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Diferentes visões: o que retiramos da experiência COVID-19?
Por Vanda Vieira, Psicóloga Especialista em Psicologia do Trabalho, Social e das Organizações; em Psicologia da Educação; em Psicologia Vocacional e do Desenvolvimento da Carreira
Em 2020 a palavra mais pesquisada no Google foi Coranavírus Portugal. Em 2021, qual será?
Durante o período pandémico foram vários as reflexões e estudos realizados sobre o impacto da COVID-19 no nosso país. Os estudos são importantes, enquanto elementos enquadradores: ajudam à reflexão, analisam diferentes variáveis; permitem trabalhar combinações e retirar inferências; contribuem para o desenho de possíveis soluções, mas ao cidadão comum interessa sobretudo as medidas e as ações.
Desde as visões mais macro, como o trabalho realizado pelo Conselho Económico e Social (CES), uma publicação designada “COVID-19: Sair da Crise – Emprego, Apoios Sociais e Saúde”; até às análises mais micro, como o estudo realizado pelo CES – Centro de Estudos Sociais, da Universidade de Coimbra, e que teve como principal objetivo a divulgação e disseminação dos resultados recolhidos sobre o impacto da COVID-19 a nível individual e relacional, especificamente ao nível da conjugalidade/em indivíduos casados ou que vivem uma relação amorosa (Resultados Preliminares sobre Impacto Psicossocial da COVID-19 em Portugal). E poderíamos citar tantos outros bons exemplos.
As estatísticas também evidenciam mudanças e apoiam na compreensão do mundo em que vivemos. Um dado recente apresentado pela Sra. Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, prende-se com o menor número de desempregados inscritos nos centros de emprego, contabilizando-se um recuo de 23 mil em junho deste ano, face ao período homólogo em 2020, fruto das medidas tomadas pelo Governo para fazer travão às consequências nefastas da pandemia COVID-19. Por sua vez, segundo os dados Pordata: Números da Crise e da Pandemia, o indicador de confiança dos consumidores portugueses em junho de 2021 é de -12,6 e, apesar de negativo, também melhorou em comparação com o valor do ano passado que rondava os -25,7. Também sabemos que de 31 de março de 2020 a 14 de outubro de 2020 aumentaram os pedidos de lay-off, num total de 115.228; à data de 14 de outubro de 2020 eram 1.369.239 trabalhadores nesta situação. Quanto às remunerações dos trabalhadores envolvidos pelo lay-off simplificado (valores acumulados) somam-se 1.389,3 milhões de euros. Os valores apresentados referem-se ao número de entidades empregadoras, trabalhadores e à massa salarial das entidades empregadoras que entregaram documento de pedido de lay-off simplificado e não necessariamente ao número total de trabalhadores efetivamente em situação de lay-off.
Por muito estudos, previsões e recomendações que se façam, a realidade por vezes é bastante mais crua que os cenários apresentados. Em fevereiro de 2021 a DECO já alertava os portugueses que as moratórias do crédito hipotecário não durariam para sempre: previstas até setembro de 2020, foram renovadas até março de 2021, e posteriormente alargadas até setembro deste ano, ou no limite, até dezembro. Nesta perigosa equação entram ainda, nalguns casos, as moratórias privadas dos créditos ao consumo (com exceção dos financiamentos com as despesas de educação e formação), autênticos barris de pólvora para algumas famílias portuguesas endividadas. E apesar de todos os avisos, dicas, simuladores, redes de apoio ao consumo endividado, apelos à renegociação de crédito, existem sempre aquelas pessoas que infelizmente não vão conseguir pagar as suas dívidas porque perderam o seu emprego, ou têm um negócio próprio cujas despesas foram fortemente afectadas pela pandemia COVID-19, ou por outros factores associados, como a morte de familiares de quem dependiam financeiramente.
Também não é de estranhar que dentro dos beneficiários do RSI encontremos os “novos beneficiários”. Já não são apenas os portugueses que residem em bairros sociais; são as pessoas que trabalhavam nas funções e sectores mais afectados pela crise, como o turismo, o comércio e serviços, a restauração, a cultura, etc. Em maio de 2021, 39% dos beneficiários do Rendimento Social de Inserção (RSI) recebiam a prestação há mais de cinco anos, segundo dados oficiais que mostram que os novos beneficiários superam agora os regressos a este apoio social (Observador). Soluções milagrosas e receitas únicas não existem, mas estas pessoas devem ser apoiadas através de políticas de investimento na requalificação; manutenção das medidas de apoio ao emprego e à formação; alargamento da proteção social, com as medidas de proteção dos trabalhadores nos locais de trabalho (o teletrabalho, a justificação de faltas para acompanhamento de filhos com <12 anos; apoio aos migrantes e aumento das inspeções de trabalho).
Segundo a OIT – Organização Internacional do Trabalho, no documento Portugal: Uma análise rápida do impacto da COVID-19 na economia e no mercado de trabalho: “Políticas mais equitativas e sustentáveis contribuirão para aumentar a confiança do público nas instituições. Os políticos e decisores políticos poderão também retirar ensinamentos da experiência da pandemia de forma a tornar a economia e a sociedade mais inclusivas e sustentáveis. Uma comunicação frequente e aberta com os cidadãos, transparência, políticas bem fundamentadas, diálogo social e cooperação institucional conduziram a uma grande adesão e aceitação pela população das medidas de confinamento, sem escamotear divergências entre os atores políticos e os interesses divergentes em jogo. Apesar dos custos humanos e sociais, a pandemia oferece aos atores políticos em Portugal uma oportunidade única de elevar a confiança da população para um patamar superior” (2020).
Dois contributos relevantes:
A OPP – Ordem dos Psicólogos Portugueses disponibiliza um vasto leque de documentos de apoio, que podem ser consultados em: https://www.ordemdospsicologos.pt/pt/covid19/documentos_apoio
A OCC – Ordem dos Contabilistas Certificados disponibiliza no seu site um Arquivo Covid-19 e informação útil, legislação sobre os caminhos da retoma disponível em https://www.occ.pt/pt/noticias/os-caminhos-da-retoma-legislacao-e-informacoes-uteis/