Como se renovam as organizações?
Por Carlos Sezões, Managing Partner da Darefy – Leadership & Change Builders
Jared Diamond, reputado geógrafo e historiador norte-americano, publicou em 2019 um interessante livro intitulado “Como se renovam as nações”. Esta obra, baseada em estudos detalhados e nas suas próprias vivências, transformou muitas das percepções sobre as causas da ascensão (e quedas) das nações, em especial nos momentos de encruzilhadas históricas e crises profundas. Dando ênfase à dimensão socio-psicológica (e consolidando-a com análises históricas e geostratégica), Diamond revela os fatores que influenciam a maneira como as nações reagem aos grandes desafios – e são (ou não) bem-sucedidas nesses momentos-chave. Com exemplos concentrados nos últimos 200 anos, aborda os casos da Finlândia, Alemanha, Japão, EUA, Indonésia, Austrália e Chile.
Segundo o autor, existem factores-chave para uma renovação bem-sucedida. Os mais relevantes: os valores e a identidade nacional, as condicionantes geopolíticas, o consenso nacional quanto à crise que se vive e quanto aos problemas concretos, a autoavaliação honesta e realista da situação, o apoio de outras nações, a experiência história na resolução de outras crises e a aceitação da responsabilidade nacional para que se mude.
Estes factores são, claro, diferenciados de país para país. Na sua essência, explicam como, por exemplo, a Finlândia passou de um país atrasado produtor de madeira e se tornou uma das nações mais ricas, inovadoras e com melhor qualidade de vida do mundo, no pós-guerra; como o Japão, na segunda metade do século XIX, se tornou o país mais desenvolvido da Ásia, ombreando com as grandes potências europeias, após séculos de isolamento; ou como a Austrália passou de uma ex-colónia penal britânica para se afirmar como a grande referência de desenvolvimento humano no hemisfério sul.
Jared Diamond não fala, claro, de empresas. Mas as suas análises, conclusões e lições seriam de extrema utilidade a muitos gestores de topo, que procuram afirmar-se (ou mudar) em mercados voláteis e complexos, neste mundo globalizado. E para uma pertinente formulação estratégica, do que “querem ser”, suas vantagens competitivas, capacidades-chave e partirem da estratégia para a acção.
Atrevo-me a uma rápida transposição dos critérios de Diamond para a realidade da renovação e da mudança organizacional, numa perspectiva de auto-diagnóstico. Sobre identidade corporativa: teremos um posicionamento e uma cultura fortes? A nossa missão, visão e valores estão claros para todos? Sobre o consenso interno: existe auto-consciência dos desafios ou da crise que se vive num determinado momento? Os problemas concretos estão diagnosticados e são conhecidos por todos? Existe uma noção clara do caminho a percorrer para os superar e da urgência da mudança? Sobre o contexto externo: temos um mercado receptivo às nossas soluções? O que fazemos é diferenciador e tem impacto? Teremos parceiros, ao longo da cadeia de valor, para nos complementarem e nos ajudarem a ser melhores? Sobre conhecimento: temos experiência passadas ou exemplos externos com linhas de rumo ou possíveis “mapas” para a mudança? Teremos Pessoas com a competências, a autonomia e a agilidade para mudar? E com vontade de mudar?
As organizações sustentáveis no tempo são as cultivam um mindset de aprendizagem e agilidade, combinadas com auto-consciência, propósito e sentido de compromisso. E que, nas encruzilhadas da sua história e, em particular, nos momentos de crise, estão preparadas para se renovarem e mudar.