Como o digital está a transformar as empresas

A quarta edição da conferência “Sharing My Change” serviu para discutir os desafios que a Transformação Digital coloca hoje às empresas.

Por Paulo Mendonça

 

Em final de Outubro, a My Change realizou a 4.ª edição do “Sharing My Change”, um evento anual da consultora em Gestão da Mudança que este ano abordou o tema Manage Change in your Team to Surf the Digital Wave.

Como gerir a mudança digital que está a decorrer de modo a potenciar o papel do Homem? Como vemos o futuro à medida que as tecnologias vão evoluindo? Como poderemos capacitar o Homem para acompanhar a rápida evolução do Digital? Qual a percepção das diversas gerações sobre este tema? O que já estamos a fazer para preparar o futuro? Estas foram algumas das perguntas que serviram de ponto de partida à conferência, que abriu com as intervenções de Maria João Martins e Teresa Fialho. As executive partners e fundadoras da My Change sublinharam a importância destes encontros, onde «faz parte da missão partilhar a experiência acumulada ao longo dos 12 anos de história da empresa». Certificada em Change Management, a My Change actua em quatro clusters fundamentais: comunicação estratégica, comportamento dos líderes, desenho organizativo e alinhamento das políticas de recursos humanos. Segundo as organizadoras do “Sharing My Change”, o tema do Digital surge recorrentemente na actividade da My Change porque «as empresas estão a investir nesta área, mas ainda sentem algumas dificuldades porque a mudança no ecossistema é lenta comparativamente à que ocorre nas pessoas».

 

Homem vs Digital

O primeiro painel, subordinado ao tema “Visão e Estratégias para o binómio Homem vs Digital”, contou com a moderação de Miguel Moreira (Intelligence Amplification Mentorship (IAM) e Consultor independente), que convidou para a conversa Ângelo Ramalho (CEO da Efacec) e Rogério Campos Henriques (Vice-presidente da Fidelidade).

Para Miguel Moreira, «a tecnologia tem um potencial de crescimento com uma velocidade enorme, e a promessa, para as empresas, é maior do que a realidade. Começamos a ver robôs em todo o lado, menos nas estatísticas de produtividade, e isto provoca um gap entre a expectativa e a realidade». No entanto, Rogério Campos Henriques não concorda que o problema esteja na entrega da tecnologia. O problema está «nas nossas expectativas, que são demasiado altas. O potencial da aplicação da tecnologia nem sempre é tão rápido como gostaríamos, e a execução também não é sempre imediata. Existe um período longo de transição, onde surgem ameaças que não devemos subestimar e para as quais temos de ter uma estratégia preparada. No entanto, este período de adaptação é uma coisa boa porque as empresas não têm capacidade para operar mudanças muito disruptivas em pouco tempo».

Por seu turno, Ângelo Ramalho considera que a gestão das expectativas face àquilo que a tecnologia tem para oferecer é uma «arte difícil. O mundo está cada vez mais acelerado e isso gera ansiedades, o que por vezes faz esquecer que antes das questões tecnológicas estão as pessoas. As empresas têm de ter a capacidade de perceber o que faz as pessoas felizes, mas também de tirá-las da zona de conforto, motivá-las e não chancelar modos obsoletos de estar na vida. Cada vez mais cabe às pessoas construírem a sua própria carreira».

Rogério Campos Henriques concorda com esta visão e revela que a questão sobre qual o plano de carreira nas empresas é recorrente nos millennials recém recrutados. «Nestas mudanças que estão a acontecer é muito importante a personalização da carreira. Temos de investir nas pessoas mas, ao mesmo tempo, responsabilizá-las pelo seu próprio futuro».

 

Partilha intergeracional

O segundo painel teve como tema a “Partilha intergeracional: Vamos perguntar à geração que nasceu nos anos 90!” e juntou em debate três millennials – Daniela Costa (Head of HR na AMT Consulting), Joana Lopes (HR Specialist na PHC Software) e André Calado (Product Manager na L’Oréal Professionnel) – com a moderação de João Paulo Velez (Director Coordenador de Comunicação e Marketing Corporativo do Banco Santander Totta).

