Carolina Afonso, CEO Gato Preto: Uma marca em construção, com pessoas que põem as “mãos na massa”

Pessoas que ponham as “mãos na massa”, que se identifiquem com o projecto e que venham ajudar a construí-lo. É isto que Carolina Afonso, CEO do Gato Preto, procura para as suas equipas. Para “dar em troca”, tem uma «marca irreverente», com valores e propósito, onde concretizar uma ideia pode estar apenas à distância de a partilhar e ser líder está ao alcance de todos.

 

Por Ana Leonor Martins | Fotos Nuno Sampaio

 

Carolina Afonso é natural da Fuzeta, uma vila do Algarve com três mil habitantes. Foi “na praia”, longe da capital, que cresceu, mas entretanto já esteve pelo «mundo inteiro». Hoje, é CEO do Gato Preto. É a prova de que, «se quisermos muito uma coisa, vamos conseguir», mas também de que «a sorte dá muito trabalho». Mesmo sem ter plena consciência disso – diz que ser CEO não era um objectivo pré-definido –, o percurso que foi fazendo já indiciava onde iria chegar. Já se sentia líder antes de o ser, e defende que não é preciso um cargo para isso. Assim, foi sem hesitar que aceitou o desafio de liderar um negócio com presença em Portugal, Espanha e França, e uma equipa de mais de 330 pessoas, mesmo estando no Gato Preto há menos de dois anos. Isso não a assustou, porque aprendizagem constante é algo que assume como natural na sua vida. É uma das características que identifica na sua liderança, à qual acrescenta a adaptação à mudança e a abertura para o mundo.

 

Entrou no Gato Preto em 2021, como directora de Marketing e, passados menos de dois anos, jé era CEO. Era um objectivo ou sequer já lhe tinha passado pela cabeça?
Não entrei no Gato Preto com essa expectativa. Entrei como CMO, coordenava, na altura, quatro equipas – de Marketing, de Design de Produto, Design Gráfico e de Ecommerce. E foi termos feito o rebranding da marca, e termos conseguido fazer disparar as vendas no Ecommerce, que fez espoletar o convite. Não tinha esse objectivo, mas pareceu-me natural.

 

Mas era um objectivo para a sua carreira?
Não estava definido como tal, mas ao longo do meu percurso, e pelas opções que fui fazendo, o caminho foi naturalmente dar aí. Podia não ter sido já, mas provavelmente acabaria por acontecer.

 

Foi o projecto de reposicionamento de marca que lhe deu um conhecimento aprofundado do negócio e que fez com que se sentisse preparada para a responsabilidade acrescida?
Creio que sim, mas sobretudo o projecto de Ecommerce. Na altura, a presença no Gato Preto nesse âmbito era muito insipiente, estava a dar os primeiros passos – coincidiu com a pandemia e com a necessária transformação que todas as marcas estavam a acelerar –, e foi o catalisador, porque implicou construir todo o ecossistema que garantisse que, quando assumíssemos esse negócio, tínhamos toda a estrutura preparada a montante. Não foi só criar uma página. Pensámos o projecto de forma holística, não como um projecto de marketing, mas de negócio. E essa orientação para o negócio foi um factor diferenciador, porque lidámos com números, com a parte financeira, com logística, com produto… Essa versatilidade e vantagem que trouxe com a visão 360 do negócio deram-me preparação.

 

Agora, além do negócio, tem outras variáveis, mais stakeholders… Serão vários desafios acrescidos… O que mais a entusiasmou nesta nova responsabilidade?
Sem dúvida, a responsabilidade de CEO trouxe muitos desafios acrescidos. De repente, já não é só Portugal, mas também Espanha, onde também temos lojas físicas, e França, onde estamos online, o que implica assumir vários mercados, vários tipos de clientes e vários stakeholders, como os colaboradores, os media, os accionistas… É, sem dúvida, uma responsabilidade acrescida, mas tive esse sentido de responsabilidade e foi algo que me entusiasmou. Quando o convite me foi feito, pensei logo “porque não”. E não hesitei em aceitar.

 

Alguma área que a tenha “assustado” ou deixado mais apreensiva?
Sou professora no ISEG, que é uma escola de Gestão e Economia, e tirei o doutoramento na Faculdade de Ciências Empresariais, por isso tinha um background interessante na parte de gestão e dos números, mas ao ver todos os KPI [key performance indicators] financeiros, todos os rácios e análises, senti que tinha de aprofundar conhecimentos na área Financeira e inscrevi-me num curso. Isso deu-me a confiança de que precisava nesta área que dominava menos.

 

Que objectivos de curto/médio prazo definiu e que prioridades estabeleceu para os alcançar?
A prioridade teve a ver com a transformação digital, que é algo que nunca acaba. Há sempre novas tecnologias a surgir, novas plataformas, novas ferramentas. Queria que fosse uma estratégia consolidada e que a empresa ganhasse esse ADN. É algo que ainda está em construção, na verdade. Para fazer uma transformação digital precisamos da tecnologia, mas também das pessoas para a acompanhar. E os processos, que tiveram de ser todos revistos.

A cultura empresarial também é essencial para haver uma transformação efectiva, por isso foi prioridade implementar uma cultura de transformação que não existia no Gato Preto, uma cultura de maior abertura e de maior igualdade no acesso a oportunidades dentro da empresa.

E as pessoas. Temos de olhar para as pessoas que temos e para as pessoas de que precisamos. Será que as pessoas que temos podem fazer reskilling e upskilling, ou temos de ir buscar ao mercado novas competências? O tema pessoas é core e foi também uma prioridade para mim. Identificar as pessoas-chave e fazê-las crescer com o projecto e, a médio/longo prazo, obter resultados.

 

A longo prazo, o que mais se destaca nos vossos objectivos?
Um dos nossos eixos estratégicos tem a ver com o produto. Somos uma marca 100% portuguesa, a única na área de home decor, o que é um motivo de orgulho. Por isso, queremos afirmar ainda mais o nosso design que o produto. Temos uma equipa responsável por desenhar as nossas colecções, com um storytelling ligado às tradições portuguesas, e isto é único.

Queremos aumentar esse tipo de produtos e a comunicação para fora, dar a conhecer este storytelling e o ADN da marca. Queremos também apostar cada vez mais numa economia de proximidade e falar do nosso compromisso com a sustentabilidade, outro eixo importante para nós, e cada vez mais relevante para os clientes. Na estratégia a cinco anos, o objectivo é que sejamos uma referência também nesta área.

Mais ambicioso é conseguir internacionalizar a marca para outras geografias. Mas é uma marca contemporânea e pode perfeitamente estar noutros países. Estamos a estudar possibilidades, e é sem dúvida um objectivo.

 

Leia o artigo na íntegra na edição de Março (nº. 159) da Human Resources, nas bancas.

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