Bem-vindos ao neo-liderancismo
É urgente fazer emergir uma nova legião de gestores, de líderes, que assumam, incorporem, desenvolvam e adoptem um estilo de liderança mais humanizada, mais emocional e onde as pessoas estão no centro da acção.
Por Ricardo Caldeira, autor dos livros “Liderança Emocional” e “Cisnes Negros da Liderança”
Sou um paladino da Liderança Emocional. Sou pelas emoções nas organizações, em contexto organizacional, nas relações líder-liderado. Sou, parece, um dos (poucos) teimosos e corajosos que defendem – e se esforçam por fomentar – esta visão e por ela lutam de forma incessante, até que possa ser uma realidade massificada. Não por capricho, não por uma qualquer mania, mas por acreditar que o futuro, inevitavelmente, será – e passará por – este tipo de liderança, mais humanizada, mais centrada e preocupada com as pessoas, mais emocional.
A evolução da doutrina diz-nos que existem, ou foram existindo, diversas teorias (teoria dos traços, teorias comportamentais, teoria contingencial ou situacional e teoria transaccional e transformacional) e diversos tipos/ estilos de liderança – supporting, coaching, delegating e directing, para citar apenas alguns. Já mais recentemente, alguém que veio deixar uma marca muito forte nestas matérias, Daniel Goleman, aproveita para nos apresentar seis tipos principais de estilos de liderança, alicerçados na inteligência emocional e na harmonia e equilíbrio que defende deverem existir entre emoções, razão e interacções sociais:
Visionário: mobilizam pessoas com uma visão;
Coaching: desenvolvem pessoas para o futuro;
Afectivo: criam vínculos e harmonia emocional;
Democrático: obtêm consensos por via da participação;
Modelador: esperam excelência e autodirecção;
Autoritário: exigem cumprimento imediato.
Sugere-nos ainda que a liderança deve ser emocional, pois esta é o maior e mais completo estilo de liderança – a Liderança Emocional –, é a que ajudará os líderes a conseguir criar e manter um equilíbrio entre o cumprimento dos objectivos e a existência de boas relações no trabalho. Esta é também a minha visão, e é, aliás, o que desde sempre venho defendendo e a base daquilo que desde sempre tenho falado.
Os vários tipos de líderes
Seguramente, e sem medo das palavras ou do eventual exagero que elas possam transparecer, já todos ouviram falar em líderes autoritários, líderes tóxicos e líderes egoístas ou narcisistas. Pior, já todos experimentaram e experienciaram algum (ou mesmo todos) deste tipo de líder. Também seguramente já todos ouviram falar em líderes democráticos, líderes inspiradores e líderes emocionais. Pena é, muita pena mesmo – e é esta a pedra de toque –, que (quase) ninguém alguma vez os tenha experimentado e experienciado.
É aqui que reside o problema – o desfasamento, o grande gap ainda existente entre a teoria, que todos sabem, e a prática, que poucos conhecem e quase ninguém aplica. Se, por um lado, todos sabemos identificar o que é um líder de excelência, o que gostaríamos de ver, ter e receber de um líder, qual deve ser o seu papel, a sua atitude e a sua influência – a teoria –, por outro lado, a verdade é que são raríssimos aqueles que conhecem ou já tiveram a oportunidade de “experimentar” e de se relacionar com algum desses líderes – a prática. São raros mesmo, infelizmente. A este respeito, a minha questão de sempre é, se sabemos a teoria, o que é que está a faltar para que a apliquemos, para que passemos à prática?
Embora tenha as minhas preferências, e as minhas aversões, relativamente a todos os tipos de líderes e lideranças que já se foram postulando, efectivamente o que mais me interessa é “apenas” se o líder é ou não emocional, se a sua liderança comporta, admite, inclui, valoriza e fomenta emoções! É esta a tal liderança que duvido já todos tenham alguma vez conhecido e tido oportunidade de viver “in loco”!
Um líder, um verdadeiro líder, um líder inspirador e que fica intemporalmente marcado no coração das suas pessoas é, antes de qualquer coisa, e acima de qualquer outra coisa, boa pessoa – bom fundo, bons valores, carácter e personalidade fortes e vincados. Estes líderes são diferentes. Porquê? São emocionais. São humanos. Comunicam de forma ímpar. Vêem o que mais ninguém vê – os outros limitam-se a olhar, ou nem sequer olham – e ouvem o que mais ninguém ouve – os outros limitam-se a escutar, ou nem sequer isso. Cuidado e atenção individualizados, humildade, disponibilidade para arriscar (correndo o risco de errar), para ser e fazer diferente, para altruísmos diversos, são outras características que só eles têm – ou, pelo menos, nas doses certas. Empáticos. Inteligentemente emocionais e emocionalmente inteligentes, focados nas pessoas, atentos aos seus comportamentos e sentimentos. São ainda antifrágeis e, cada vez mais importante nos dias de hoje, e seguramente nos que se seguem, enraízam-se na adaptabilidade.
São os líderes modernos, os «Cisnes Negros da Liderança». São líderes diferentes, mas só porque a excepção ainda não se tornou regra, e tal só assim acontece porque – e esta é a grande verdade –, continua a existir o tal enorme fosso entre a teoria, por todos conhecida, e a prática, por muito poucos aplicada.
Falamos dos Cisnes Negros da Liderança, os líderes do futuro – ou, como ousei designá-los, à laia de cognome, os “leadermotionalists”. Personificam uma visão da liderança necessária e exigentemente mais emocional e, por consequência, mais humana ou humanizada. Os cisnes negros são líderes raros; são aqueles líderes por quem todos ansiamos, mas que raramente encontramos. São os que nos marcam, os que ficam no coração – e lá perduram. São também líderes vulneráveis. Sim, vulneráveis – ao contrário do que se pensa, não é uma fraqueza, mas antes uma enorme força! A vulnerabilidade requer coragem e confiança, mas também dá aos outros essas mesmas coragem e confiança, o que lhes permite avançar para serem eles próprios, para se libertarem de amarras, desbloquearem o seu potencial criativo e arriscarem. Isso trará sentimentos de pertença e partilha bem mais aguçados. A vulnerabilidade aproxima as pessoas, não as afasta – é uma habilidade indispensável. A vulnerabilidade costuma ser tratada como uma desvantagem para os líderes, mas não nos enganemos, é também, a vulnerabilidade uma competência essencial da liderança.
Leia o artigo na íntegra na edição de Outubro (nº. 166) da Human Resources, nas bancas.
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