Atitude Lane Splitting na Gestão de Pessoas

Por Isabel Moço, coordenadora e professora da Universidade Europeia

Feliz 2025.

Já aconteceu, naqueles dias em que o tempo não nos chega, estar no trânsito e um motociclista fazer uma razia ao seu carro, continuando aos ziguezagues e a desaparecer ao pôr do sol? Que sente? Invejinha daquela boa? Eu sim – e num dos mais recentes episódios da coisa, vi-me a pensar sobre a gestão de pessoas, as suas tendências para o resto da década e o paralelismo com o “lane splitting” de alguns motociclistas (aquela prática de passar entre os carros).

Já ninguém tem dúvidas que o mundo do trabalho está a transformar-se a uma velocidade sem precedentes, e as tendências da Gestão de Pessoas reflectem esta dinâmica. Os desafios são complexos, mas também representam oportunidades para quem sabe adaptar-se e inovar. Talvez (talvez, porque amanhã já tudo pode ser diferente) estas sejam algumas das principais tendências que moldarão a Gestão de Recursos Humanos nos próximos anos:

  • Personalização da experiência do colaborador, onde as organizações são cada vez mais pressionadas para criar experiências de trabalho atendentes à individualidade de cada um;
  • Integração tecnológica profunda e rápida, em que a interacção e colaboração entre humanos e tecnologia/inteligência artificial se representa em novos modelos de trabalho;
  • Foco no bem-estar total e integrado das pessoas,  com as várias dimensões da saúde e bem-estar a ganhar destaque e a assumir-se (por vezes forçadamente) como uma prioridade estratégica;
  • Destaque para a liderança adaptativa, dado que cada vez mais os líderes terão de equilibrar agilidade e empatia na gestão de equipas, em contextos cada vez mais voláteis e incertos;
  • Competências para a sustentabilidade, incorporando nas prioridades da gestão a previsão e resposta antecipada à probabilidade de desafios climáticos e sociais.

Estas tendências, embora distintas, têm um denominador comum: a necessidade de agilidade e capacidade de adaptação. É aqui que podemos traçar um paralelo com o “lane splitting”, praticado por alguns motociclistas – e como em tudo, uns sabem fazê-lo bem, e outros fazem-no ou pensam-no mal. Enquanto os condutores de automóveis ficam presos nas filas de trânsito, os motociclistas que praticam “lane splitting” encontram “caminhos alternativos”, aproveitando espaços estreitos entre os carros – por vezes irritando aqueles que não conseguem fazer o mesmo. Não sendo motociclista, diria que esta prática exige atenção, skills e treino, capacidade de decisão rápida e um equilíbrio perfeito entre risco e recompensa. Talvez não seja despropositado considerar que são as mesmas condições que se requerem na Gestão de Pessoas, de modo a estar-se preparado para as mudanças que, “sim ou sim”, vão acontecer no mundo do trabalho nos próximos anos.

Entendo pois, que no universo da Gestão de Pessoas, e para os seus vários actores, as organizações precisarão de adoptar abordagens “lane splitting” para responderem a necessidades e expectativas de trabalhadores mais qualificados, mais informados, mais exigentes e genericamente “mais móveis”, e dessa forma tê-los para que a empresa e o negócio possam prosperar em mercados cada vez mais competitivos e imprevisíveis.

Relativamente às tendências da Gestão de Pessoas, como pode esta “atitude lane splitting” representar-se?

Personalização da experiência do colaborador exige uma capacidade de “filtrar” as necessidades individuais no meio de políticas e processos gerais, encontrando formas únicas de motivar, envolver e comprometer cada colaborador. Integração tecnológica requer que as organizações se movam rapidamente por entre os avanços tecnológicos, procurando e escolhendo (ou desenvolvendo) os que melhor servem os seus propósitos, tal como um motociclista decide o melhor trajecto a seguir. Foco no bem-estar exige que se ultrapassem limites, barreiras, preconceitos, estigmas e práticas, e enfrentar temas sensíveis como a saúde mental, oferecendo soluções efectivas e inclusivas. Quanto à liderança adaptativa poderá considerar-se que é o equivalente a manter o controlo e a calma enquanto se tomam decisões rápidas em condições de incerteza, tal como um motociclista deve ser assertivo ao fazer “lane splitting”. No que toca às competências para a sustentabilidade, detê-las significa a capacidade de inovar e encontrar soluções diferentes e eficazes para desafios complexos, o que cada vez mais será um asset para as organizações, considerando o espaço e direito do outro, mas sem comprometer as suas expectativas e objectivos.

Terminaria o paralelismo, referindo que, assim como no “lane splitting”, quem o pratica deve fazê-lo de forma informada, responsável e com cidadania, também os gestores de Pessoas, para enfrentarem os desafios que aí estão, devem ter a mesma atitude. Seguir o melhor dos caminhos, com responsabilidade e respeito, com agilidade, mas com cuidado, permitirá ter as melhores trajectórias em termos de eficácia, sustentabilidade e realização – agora referia-me à Gestão de Pessoas! Atitude de “lane splitting” exige-se à Gestão de Pessoas para enfrentar os desafios que já temos em mãos.

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