As redes sociais para quem é do tempo da máquina de escrever e do telefone de disco

Por Paulo Teixeira, bastonário da Ordem dos Solicitadores e dos Agentes de Execução

 

Pouco está igual ao que era em 1989, ano em que me inscrevi na Ordem dos Solicitadores e dos Agentes de Execução (OSAE), então Câmara dos Solicitadores, e comecei a minha carreira. O som mais parecido com o de teclas era, efectivamente, o da máquina de escrever e ainda era preciso estarmos nos sítios para conseguirmos atender chamadas telefónicas, quiçá num telefone de disco. Ironicamente, hoje, a máquina de escrever e o telefone de disco são tidos como objectos vintage cheios de potencialidades decorativas. Todavia, fora da loja de antiguidades, é inegável que o progresso tecnológico teve impactos transversais na forma como vivemos e trabalhamos. E também na forma como comunicamos e nos relacionamos. A Justiça não foi excepção e a verdade é que, entre o tanto que aconteceu, as redes sociais vieram revolucionar, simplificar e aproximar.

Esta viagem chamada inovação acontece e faz-se sentir todos os dias, a cada instante. E sinto uma grande satisfação quando recordo que a OSAE foi das primeiras a ousar tentar. Foi com esta audácia, mas também com esta humildade, que avançámos para o mundo das redes sociais e que ambicionámos fazer a diferença na comunicação de temas que, envolvendo os profissionais que representamos, importa levar aos cidadãos. E isto não é sinónimo de copiar e colar o conteúdo que já temos noutro suporte qualquer. Isso é, sem dúvida, algo que todos temos vindo a aprender ao longo deste caminho: muda o público, mudam as expectativas… E também o tempo, que vai passando, traz mudanças aceleradas e permanentes no que se espera e anseia.

Assim tem sido. E, sem descurar a segurança e o rigor jurídicos, a missão é o que permanece imutável: comunicar Justiça sem complicar e evidenciando a importância de se consultarem profissionais habilitados. Foi um caminho de riscos, não escondemos. Um caminho que, com os alicerces necessários, teve (e continua a ter) espaço e oportunidade para sairmos de uma zona de conforto que é o “juridiquês”, para desconstruirmos conceitos e procedimentos, para nos aproximarmos dos cidadãos e garantirmos informação fidedigna e acessível. Porque, contrariamente ao que se possa pensar, é o cidadão mais esclarecido e informado que vai procurar apoio ao sítio certo, sem ceder aos aparentes encantos de pesquisar respostas no motor de busca ou de aceitar os serviços de quem, prestando-os sem legitimidade para tal, está a cometer o crime de procuradoria ilícita.

Na certeza de que plataformas como as redes sociais abrem portas para todos – para os que vêm por bem e para os que nem por isso -, esta é mesmo uma responsabilidade partilhada por todos que decidem andar por lá. E tem sido muito interessante assistir e integrar, com a OSAE, este percurso de uma Justiça que quer e tem conseguido ser mais inclusiva, mais compreensível e mais alcançável. Mais justa. A OSAE procura contribuir para isso mesmo e, tendo começado com a sua revista e site institucionais, hoje está presente e activa, com conteúdos trabalhados de forma distinta, no Facebook, Youtube, Instagram, WhatsApp, LinkedIn, rede X, Threads e Spotify. Isto sem abandonar a aposta em meios que continuam a chegar a outros públicos, mais apologistas do offline, do papel e dos media tradicionais.

Acreditamos (e temos vindo a comprovar) que só assim, com uma estratégia global e integrada, conseguimos levar mais longe as profissões que orgulhosamente representamos. Profissões que também elas têm procurado adaptar-se na forma como comunicam o que fazem e qual o valor acrescentado que trazem. Os entraves outrora presentes em estatuto e regulamentos, no que respeita à publicidade, têm vindo a perder terreno. E, face a tudo que acabei de descrever, não poderia ser de outra forma. É o avanço natural e que deve ser acompanhado, pois se, por um lado, não faz sentido insistir em contrariar o progresso e condenar profissionais a ficarem para trás, por outro, o que realmente importa é definir novas regras e orientações tendo em conta uma realidade diferente daquela que encontrei em 1989, com a máquina de escrever e o telefone de disco.

Talvez seja esta a prioridade em tempos sem fios e em que o mundo parece mais pequeno quando, a milhares de quilómetros de distância, é possível encontrarmo-nos no mesmo ecrã. Tempos que, em renovação constante, são tão desafiantes. Talvez seja então tempo de, ainda que nostálgicos com algo que tenha feito parte do tempo que vivemos quando tudo começou, estarmos disponíveis para, no lugar da crítica que não nos defende do desconhecido, recomeçarmos, reaprendermos e, assim, continuarmos a crescer. De forma sustentável e jamais esquecendo o essencial: o respeito pelos direitos e interesses dos cidadãos e, claro está, pela Justiça, que, por mais tempos que passem e por mais que mudem os tempos, será sempre o mote e a meta do nosso trabalho.

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