As lições para a Gestão de Pessoas escondidas na longa metragem “Eu, Capitão”

O drama dos africanos que atravessam o mar Mediterrâneo para tentar chegar à Europa é um sonho para muitos que vivem em condições sub-humanas. A procura por uma vida melhor não é uma miragem, mas uma necessidade real. Real é também a história em que se baseia “Eu, Capitão” (“Io, capitano”, no título original), do realizador Mateo Garrone, e que conta com Seydou Sarre e Moustapha Fall nos principais papéis.

 

Por Paulo Miguel Martins, professor da AESE Business School e investigador nas áreas de Cinema, História, Comunicação e Mass Media

 

O filme segue a história verídica de um rapaz senegalês que, juntamente com um primo, quer ir para Itália. O objectivo é claro e fica bem definido. A motivação é alta. Sabem o que querem deixar para trás e o que pretendem atingir. Traçam um plano para conseguirem dinheiro, trabalhando na construção civil, o que implica faltarem à escola. Sabem que para a viagem terão de pagar a intermediários e vencer dificuldades, mas a motivação é mais forte e afasta os receios perante as notícias das mortes na travessia do deserto do Sahara e em pleno mar, que são patentes para todos.

Quando partem, tudo parece correr bem. Mas depressa os desafios se tornam tremendos. Milícias pedem dinheiro para os deixar continuar a viagem no autocarro. Pagam e avançam, mas de repente a viagem tem de continuar a pé em pleno deserto. Um guia dirige um grupo de homens e mulheres, uns mais jovens e outros mais velhos, em que alguns morrem pelo caminho. Novas milícias atacam-nos e prendem os que não pagam. A tragédia aumenta.

O protagonista é separado do seu primo. Preso numa espelunca, é espancado por um bando de malfeitores que querem mais dinheiro, mas ele não tem nada para dar. Com outros prisioneiros na mesma situação, espera uma morte iminente. No entanto, um dos seus companheiros de infortúnio dá-lhe uma ajuda. Ele aceita. Não desperdiça as oportunidades e esta é uma grande lição do filme. Vale a pena arriscar, aproveitando o contexto e as circunstâncias que vão surgindo. Contar com os outros é essencial e nesta ocasião ainda mais. O sonho permanece presente, porém, a motivação imediata é conseguir encontrar o primo. Aceita um trabalho que faz com competência.

É um meio para subsistir e também mais uma forma continuar a procurar o seu familiar. Isso dá-lhe esperança e vai unindo outros à sua causa. Vai conseguindo pequenos, ainda que valiosos, apoios e um dia reencontra de facto o primo. Vem ferido e corre perigo de vida, depois de peripécias indescritíveis, mas agora o final pode estar próximo. Descobrem uma rede que transporta emigrantes por mar. O cabecilha exige um alto pagamento, no entanto, oferece-lhe um preço acessível se for ele a conduzir a lancha repleta de fugitivos. Aceita, depois recusa ao tomar consciência da sua pequenez, mas desesperado acaba por concordar.

O mais jovem no barco torna-se capitão. O que o move é a necessidade concreta de salvar a vida do primo, dos outros passageiros e alcançar o seu sonho de poder ajudar a mãe e os irmãos que ficaram. Quando tudo parece perdido, os fugitivos revoltam-se. Ele vai falar com eles. Comunica de forma clara uma única mensagem: ninguém vai morrer! Inspira-lhes confiança e ânimo! Esta é outra lição decisiva da história: saber ir ao encontro dos outros, envolvendo-se com eles na procura de respostas reais às suas necessidades. Isso acaba por fortalecê-lo a si próprio.

Há uma meta comum a atingir que é clara para todos. Estão juntos e unidos. Ele resiste e a embarcação continua, até que conseguem. E o rapaz torna-se já num homem feito.

 

Este artigo foi publicado na edição de Agosto (nº. 164) da Human Resources, nas bancas.

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