Continuemos a falar de futebol – do futebol de rua à gestão de pessoas

Por Isabel Moço, coordenadora e professora da Universidade Europeia

 

A metáfora do futebol de rua é perfeita para refletir sobre a gestão de pessoas. Do papel dos líderes, ao papel de cada um, passando pela atitude e comportamentos requeridos para “entrar em jogo”, parece-me que todos os gestores de pessoas deveriam explorar (eventualmente reviver também) esta ideia.

Uma lição importante do futebol de rua é que, geralmente “ninguém queria ir à baliza”. Se existisse um “gordo” seria ele “naturalmente” a ter esse papel, mas se não houvesse, rodavam todos pela baliza e a rotação acontecia com os golos. Estes lugares menos desejados têm de ser ocupados, e algumas organizações adotaram sistemas de rotação de funções, o que permite ter uma visão muito mais ampla e integrada do jogo. Naturalmente é necessário esforço de adaptação, aprendizagem e novas rotinas e relações, mas proporciona uma agilidade e capacidade de entender mais globalmente as coisas, ímpares.

Quem escolhia os jogadores de cada equipa (os líderes reconhecidos pelos outros ou os “donos da bola”), olhava para todos os que estavam disponíveis, fossem poucos ou muitos, e fazia a sua avaliação e havia funções que era preciso preencher – mesmo que ninguém quisesse esse papel, alguém tinha de o assumir -se não fosse outro, seria ele mesmo. Havia, e hoje há nas empresas, papeis mais e menos interessantes, desafiantes e até diferentes em compensação (material e das outras), mas é apenas a necessidade que determina esses papeis, e como se referia acima, têm de ser de alguém. O que não estaria certo seria se, por mérito reconhecido do líder ou do dono da bola, outros não pudessem vir a ocupar esses lugares. Na rua, a jogar futebol, era assim – o jogo de hoje, determinava o papel que amanhã teríamos no jogo. Deixa-se aos leitores a questão – se os novos contextos e exigências da economia, os requisitos dos diversos stakeholders sobretudo a qualidade, resultados e satisfação, exigem organizações rápidas e ágeis na adaptação, este “modelo” do futebol de rua relativamente aos papéis rotativos, não deveria ser “o modelo”?

No futebol de rua de que me recordo, os melhores jogavam a “avançados” e os piores ficavam na “defesa”, com uma avaliação pública, frontal e por vezes sem outras oportunidades. As tardes para o jogo eram poucas e curtas, e gastar tempo a discutir quem, o quê ou quando não fazia sentido – o importante era jogar e contribuir para levar uma vitória para casa. Creio que nas empresas se consuma demasiado tempo com estas discussões, e quando são desnecessárias e inócuas e se o foco não se perder, as que ficam em demasia, deveriam ser prontamente acabadas. Por outro lado, jogadores que “queriam ser avançados,” mas “calhava” ficarem “defesas”, tudo davam para merecer a posição que desejavam – o que por vezes provocava uma equipa inteira na frente da baliza do adversário e uma enorme confusão. Mas a entrega e dedicação, vencia sempre.

A crítica estava sempre presente – a opinião também. Se havia justiça, seguia-se, mas se era infundada ou injusta a defesa de cada posição, poderia ir até à troca de uns tabefes e pontapés. Se a coisa não fosse demasiado séria, no dia seguinte com algumas marcas e ressentimentos, tudo passava logo que o jogo começava. Se assunto mais sério, então continuava-se o rebuliço até as partes se cansarem… ou uma “ganhar”. E como é hoje na gestão de pessoas? Distraímo-nos com o acessório ou conseguimos levar as pessoas a estarem focadas no essencial? Que interessa, por exemplo, se as pessoas cumprem escrupulosamente o horário de entrada e/ou saída ou se consomem todo o plafond de comunicações, entre outros “distratores”, se o fundamental é porque é que a pessoa ali está connosco e se está feliz por assim ser? Não havia jogador de futebol de rua, que jogasse obrigado…

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