Case Study ATEC: Formar para «saber fazer, saber ser e saber estar»

O mundo da formação profissional tem vindo a mudar. O cariz técnico e prático é cada vez mais procurado – e também mais reconhecido – pelas empresas. Prova disso é o Curso de Integração Empresarial de Quadros (CIEQ), da academia formativa ATEC, com taxa de 90% na integração laboral dos formandos nas empresas de acolhimento.

 

Por Tânia Reis

 

Há duas décadas que a ATEC tem vindo a expandir a sua actuação, não só geograficamente, mas também na oferta formativa. Além da sede em Palmela, nas instalações da Volkswagen Autoeuropa, dispõem de uma unidade em Matosinhos, dois pólos descentralizados em Almada e Cascais, e promovem acções de formação e consultoria em países de língua portuguesa, entre eles, Angola, Moçambique e Brasil.

A nível de formação, criaram qualificações para responder às necessidades do mercado, como Energias Sustentáveis e programas de Liderança Operacional, entre outros. «No conjunto das nossas actividades formativas, promovemos anualmente mais de um milhão de horas de formação », concretiza João Carlos Costa, director-geral da ATEC. «E no âmbito da formação profissional financiada, contamos já com mais de seis mil diplomados com taxas de empregabilidade acima dos 90%», acrescenta. Com cerca de 480 empresas parceiras que acolhem os formandos em estágio, a procura de serviços por parte das empresas também tem vindo a «crescer substancialmente, tanto para formação de catálogo, como para produtos à medida, traduzindo-se em mais de 400 acções de formação anuais».

Embora defenda que ainda há um longo caminho a percorrer, o responsável confirma o aumento no reconhecimento do valor da formação profissional, sobretudo de cariz técnico e prático, e da sua importância ao longo da vida, incluindo, por parte das empresas, uma «maior consciência da importância da actualização dos conhecimentos dos seus colaboradores para fazer face à evolução tecnológica, e também por parte dos próprios profissionais, como forma de se manterem atractivos para o mercado de trabalho ao longo da sua carreira».

Assiste-se igualmente também a uma maior procura por formação em competências comportamentais e organizacionais, como a liderança, a criatividade e a resolução de problemas, entre outras. O incremento da oferta de formação à distância – que permite um maior acesso à educação e à capacitação – e de parcerias com empresas, ao nível da formação profissional financiada, para apoiar os formandos na preparação para o mercado de trabalho, são outros pontos-chave realçados na evolução do sector nestes 20 anos.

 

CIEQ – Curso de Integração Empresarial de Quadros
Uma das formações disponibilizadas pela ATEC é o Curso de Integração Empresarial de Quadros (CIEQ), que conta com o apoio do IEFP. Com a 11.ª edição prestes a começar, «destina-se a recém-licenciados nas mais diversas áreas, com idade até aos 30 anos» e «promove a colocação profissional dos formandos, preferencialmente em organizações industriais, proporcionando- lhes experiência laboral na sua área de formação», estando a «selecção dos candidatos condicionada à existência de match entre a área de formação do candidato e as necessidades das empresas de acolhimento», explica João Carlos Costa.

Com «um rácio de dois a três candidatos por vaga» e taxas que rondam os 90% «no que toca à integração laboral dos participantes nas empresas de acolhimento», o balanço é bastante positivo. «O CIEQ tem-se revelado uma efectiva mais-valia, tanto para os participantes como para as organizações que os acolhem», garante. A entrada de novas gerações e a consequente «diversidade de ideias, experiências e perspectivas únicas » podem «revitalizar a cultura da empresa, estimular a criatividade e levar a soluções mais inovadoras para os desafios do negócio».

No que diz respeito aos formandos, recém-licenciados e mestrandos, o director- geral confirma que «vêm motivados e com ambição de progredir rapidamente nas empresas, despertos para a importância de desenvolver competências complementares, e «valorizam a diversidade de módulos e temáticas que o programa oferece, bem como a oportunidade de trabalhar temas actuais e importantes na sua integração no mundo profissional».

Através dos perfis necessários, facultados pelas empresas interessadas em acolher formandos do CIEQ, que têm acesso a apoios sociais e bolsa de formação se necessário, o processo de selecção passa pela «triagem curricular, entrevista inicial e conjunto de provas com dinâmicas de grupo e actividades específicas», sendo posteriormente os candidatos seleccionados apresentados às empresas.

Por vezes, a totalidade do processo de recrutamento e selecção é feito de raiz em estreita parceria com as empresas, caso o CIEQ esteja aliado aos programas de trainees das mesmas. Dada «a génese e o cariz mais industrial da carteira de empresas», a procura é maioritariamente nas áreas de engenharias. Mas João Carlos Costa ressalva que têm «também muitos pedidos para a área financeira e informática».