Para João Paulo Velez, «as profissões do futuro vão ser aquelas que têm contacto humano, como médicos, enfermeiros e psicólogos, entre outros. Sobre as outras não se sabe rigorosamente nada. Vamos ser nós a construir um futuro que tenha em conta os desenvolvimentos que a tecnologia nos trouxer».

Enquanto millennial, Joana Lopes afirma que «tentamos fugir a tudo o que sejam tarefas repetitivas.Há um conjunto de responsabilidades que tentamos equilibrar nas diferentes funções e cargos, para que os millennials não fique sobrecarregados com este tipo de tarefas. Trata-se de encarar a tecnologia como um substituto para algumas funções”.

Joana Lopes concorda que «a nossa geração foge, sobretudo, ao trabalho rotineiro. Não tem medo da mudança e quer, de facto, sair da zona de conforto. Ao conseguirmos fugir desta parte administrativa que existe e vai continuar a existir, apesar do digital nos dar algum avanço, ficamos com tempo para inovar, para criar e para pensar a estratégia. É para isso que cá estamos».

Por seu lado, André Calado destaca que «a questão está em sentirmos que o nosso tempo está a ser aproveitado ao máximo e que aquilo que estão a fazer não é algo que poderia ser feito por um robô. Nós somos muito mais valiosos a interpretar dados do que a recolhê-los e aí está a diferença».

 

Amplificação

O terceiro painel da conferência discutiu “A amplificação humana a partir da amplificação digital: o que já estamos a fazer para preparar o futuro?” com a moderação de Pedro Ramos (DRH do Grupo TAP). No debate estiveram presentes Vasco Falcão (CEO da Konica Minolta), Duarte Freitas (CEO da Anturio) e Nuno Chung (Administrador da EDP Valor).

«A EDP está a atravessar uma jornada importante relativamente à Transformação Digital», afirma Nuno Chung. «É uma jornada transversal a todos os negócios da empresa. No caso da EDP Valor, esta empresa foi criada há 17 anos por transferência de pessoas de outras áreas do Grupo que há três anos tinham uma idade média de 51 anos. Pessoas com quase 30 anos de serviço à EDP e muito tempo a fazer a mesma coisa. De alguma forma isto dificulta o contexto da Transformação Digital, mas a mudança foi feita não para as pessoas, mas com as pessoas. Neste desafio, uma das coisas interessantes que fizemos foi criar um plano que fez com que as pessoas fizessem parte da solução e participassem na mudança.»

Vasco Falcão conta que para a Konica Minolta, a revolução é não apenas tecnológica, mas cultural. «É uma empresa japonesa, e isso é sempre diferente de tudo o resto. Quando se junta a isso o facto de ser uma empresa centenária, global e com 50 mil colaboradores, o desafio é enorme. E a verdade é que o grande desafio não é ensinar a usar a tecnologia, mas sim torná-la algo que se usa naturalmente».

Já Duarte Freitas considera que «a revolução digital já está a acontecer e está a rebentar com monopólios. E as empresas de hoje em dia não têm noção das consequências de perder o comboio da Transformação Digital e não percebem que isto é não só importante, mas também obrigatório. Já não é uma questão de importância; é sobrevivência pura».

O último painel da conferência “Sharing My Change”, foi dedicada à história de sucesso do Global Management Challenge (GMC) numa conversa entre António Pita de Abreu (ex-Administrador Executivo da EDP) e João Matoso Henriques, managing director da SDG. No final, a My Change promoveu uma homenagem a Luís Alves Costa, fundador do Global Management Challenge, que revolucionou o mundo da Gestão com uma metodologia digital e inovadora. Nesta homenagem Elsa Carvalho (DRH da REN), Nicolau Santos (Presidente da Lusa) e Fernando Magalhães (Administrador do Externato Frei Luís de Sousa) recitaram poesia.

 

Este artigo foi publicado na edição de Novembro da Human Resources.

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