De que cor é o futuro do trabalho?

Por Teresa Espassandim, Psicóloga Especialista e Consultora

Encontra-se em consulta pública até 22 de Junho o Livro Verde sobre o futuro do trabalho, iniciativa do Governo que procura reflectir sobre os desafios que o trabalho já hoje trás e formular princípios e linhas orientadoras com vista a agilizar transformações essenciais e a estimular a promoção do trabalho digno e de qualificações estratégicas.

De forma generalizada, e após quase um ano e meio de vivência de pandemia, assistimos em maior ou menor grau a mudanças profundas nas formas de trabalho que aceleraram a expressão de um novo paradigma de trabalho cujas tendências estruturais insidiosamente se vinham a materializar, aproximando-nos de realidades e fenómenos que até então pareciam longínquos do nosso território. O trabalho à distância e o teletrabalho, o trabalho prestado através de plataformas digitais e a privacidade dão o mote a pensarmos em dimensões substanciais do trabalho que podem para uns centrar-se na regulamentação e para outros mais até nos recursos, processos e mudanças de culturas nas empresas, assentes na transição digital e na transição verde em marcha e sob a égide da recuperação económica-social.

São as pessoas a dimensão-chave para o futuro do trabalho, depois de décadas voltados para abstracções, folhas de cálculo de pretensa objectividade e falência de previsões, por uma gestão quase alienada da ciência comportamental. Hoje, vê-se e reconhece-se na prática, os impactos positivos nos negócios de suprir necessidades psicológicas básicas (Ryan and Deci, 1985) que conduzem a um sentido de integridade e bem-estar ou eudaimonia, como o desenvolvimento das pessoas e do seu sentido de competência (que transcende o tão críticos upskilling e reskilling, meios para a promoção da auto-eficácia e da aprendizagem ao longo da vida; conciliação entre a vida profissional, pessoal e familiar; segurança e saúde no trabalho e novos riscos psicossociais), o sentido de pertença e de relação com outros (inclusão, igualdade e não-discriminação) e a autonomia e a experienciação de lideranças apoiantes (que se afastam dos mecanismos de controlo excessivo e micro-gestão e potenciam a motivação intrínseca, a participação dos/as trabalhadores/as ao nível da decisão, a cultura de diálogo; a capacitação de dirigentes).

Para que o futuro do trabalho seja mais sustentável, ou seja verde, é incontornável que os locais de trabalho sejam assim potenciadores da auto-determinação das pessoas e da justiça e coesão social e, numa lógica de micro-, meso-, exo- e macro-sistemas tal como preconizado por Bronfenbrenner na sua Teoria Social Ecológica, influenciar e promover o desenvolvimento humano. De outra forma, o futuro do trabalho será cinzento ou até negro por que facilitador da pobreza e das desigualdades sociais, ao não serem mobilizadas positivamente e hoje as estruturas sociais da comunidade, sociedade, economia e política.