Perante os actuais desafios de renovação geracional em algumas áreas, «o CIEQ ajuda as empresas a recrutar jovens talentos, com perfis adequados às suas necessidades, e a formá-los de acordo com os valores e cultura da empresa. Com os trainees do CIEQ, as empresas conseguem preparar essa sucessão de forma atempada e incisiva», garante o responsável.

 

Aprendizagem em contexto laboral
Tendo duração de 12 meses e sendo 90% do tempo em contexto laboral, na empresa de acolhimento, o programa está desenhado no formato 70 – 20 – 10, com acompanhamento formativo personalizado constante, com tutores especializados, teambuildings, sessões de coaching e mentoria. Ou seja: «70% das horas são despendidas em formação prática em contexto de trabalho na empresa de acolhimento. 20% são alocadas à aprendizagem em contexto informal, ou seja, iniciativas desenvolvidas na empresa que permitam consolidar competências organizacionais específicas ou transversais, necessárias à boa integração na empresa», como a passagem por vários departamentos para conhecer a dinâmica e interdependência departamental.

As iniciativas “Dois dedos de conversa sobre…”, «sessões dinamizadas por especialistas sobre temas corporativos relevantes para o desenvolvimento profissional dos formandos»; e “60 minutos com …”, «sessões de grupo que têm como protagonista um manager que partilha o seu percurso, experiência, vivência, perspectivas », são outros exemplos.

João Costa destaca ainda a «iniciativa “CIEQ-circles” com os colegas de turma, com vista à troca de experiências; “Good practice Talks com o Tutor”, para acompanhamento e pontos de situação em relação ao estágio e à formação; e os “Learning Labs”, sessões de transmissão de conhecimento e momentos de aprendizagem assentes em iniciativas/formações corporativas».

Os restantes 10% são alocados a módulos de formação com o objectivo de desenvolver competências organizacionais e “core skills”, como por exemplo, comunicação e influência, relacionamento interpessoal e conflito, novas formas de trabalho, cooperação e colaboração, ferramentas básicas da Qualidade, fundamentos do lean management e organização de trabalho, entre outros.

«Queremos sensibilizar para as expectativas das empresas e do mercado de trabalho que, cada vez mais, não só valorizam o conhecimento técnico específico, mas também a atitude de cooperação, interesse e humildade em querer aprender com os mais velhos, e a vontade de acrescentar valor com os saberes adquiridos na sua formação académica, com um olhar e perspectivas complementares», afirma João Costa, para quem «todas estas competências são necessárias para formar um profissional completo – o saber fazer, saber ser e saber estar».

 

Oferta formativa para profissionais e empresas
Além do CIEQ, a ATEC desenvolve formação profissional financiada em três outras modalidades: «Aprendizagem, com dupla certificação, para jovens com o 9.º ano; Educação e Formação de Adultos – com dupla certificação ou apenas certificação profissional, para adultos com mais de 18 anos; e Cursos de Especialização Tecnológica, para jovens adultos com 12.º ano ou licenciatura.»

A abertura, anualmente, de entre 40 e 50 novas turmas no conjunto das três modalidades comprovam a procura acentuada. «No caso da aprendizagem, se há alguns anos, a procura era maioritariamente de jovens com 18 anos com o ensino secundário incompleto, actualmente, os cursos são procurados por jovens com idades a partir dos 14 anos, a terminar o 9.º ano, que os prepare para o mercado de trabalho, enquanto terminam a sua formação escolar, dando-lhes também a possibilidade de prosseguir para o ensino superior», esclarece.

Já os Cursos de Especialização Tecnológica são particularmente procurados, «não só por jovens com 12.º ano que procuram uma qualificação técnica com forte ligação ao mercado de trabalho, mas largamente por licenciados que procuram reforço de competências técnicas ou requalificação profissional para posterior (re)entrada de sucesso no mercado de trabalho».

Para as empresas, com prevalência do sector industrial, dispõem de programas tailor made, com a maioria dos pedidos a focar «áreas como a liderança operacional, a qualificação e requalificação de colaboradores em áreas afectas à produção e manutenção, a eficiência de processos, a gestão multicultural e geracional, o recrutamento e a formação inicial de novos colaboradores, entre outras.»

Num cenário de acelerado crescimento tecnológico, de surgimento de novos perfis profissionais, de transição energética e de escassez de matérias-primas, também a área de formação se vê impactada significativamente. Para João Costa, são três os principais desafios futuros: actualização de conteúdo, de ferramentas e de recursos. «Os conteúdos dos programas de formação precisam de ser actualizados regularmente para acompanhar as tendências do mercado, o que também implica manter formadores e demais equipas qualificadas e actualizadas.» É também fundamental «adaptar as metodologias não só à evolução geracional, mas também às novas formas de organização do trabalho» e, por fim, «atrair e reter formadores altamente qualificados».

 

Este artigo foi publicado na edição de Outubro (nº. 154) da Human Resources, nas bancas. 

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