As quatro ‘personas’ profissionais criadas pela pandemia. E como influenciam o seu interesse em regressar (ou não) ao escritório

Identificar diferentes tipos de trabalhadores – e o seu respectivo interesse em regressar ao escritório – é a chave para a construção de uma equipa pós-pandémica dinâmica.

Por Stephanie Vozza, no site Fast Company

 

Agora que ultrapassámos um ano de pandemia, a maioria das pessoas habituou-se a novas rotinas. Enquanto as vacinas mantêm a promessa de um regresso à normalidade, nem todos os colaboradores querem que as coisas voltem a ser como eram. Os empregadores enfrentam agora um desafio único ao criarem o local de trabalho do futuro, afirma Mary Bilbrey, directora global de Recursos Humanos da empresa de serviços profissionais JLL.

«Durante a pandemia, as empresas concentravam-se no bem-estar dos colaboradores e em pôr em prática programas e recursos para o talento», revela Mary Bilbrey. «Tivemos de repensar a forma de envolver os colaboradores quando não podíamos estar fisicamente juntos. Agora que as equipas estão a voltar, temos de ser flexíveis quanto ao espaço de trabalho físico como parte da proposta de valor do empregador. Precisamos de ambientes de escritório únicos que sejam mais propícios à colaboração para uma força de trabalho híbrida.»

Uma ferramenta que os gestores podem utilizar para criar novas combinações é considerar as identidades profissionais criadas pela pandemia. Bilbrey identifica quatro grupos distintos de trabalhadores que podem ditar a forma como o espaço e a tecnologia devem conceber o local de trabalho do futuro.

 

  1. O tradicional trabalhador de escritório

Esta pessoa está pronta para voltar ao escritório. Provavelmente não trabalhava em casa antes da pandemia e irá preferir estar no escritório a maior parte do tempo daqui para a frente.

«Eles não se sentem tão atraídos pela flexibilidade ou por horários rotativos como outros colaboradores», explica Bilbrey. «O desafio para as empresas é se um trabalhador de escritório tradicional gere outras equipas. Esta pessoa terá de fazer um esforço extra para reconhecer que os membros da sua equipa podem ser outras identidades.»

 

  1. O amante da experiência

Os amantes da experiência tinham um grande desejo de flexibilidade antes da pandemia. Embora esta pessoa valorize a sua comunidade de trabalho, ela sente que o tempo fora do escritório também aumenta os seus sentimentos de compromisso, realização e empowerment.

«Este trabalhador irá provavelmente querer passar dois a três dias no escritório com a flexibilidade de trabalhar também fora dele», diz Bilbrey. «O desafio para os líderes é compreender como gerir alguém que por vezes está em casa de uma forma que não seja perturbadora para os outros membros da equipa. Precisam de ser organizados e isto pode envolver uma planificação da agenda quando faz sentido colaborar com outros membros da equipa.»

 

  1. O viciado em bem-estar

Os viciados em bem-estar valorizam o seu equilíbrio trabalho-vida e a saúde. Antes da pandemia, este tipo de colaborador abraçava o trabalho à distância e as deslocações mais curtas, permitindo um bom equilíbrio entre as suas prioridades privadas e profissionais. Enquanto o amante da experiência prefere mais dias no escritório, o viciado em bem-estar quer mais dias em casa.

«Este colaborador quer vir para o escritório apenas um ou dois dias por semana», afirma Bilbrey. «Precisa de uma empresa que lhes permita criar um bom equilíbrio. Vêem-se muitos viciados em bem-estar nas indústrias digital e tecnológica.»

 

  1. O espírito livre

Este colaborador quer trabalhar à distância a tempo inteiro. O tempo com a família é a prioridade principal. «Pode vir para uma reunião ou compromisso especial, mas prefere trabalhar em casa a tempo inteiro», explica Bilbrey. «Não quer ser colocado num horário regular. Na verdade, pode viver fora da área do escritório. O desafio para os gestores é garantir que esses trabalhadores continuam a sentir-se ligados e incluídos.»

 

Como utilizar as identidades profissionais

Da perspectiva dos RH, é importante manter os colaboradores envolvidos e ligados, e o escritório é importante para restabelecer a cultura e estimular a colaboração e a inovação, sublinha Bilbrey.

O primeiro passo é obter o equipamento certo. O amante da experiência, o viciado em bem-estar e o espírito livre confiarão na tecnologia que lhes permita colaborar com os colegas de trabalho que se encontram no escritório ou que também trabalham à distância. Ter as ferramentas certas no local, como videoconferência e plataformas de gestão de projectos, será fundamental para que os esquemas híbridos funcionem.

Os líderes também precisam de conhecer as preferências individuais dos membros da sua equipa e de ser capazes de fornecer o necessário para os apoiar. «Fornecer aos líderes ferramentas de formação e de acolhimento para compreenderem as pessoas que têm nas suas equipas», recomenda Bilbrey. «Sejam sensíveis às necessidades de um colaborador. O nível de flexibilidade depende do tipo de trabalho que o colaborador faz.»

E se o trabalho não exige que um colaborador volte, iniciem com antecedência o diálogo sobre expectativas.

«Se não oferecerem flexibilidade, arriscam-se a perder colaboradores para empresas que o façam», afirma Bilbrey. «Os colaboradores querem estar alinhados com as empresas que partilham os seus valores. Querem um empregador que mostre que se preocupa com o seu bem-estar. Isto exigirá flexibilidade para ser um empregador atractivo.»

Por fim, aconselha Bilbrey, ouçam as perguntas que os colaboradores fazem. «Inventem estratégias e pensem em como podem alargar os espaços de trabalho para fazerem parte dessas estratégias. A melhor maneira de saber o que desejam os colaboradores é perguntar.»

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