou o seu quadro de funcionários. Mas esses dias acabaram.
As big tech enfrentam uma concorrência mais feroz (como o TikTok) e condições económicas mais difíceis, incluindo escassez de materiais e produção, e elevadas taxas de juros. Pressionado por investidores a adoptar conceitos como “responsabilidade fiscal” e “crescimento de longo prazo”, o sector demitiu, no último ano e meio, cerca de 300 mil trabalhadores, número que já não se verificava há duas décadas.
E os efeitos estão a ser sentidos em todas as universidades do país. Alguns licenciados em TI viram os seus estágios cancelados; aqueles com ofertas de emprego tiveram as datas de início adiadas, revela Sue Harbour, directora executiva do centro de carreiras da Universidade de Berkeley. Tantos outros enviaram candidaturas para centenas de empresas, mas não obtiveram qualquer resposta.
As big tech, como a Meta, Apple, Amazon, Netflix e Google, sempre foram atractivas bem além de todos os benefícios que disponibilizavam. Agora, a qualidade que os candidatos mais prezam numa empresa é a estabilidade, revela uma pesquisa recente da Handshake, uma startup de recrutamento.
É uma grande mudança na cultura dos estudantes de TI em Berkeley. As grandes empresas exerciam um fascínio e nenhuma outra empresa era considerada digna para se trabalhar. Parte dessa mística vem de um misto de competitividade e superioridade, impulsionado pelas redes sociais.
Os altos salários e a comida gourmet das big tech também faziam parte da mística. Assim como os amplos escritórios, que faziam lembrar um “recreio”. Mas agora os universitários estão a começar a perguntar-se se as big tech são mesmo assim tão fascinantes e começam a olhar para outros aspectos como experiência, criatividade e estabilidade, em vez do “nome” e da “marca”.