Corridas, metas e afins…

Por Diogo Alarcão, Gestor

Participei há dias na minha corrida preferida: a São Silvestre de Lisboa. Correr 10km, à noite, nas ruas iluminadas da Baixa com luzes e músicas de Natal, rodeado de pessoas (incluindo muitos turistas) que puxam por nós é pura magia. Haverá certamente, por esse Mundo fora, outras corridas ainda mais mágicas, mas esta é a que conheço e que me encanta há vários anos.
Este ano, por diversas razões, descurei os treinos. Por isso, as minhas expetativas eram baixas. Na realidade, tinha apenas um objetivo: manter-me no escalão sub-60. Para quem não sabe, as corridas com muitos atletas (este ano a São Silvestre de Lisboa contou com 12.500 participantes) têm diferentes escalões de partida: os profissionais, os sub-40, os sub-50, os sub-60 e os mais de 60. Neste último grupo, partem todos aqueles que correm os 10km em mais de 60 minutos. Aqueles que percorrem os 10km entre os 50 e os 60 minutos partem no escalão sub-60. É o meu caso. O meu objetivo era, pois, não cair de escalão. Porquê? Porque quem parte no último grupo arrisca-se a uma partida compacta com alguns empurrões, tropeções e um ritmo necessariamente mais baixo.
A corrida este ano não me correu bem: perdi um auricular, fui abalroado quando o tentei apanhar, caí, esfolei os dedos das mãos, recuperei e, apesar de ter conseguido manter-me no escalão sub-60, fiz o triste tempo de 00:59:14 A sensação no final da corrida, e nas horas seguintes, foi de frustração.
Mas, nos dias seguintes comecei a pensar se, de facto, tinha razões para estar frustrado. Para tal, decidi olhar com mais cuidado para o diploma que, entretanto, tinha recebido de um amigo que, este ano, fez o seu melhor tempo quase saltando para o escalão sub-50.
E o que diz o meu diploma? Diz que o tempo no chip foi 00:58:40, que fiquei no lugar 4061.º da classificação geral (em 12.500 atletas) e em 251.º no escalão V55 MASC (participantes homens com mais de 55 anos). Perante esta informação, a minha frustração relativizou-se e percebi que estava a desvalorizar o cumprimento do objetivo que me tinha proposto. Em vez de me focar no objetivo alcançado, estava a focar-me no resultado que não me orgulhava. Isto é, a razão da minha frustração assentava no facto de estar a descurar um conjunto importante de informação e de me focar apenas no resultado que considerava insuficiente.
Creio que, muitas vezes, também caímos nesta tentação em contexto organizacional. Observo com alguma frequência que as equipas centram a sua atenção apenas nos “maus resultados”. É bom ter a ambição e gosto de procurar superar os nossos objetivos e expetativas, mas alcançar resultados a 90%, a 80% ou até mesmo a 50% não deve ser necessariamente motivo de frustração.
Fazendo a analogia com a minha experiência na corrida de São Silvestre, constato que, quando comecei a correr, tinha por objetivo ficar abaixo dos 60 minutos. Quando terminei com o tempo de 59 minutos, em vez de ficar satisfeito pelo objetivo cumprido fiquei logo frustrado por não ter feito os 10km em 55 minutos ou menos. Também em contexto profissional agimos muitas vezes assim. Desvalorizamos o cumprimento dos objetivos porque nunca estamos satisfeitos com os resultados alcançados. Não quero, com isto, dizer que devo orgulhar-me por ter feito 59 minutos quando podia ter feito 55 minutos ou menos. Estou apenas a dizer que é melhor ter feito 59 do que 61 minutos!
Por outro lado, tendemos a olhar para o resultado alcançado sem o colocar em contexto; isto é, desvalorizamos os fatores que levaram determinada pessoa ou equipa a alcançar aquele resultado que consideramos medíocre ou insuficiente. Muitas vezes sentimo-nos frustrados porque a nossa equipa ou organização não atingiu os objetivos definidos, mas esquecemo-nos de contextualizar os resultados alcançados: Que fatores, nomeadamente exógenos, influenciaram esses resultados? Como foram os resultados das outras equipas? E da empresa, como um todo? E dos principais concorrentes? E do mercado? Fazer esse exercício permite-nos muitas vezes sair da frustração e olhar com mais confiança e ânimo para o que conseguimos alcançar. Devemos procurar compreender o que nos levou a atingir um resultado menos bom e aprender para fazer diferente e melhor no futuro.
Voltando à minha corrida, são duas as lições que retirei: não descurar os treinos e ter mais atenção à forma como coloco os auriculares. Lições simples que, como as coisas simples, poderão ajudar-me a ter melhor performance para o ano.
E na sua empresa? Que lições pode retirar do facto de não ter atingido 100% dos resultados em 2022, sem que isso lhe cause frustração? E o que vai fazer para melhorar a sua performance em 2023?
Entre corridas e correrias, talvez valha a pena parar um pouco, olhar para o que foi o ano que está a terminar e preparar com confiança e alegria o ano que vai começar.
Boas Festas!